Curta nossa página


Coisas do Lago Sul

Abigail, aristocrata, mudou Madame Lola geral

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução

Abigail, nascida de cesárea, era filha única da finada Francesca, uma buldogue que acompanhou madame Lola, a matriarca da família Leclerc, tradicional ali no Lago Sul. Podre de rica, a velha não poupava para manter o conforto da sua cachorra. Aliás, madame Lola já havia despedido dois empregados que se atreveram a chamar a nobre Abigail de Bibi. Onde já e viu tamanha descompostura? Bibi?! Pois madame Lola, quase aos berros, sem perder a classe, dizia que Abigail não era Ferreira, mas Leclerc.

Abigail Leclerc mal pisava no chão e, quando o fazia, era para dar uma volta pelo amplo jardim daquela mansão, tão invejada até pelos mais ricos da mais rica região de Brasília. A cadela, assim como os herdeiros mais afortunados, possuía duas babás, além de cozinheira, manicure, estilista e guarda-costas pagos a peso de ouro. De tanta atenção que recebia, acabou por se tornar um pouco geniosa.

Durante suas festas de aniversário, todas comemoradas no dia dois de abril, alguns cães da vizinhança iam lhe fazer as honrarias. Abigail, apesar de ser a menor, sabia ser superior a todos. Tanto é que ela os olhava de cima para baixo, inclusive quando estava diante de Edgard, o enorme dogue alemão da família Medeiros. Até as pulgas sabiam se manter distantes daquele ser de sangue azul. Tanto é que a buldogue jamais havia se coçado ou, caso tivesse tido tal vontade, um dos serviçais o faria por ela.

Madame Lola amava a companhia da sua buldogue. Se estava na sala, Abigail estava ao seu lado no conforto do sofá. Se era hora de dormir, madame Lola nem precisava falar um ai com o servo de plantão. Bastava um olhar, que o empregado pegava Abigail com todo cuidado e a levava no colo até os aposentos reais.  Se fosse passar uma temporada em Paris, Abigail possuía até assento na primeira classe no avião.

Certa manhã, Irenilde, a cozinheira, precisou levar sua filha, a pequena Clara, para o trabalho. Madame Lola não se incomodou, mesmo porque não era tão má. Isto é, desde que a menina não passasse da cozinha. E foi o que aconteceu.

No decorrer do dia, Abigail, que dormia tranquilamente no sofá, escutou a fina voz da Clara. Curiosa, quis saber de quem era. Para espanto de madame Lola, Abigail desceu do sofá e foi caminhando até a cozinha, onde se deparou com a filha da empregada. De imediato teve vontade de saltar sobre a menina, que sorriu aquele sorriso de criança.

Foi um corre-corre daqui, um corre-corre dali. Madame Lola ficou espantada com aquela situação. Quis brigar com Irenilde, mandá-la embora por justa causa. Ainda mais porque logo a criança e Abigail já estavam no jardim, onde a brincadeira parecia não ter fim. Todavia, diante da alegria da cachorra, nada fez. Dizem até que madame Lola aprendeu com a Abigail. Ela também desceu do seu pedestal. Além do mais, não raro, agora a velha ajuda a menina a catar algumas pulgas da Bibi.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência Estadão, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.