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Parte II

A Língua Latina e Sua Força Sonora no Canto Gregoriano

Publicado

Autor/Imagem:
Marco Mammoli - Texto e Imagem

O latim não é apenas uma língua morta — é uma língua encantada. Nascida no Lácio, região da fundação de Roma, floresceu como a língua do Império Romano, dominando não só a administração e o direito, mas também a liturgia e a filosofia por mais de mil anos. Mesmo após a queda do império no século V, o latim continuou a ser o veículo da ciência, da teologia e da música sacra no Ocidente cristão. Sua fonética austera, composta por vogais puras e consoantes nítidas, dá ao latim uma clareza sonora que atravessa o tempo. No canto gregoriano o latim não é apenas compreendido, mas sentido.

A estrutura silábica do latim, quase matemática, permite um encaixe perfeito com os melismas gregorianos, onde cada sílaba carrega o peso do sagrado. Há, ainda, uma aura mística na sonoridade do latim: as palavras ecoam como encantamentos, não só pela repetição ritualística, mas pela própria tessitura fonética que favorece ressonâncias harmônicas. Essa combinação de pureza fonética e solenidade simbólica faz do latim, no contexto gregoriano, não uma simples língua de comunicação, mas um instrumento espiritual. Um canal sonoro entre o terreno e o eterno. Como escreveu o musicólogo Willi Apel, “o latim do canto gregoriano é menos uma língua falada do que uma língua cantada, um corpo vocal transfigurado pelo rito”. Sua sonoridade não só estrutura a música, mas eleva a alma, como se cada vocábulo fosse um degrau da escada rumo ao divino.

Além das preces, seu uso é tradicionalmente recomendado tanto nos rituais alquímicos e em diversas práticas contemporâneas por seu poder arquetípico e vibracional. Não por saudosismo, mas pela força vibratória que encerra, tal uma ferramenta mágica. Várias correntes esotéricas recomendam o uso do latim, pois alguns trabalhos alquímicos necessitam (ou exigem) seu o uso em preces, conjurações e orações. Na Tradição Hermética ele ainda usado em determinadas cerimonias. A justificativa é que a alquimia, principalmente a europeia, usa a língua latina devido sua consolidação ter ocorrido na Idade Média e o Renascimento, tempo em que o latim era a língua da ciência, religião e filosofia. Muitos tratados clássicos, como os de Paracelso, Flamel, Basil Valentine, Agrippa e outros, usavam o latim como forma de preservar o saber entre os “iniciados”. No esoterismo ocidental, o latim é visto como uma linguagem sagrada, carregada de séculos de uso mágico, místico e litúrgico como na Missa de São Pio V ou Missa Tradicional do Rito Romano de 1570.

Para muitos ocultistas, isso confere ao idioma um “peso” espiritual e vibracional maior, sugerindo o poder de amplificação das intenções do ritual ou da meditação. Esse poder se deve às vibrações sonoras que são emitidas durante as preces. Lembre-se que as preces, fórmulas, selos, conjurações entre outras, foram concebidas em latim. Textos alquímicos costumam usar latim em frases curtas ou conjurações em diagramas, mandalas, selos e orações. Por exemplo, nas expressões: Fiat Lux : Faça-se a luz, “Solve et Coagula”: Soltar e Coagular ou “Ora et Labora: “Reza e trabalha”. São várias as tradições modernas que continuam usando o latim em preces e rituais. O uso não é obrigatório, mas recomendado para manter a ligação com o “campo morfogenético” da tradição.

Temos inúmeros exemplos de fórmulas em latim como: “Adveniat Regnum Tuum, Fiat Voluntas Tua, Sicut in Caelo et in Terra. Amen”: Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa Vontade, assim na Terra como no Céu, frase famosa para o encerramento de rituais.

Ou para a invocação da luz e iluminação alquímica como: “Lux aeterna luceat nobis, transmutatio fiat, in nomine Veritatis.” : Que a luz eterna brilhe sobre nós, que a transmutação se realize, em nome da Verdade, outra frase conhecida nos meios da alquimia. Aqui temos uma oração simples que pode ser usada ao final dos trabalhos para o fechamento da egrégora sagrada, pós meditação, rituais ou reunião mesmo. Ela está no original e traduzida. Estruturalmente está ligada ao encerramento dos trabalhos da Magnum Opus. Vamos lá!

Oratio Alchemica Finalis (Oração Alquímica Final)
“Fiat Lux in Tenebris.
Ignis sacer, purifica cor meum.
Aqua caelestis, lava animam meam.
Terra sancta, sustine opus meum.
Aer divinus, inspira spiritum meum. Fiat transmutatio in nomine Veritatis.
Et sic, quod est superius sit sicut id quod est inferius. Amen. Et Amem. Et Amem.”

Tradução:
“Faça-se a Luz nas Trevas.
Fogo sagrado, purifica meu coração.
Água celeste, lava minha alma.
Terra santa, sustenta minha Obra.
Ar divino, inspira meu espírito. Que a transmutação se realize em nome da Verdade.
E assim, o que está acima seja como o que está abaixo. Amém. E Amém. E Amém.”

A estrutura da prece é simples, mas contém símbolos fortes e de poder. Ao evocar os quatro elemento alquímicos nos remete aos princípios herméticos de correspondência e ao final faz a consagração da Obra à luz e à verdade, que são os fundamentos da verdadeira alquimia. Boas preces!

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Marco Mammoli é Mestre Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas.

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