A nova cara da Anitta e a nossa velha insegurança

Nesta semana, a cantora Anitta publicou nas redes sociais o resultado de uma série de procedimentos estéticos. A nova harmonização facial deixou o rosto dela visivelmente mais fino, mais simétrico, mais jovem, mais tudo; digamos assim. As reações foram imediatas: elogios, memes, comparações, debates sobre beleza e autenticidade. Mas o que me chamou a atenção não foi exatamente a mudança em si, e sim o incômodo silencioso que muitas de nós sentimos ao ver esse tipo de transformação.

Não estou aqui pra julgar as escolhas da Anitta. De verdade. Ela é uma mulher adulta, dona de si, com recursos, liberdade e, provavelmente, com a mesma dose de insegurança que atravessa todas nós; só que com holofotes em cima. Se ela quer mudar o rosto dela, o cabelo, o corpo inteiro, tudo bem. É direito dela. A crítica não é essa.

O que me inquieta, na verdade, é o efeito colateral. Porque enquanto ela posta, segura, plena e padronizada, nós, mulheres comuns, olhamos no espelho e pensamos: “Meu rosto é largo demais?”, “Será que eu devia fazer alguma coisa?”, “Será que envelhecer ao natural é burrice hoje em dia?”.

A verdade é que a perfeição virou um projeto coletivo. Só que um projeto impossível de acompanhar pra quem vive a vida real; aquela com boleto, filho gripado, rotina puxada e espelho sem filtro. E aí, mesmo sabendo que é tudo ângulo, maquiagem, procedimento, luz boa e um tanto de Photoshop, a gente se compara. E perde.

Não estou aqui pra pregar o “seja natural a qualquer custo”. Nem o contrário. Só queria dizer que está tudo bem se a sua cara não parece com a da Anitta. Está tudo bem ter rugas, linhas de expressão, pele com textura. Está tudo bem se você quer mudar, e também se você quer permanecer exatamente como é.

Mas, acima de tudo, está mais do que na hora de pararmos de nos sentir menos só porque o mundo insiste em nos mostrar mais: mais magra, mais nova, mais simétrica, mais linda. Que tal sermos só mais gentis com a gente mesma? Isso, sim, seria revolucionário.