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Papai Noel não decolou do Planalto

Adversários de Bolsonaro armam resposta ao presente que não veio

Publicado

Autor/Imagem:
Marc Arnoldi

Copiado em parte sobre o estadunidense, o calendário eleitoral brasileiro traz, de quatro em quatro anos, algo mais que a visita do bom velhinho, o calvário do peru, os amigos não tão secretos e as filas para trocar presentes no dia 26. A festa de Reveillon, particularmente em Brasília, é um pouco mais contida porque, de manhã no Buriti e à tarde no Planalto, novos ocupantes chegam para tomar conta.

E vários, não só da classe política, não se incomodam em acotovelar-se para chegar ao Santo Graal do dia: tirar foto com o novo manda chuva, o portador da caneta mágica que vai garantir emprego para no mínimo 5 mil comissionados no DF, mais de 20 mil no Governo Federal.

Enquanto os tradicionais votos de Natal, os cartões agora whatsappizados apelam para os bons sentimentos, felicidade e prosperidade, saúde e aconchego familiar, quando não a paz mundial, Papai Noel cansa suas renas percorrendo as casas onde seus ajudantes passaram as últimas horas nos shoppings da cidade. Roupas, smartphones, calçados, os pedidos mudam conforme as modas, mas representam também o tal verdadeiro sentimento da data.

Sem perder de vista a comemoração do nascimento do menino Jesus, não há porque estar constrangido no aspecto comercial.

Em nosso mundo capitalista, o presente não traz felicidade somente a quem o recebe e a quem o oferece. Também ganham o vendedor, o comerciante, o distribuidor, o fabricante. Num país de 13 milhões de desempregados, não é pouco. Até o Erário, com suas taxas e impostos, lucra no Natal. Resta a saber o que ele vai fazer com isso.

Então é Natal. E o que nós fizemos? Em outubro passado, apostamos. Mais uma vez, o Brasil está preste a entrar em nova era. Ou pelo menos, num novo momento. No período pós-redemocratização, é a terceira vez que as rédeas do Executivo caem em mãos carregadas de esperança popular. A experiência Collor foi traumática, o reinado Lula controverso, a reviravolta Bolsonaro nasceu polêmica.

A figura de Salvador da Pátria primeiramente pairou sobre o dinâmico e controverso Governador de Alagoas, jovem caçador de marajás, prometendo botar a cara do Brasil no mundo e entrar no Século XX de vez antes que ele terminasse. Sucumbiu na política velha. No Congresso de costumes viciados. Nos amigos ávidos.

Lula também trouxe a esperança na rampa do Palácio. Subiu já com alguns opositores, mas carregado pelo entusiasmo popular. A democracia plena, expressa na alternância de poder. Uma trajetória de vida bem mais próxima da maioria dos brasileiros do que as “almofadinhas” que o precederam. Chegou já consciente dos obstáculos no Legislativo. E da força do prédio das duas cúpulas. Afinal, tinha participado ativamente da derrubada do Presidente “legitimamente eleito”. E, ao mesmo tempo, tinha caído nas graças do eleitor-contribuinte cansado de sustentar os “300 picaretas”.

Ao cabo de oito anos de mandato, sem reformas, sem mudanças substanciais, guardou uma popularidade importante, mas alinhou-se ao que denunciava. Foi engolido, voluntariamente, pelo sistema. Só sua retórica e seu carisma fizeram dele “o cara” destacado por um hilário Barack Obama. O cara que faz uma política econômica neoliberal de juros altos permitindo aos mais ricos duplicar, triplicar seus ganhos, e ao mesmo tempo é aplaudido como uma nova liderança mundial de esquerda.

Não se sabe o que havia na caixa de presentes de Jair Bolsonaro. Apesar de uma legião de fãs, é o Presidente da República que chega ao poder com o maior contingente de adversários. E de inimigos. Até mortais fisicamente, como a tentativa de assassinato que ele enfrentou. É pouco provável que Papai Noel tenha trazido uma trégua na campanha política, que não terminou para muitos. As elites não admitem o resultado da eleição. E pagam para ver se o energúmeno vai seguir o mesmo caminho dos dois predecessores citados. Vai amansar e entrar no jogo.

O campo do contra engrossou desde outubro. Além da legítima oposição político-partidária, setores da imprensa acostumados a viver bem do dinheiro público não gostaram do corte de perto da metade do orçamento da Secretaria de Comunicação. Também líderes partidários, nomes carimbados das Casas não suportaram os encontros que o futuro Presidente teve pessoalmente com Senadores e Deputados. Eles querem negociações no atacado, não no varejo.

Acostumados a vender os votos de suas tropas amestradas, Papai Noel versão 2018 não trouxe, como de costume, uma direção de estatal ou de departamento de ministério no seu saco de bondade. Estão preparando o troco.

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