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Cárcere ou pocilga?

Almerindo viveu esquecido na masmorra por uma pedrada

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Ninguém mais se lembrava por que aquele velho caquético teria sido jogado, há muito, naquela cela. Mas se estava ali, que ficasse até apodrecer. Que se saiba, ninguém foi lá reclamar. Preso aos 18 anos, que permanecesse até os 100, caso vivesse isso tudo. Pura escória!

E foi nesse estado de penúria que tal homem recebeu a visita da assistente social Irenilde. A mulher quase não percebeu que havia gente naquele chiqueiro, até que ouviu um gemido vindo lá do fundo. Ela parou, tampou o nariz por conta do fedor, apertou os olhos e, finalmente, conseguiu enxergar a figura de um ser humano.

— Almerindo? O senhor é Almerindo das Chagas?

Nenhuma resposta. Irenilde virou-se para o carcereiro ao lado e pediu para que abrisse a cela. O homem lhe lançou um olhar de reprovação. No entanto, a assistente social manteve-se firme na sua decisão.

Já próxima àquele ser deitado no chão imundo e frio da masmorra, Irenilde não acreditava que aquilo fosse possível. Por que aquele homem estava ali naquelas condições sub-humanas?

— O nome do senhor é Almerindo das Chagas?

Pela primeira vez, o velho olhou para Irenilde. Os dois se encararam por um momento, até que ele virou novamente o rosto e voltou a cobri-lo com as mãos rotas.

— Senhor, preciso saber se o seu nome é Almerindo das Chagas.

— Almerindo?

— Sim. O senhor é Almerindo das Chagas?

— Almerindo já morreu.

— E quem é o senhor?

— Sou o governo dos Estados Unidos.

Irenilde suspirou aliviada. Estava diante do homem por quem tanto procurava há meses. Louco, é verdade. Todavia, insanidade pior foi a que Almerindo das Chagas havia sido submetido. Sentenciado à morte pelo crime de lesão corporal. Tudo por conta de uma lasquinha de pedra que jogou em um ciclista, que ralou o cotovelo no asfalto. Ralou de leve. Mas ralou!

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