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Gama x Sobradinho

Ademar, o ostentador, faz inveja com o velho Celta

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Ademar, exibido que era, carregava nos lábios uma máxima inexorável: ostentação é sinônimo de vencer na vida. E não pense você que precisava ser coisa grande para que o sujeito fizesse aquele alarde para ter certeza de que todos, num raio de cinco quilômetros, soubesse da sua façanha.

— Ademar, você não prefere ficar em casa hoje? O Gama vai jogar.

— E eu não sei, mulher?

— Pois, então?

— Pois, então o quê?

— Não é melhor ver o seu time do coração pela televisão?

— Hum!

— Então?

— Vou ao mercado comprar cerveja.

— E pra que tá levando as chaves do carro?

— Hum!

— Ademar, meu amor, o mercado é aqui em frente.

Não adiantou a esposa argumentar, pois o homem saiu de carro, deu três voltas pelo quarteirão para que todos pudessem babar de inveja do novo carrão do morador mais vaidoso da região. Um Celta usado, é verdade, mas, mesmo assim, um Celta quatro portas, com vidro fumê e um adesivo da Sociedade Esportiva do Gama, maior agremiação futebolística do Distrito Federal.

Quer mais? E você acredita que o Ademar mandou trocar a buzina original por uma de apito de navio? Não resta dúvida, o gajo era determinado. Tanto é que, a cada buzinada, acenava para os atônitos transeuntes, que não poupavam comentários.

— Que maluco é aquele?

— Ah, é o Ademar, marido da dona Joana.

— O megalomaníaco?

— O próprio.

Ademar, finalmente, estacionou o possante em frente ao mercado. Desceu lentamente, retirou os óculos escuros, como se estivesse participando de um filme de Hollywood. O próprio James Bond. E, antes de entrar no estabelecimento comercial, virou o rosto para dar mais uma olhada na relíquia de cor vermelha. Deu uma última olhada ao redor, sorriu e, então, adentrou no recinto.

Diante da promoção, escolheu a marca mais barata. Uma dúzia de latinhas, além de um quilo de acém. Afinal, era dia de clássico: Gama x Sobradinho.

Pagou a conta e, já na calçada, encarou novamente a máquina estacionada. Estufou o peito, acionou o controle para abrir a porta e, então, entrou no Celta. Depositou as duas sacolas de plástico sobre o banco do passageiro.

Ajeitou o retrovisor, colocou a chave na ignição e… Nada! Virou novamente e, para sua surpresa, nem mesmo sinal de vida do motor.

Ademar, olhos arregalados, começou a suar frio. Foi aí que constatou que a bateria havia arriado. Por sorte, dois jovens parrudos que passavam por ali ajudaram a empurrar o Celta, que pegou no tranco. O motorista acenou para os salvadores da pátria e, então, tratou de voltar para casa, que ficava do outro lado da rua.

O homem preferiu guardar segredo sobre o ocorrido. Não iria dar o braço a torcer justamente para a esposa. Pelo menos, Ademar estava certo de que o Gama massacraria o adversário logo mais, coisa que não aconteceu. Foi um magro zero a zero. Ao menos, a cerveja, mesmo não sendo da marca mais afamada, fez uma bela dobradinha com a carne preparada na churrasqueira elétrica.

…………..

Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’

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