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‘Aliança’ pode ser arma contra os soldados de JB

Publicado

Autor/Imagem:
Ka Ferriche

Cada vez mais, o Brasil consagra o adjetivo “partido” para designar suas agremiações políticas. Ao contrário do que deveria ser, ou seja, um grupo de pessoas que somam a mesma opinião e valores, os partidos políticos nacionais reúnem os desiguais em interesses que vão além da organização social. No TSE estão registrados 32 agremiações (já consideradas as recentes fusões de nanicos), sendo que os três mais recentes obtiveram homologação em 2015: Novo, Rede e PMB.

Aqueles que consideram um número excessivo de partidos, anotem: existem 76 em formação, sem contar com o Aliança pelo Brasil, da família Bolsonaro. Todos em busca de 500 mil assinaturas em nove Estados, mínimo para obter o registro. Ou seja, serão necessários 38,5 milhões de eleitores regularizados para atingirmos a marca recorde de país com o maior número de partidos, exatos 109, agora incluindo o do capitão.

O Partido Social Liberal – PSL, pelo qual Jair Bolsonaro foi eleito, existe há 21 anos, comandado por Luciano Bivar, recentemente apontado como inimigo número um do Planalto. O PSL, que tem a segunda maior bancada na Câmara, com 53 deputados, está partido. O futuro Aliança pelo Brasil jura que vai levar 27 deles para as suas fileiras. Mesmo que isso seja possível, Bivar terá ainda um dos dez maiores partidos e seguirá seu caminho sem maiores problemas. Talvez tenha, inclusive, menos problemas.

A divergência do criador do PSL com a criatura, pode ser resumida em um número: 1 bilhão de reais. Essa é a conta dos recursos previstos ao PSL nos próximos anos até as eleições de 2020/22. De olho nessa montanha de dinheiro público estão o senador Flávio Bolsonaro (sem partido), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (sem opção) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (sem noção).

O mais emblemático é o exemplo deixado por Bolsonaro pai sobre as relações parlamentares no Brasil. Até agora, nenhuma acusação foi registrada de deslealdade de Bivar sobre o acordo que fez com o ex-ministro Gustavo Bebianno, ao entregar a este o PSL para abrigar o capitão e, por meio dele, chegar ao Palácio do Planalto. Ao contrário, Bebianno aponta como raro no meio político o comportamento do fundador do partido, que entregou as chaves da sua casa onde Bolsonaro dormiu candidato e acordou presidente.

Luciano Bivar, após manter a agremiação por duas décadas sem quaisquer contratempos, recebeu a Polícia Federal em busca de irregularidades. Nada que outros 18 partidos também tenham cometido. Outra estranheza é a conta feita pela acusação que divide o número de votos obtidos pela verba partidária utilizada em campanha. Uma conta que não existe. Qualquer ser minimamente esclarecido sabe que eleições representam uma incógnita. Milhares de exemplos estão na história do TSE. Candidatos considerados eleitos, donos de grandes verbas, perderam a eleição. Outros milhares, sem recursos, obtiveram êxito. Não há como determinar o valor/voto.

Outra falácia é a cota de mulheres (de novo o famigerado sistema de cotas). Não que ela seja prejudicial, mas é uma meta irreal, a demanda é muito maior que a oferta. Mulheres pouco têm interesse em política, fenômeno que vem mudando, felizmente, mas é tímido o engajamento delas.

O PSL resume conceitualmente aquilo que os eleitores de Bolsonaro imaginam para o Brasil: igualdade de oportunidades. Bivar sempre foi PSL, enquanto o capitão, se conseguir o registro relâmpago do seu Aliança, terá ingressado em seu 9º partido político. Bivar poderá fortalecer sua agremiação, defender as boas ações do governo no Congresso, criticar o que deve ser criticado, e conquistar uma lacuna existente no cenário político nacional, composta por eleitores de Bolsonaro que torcem para que as iniciativas de seus competentes ministros tenham sucesso.

Mas não gostam de ingratidão. Para boa parte de eleitores de Bolsonaro, tuitadas e bravatas constantes são desnecessárias. A sucessão de ataques aos seus próprios apoiadores, a desconfiança em tudo e todos, são venenos que contaminam as conquistas necessárias. O PT consegue atrair outros 10 partidos para o jantar dos desesperados, onde não veremos ataques públicos entre eles. O Aliança, que talvez venha a ser o PSTU da direita, terá capacidade de agregar e conquistar parcerias, depois do exemplo deixado? Mesmo com a caneta azul em mãos, até o momento o que vimos foi o capitão atirar com ela em seus próprios soldados.

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