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Frutas e sombras

Ambientalistas sugerem trocar árvores centenárias por fruteiras nordestinas

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Paulus Bakokebas, especial para Notibras - Foto Produção da Editoria de Artes/IA

Numa assembleia urgente convocada sob a sombra de um majestoso baobá em extinção, os ambientalistas do Novo Nordeste Verdejante, um coletivo que mistura permacultura com coaching holístico, lançaram uma proposta revolucionária: substituir todas as árvores centenárias das capitais nordestinas por mudas de frutas da região. “Pé de jambo é bonito, mas e a função social da manga?”, questionou Solange Guaibê, coordenadora da iniciativa “Frutificar é Preciso”.

Segundo os entusiastas da ideia, além de combater a insegurança alimentar, a medida também reduziria a ansiedade urbana. “Quem nunca se acalmou olhando um cacho de banana amadurecendo?”, argumentou Zenivaldo, um ex-cabelereiro de Salvador que largou tudo para viver de acerola e mantras.

A proposta prevê que os flamboyants de Aracaju deem lugar a cajaraneiras, as gameleiras de Natal a goiabeiras, e os ipês de Fortaleza a abacateiros robustos. Em Recife, os paus-d’arco históricos seriam substituídos por pés de jaca – gerando entusiasmo e preocupação. “Jaca é sustentável até cair na cabeça de um turista”, alertou o guia Edmilson, com a sabedoria de quem já presenciou o caos que uma jaca madura pode causar num city tour.

Houve quem criticasse o projeto. “As árvores antigas contam histórias, resistiram a enchentes, secas, prefeitos”, disse Dona Amelinha, 92 anos, que planta um limoeiro no quintal mas chora ao ver um tamboril ser arrancado. Já o prefeito de uma dessas capitais, entusiasmado, propôs um “Frutômetro Cidadão”, aplicativo onde o munícipe poderá avaliar o sabor da fruta e pontuar com estrelas: “Queremos engajamento e vitamina C!”, disse em coletiva.

Especialistas em urbanismo alertam que, além da perda da biodiversidade e da memória vegetal, o plano não considera o fato de que frutas atraem bichos, e bichos fazem cocô. “Pensem nos pombos e nos morcegos! Isso aqui vai virar um suco urbano fermentado ao sol”, advertiu a bióloga Clarissa, entre soluços e planilhas.

Enquanto o debate esquenta, uma rede de fast-food vegano anunciou que pretende “adotar” uma pracinha e transformar seus cajus em snacks de temporada. Já nas redes sociais, influenciadores sustentáveis fazem lives colhendo manga com filtro sépia e hashtags como #ÁrvoreComestívelÉAmor.

E assim segue o projeto: entre o delírio frutífero e a poda da memória. Porque no Nordeste, até a sombra pode virar vitamina.

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