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Fenomenologia

Arquitetas trabalham com resgate da memória afetiva

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Autor/Imagem:
Carolina Paiva, Edição

Mais do que oferecer um ambiente elegante e funcional, os trabalhos de arquitetura e design de interiores desenvolvidos pelas arquitetas Leny Okada e Priscila Bonifácio permitem uma mudança de vida para os clientes. Utilizando o método Diagrama de Demanda Qualitativa, criado pelo arquiteto holandês Ewoud Van Schaijk, a dupla aplica a Fenomenologia Prática, que é o estudo da experiência subjetiva de consciência, cujas técnicas são voltadas para promover, além do bem-estar físico, o bem-estar emocional dos usuários. As arquitetas tiveram contato com Ewoud ainda na faculdade. Depois de formadas, continuaram em parceria em alguns projetos e atualmente são as únicas licenciadas a utilizar o método no Brasil.

“Abraçamos essa missão profissional que vai além de elaborar projetos. Proporcionamos um espaço físico onde o cliente sinta-se abraçado e se identifique”, diz Priscila. O desenvolvimento do Diagrama é um processo de pesquisa feito junto ao cliente antes da criação do projeto de forma colaborativa, no qual ele faça parte do processo de criação.

“É a primeira etapa do trabalho, onde buscamos todas as informações sobre as necessidades dos clientes atrelado às expectativas e parâmetros fenomenológicos (experiências, medos, sonhos) da vivência de cada um. O objetivo final é fazer um trabalho onde o cliente possa se identificar com o espaço de maneira emocional”, explica Leny.

“Quando o cliente chega até nós, ele geralmente vem com uma ideia pronta que ele provavelmente viu em algum outro lugar (site, casa de alguém, etc). Não necessariamente, essa ideia reflete de fato aquilo que ele precisa. Muitas vezes é uma forma que ele encontrou de exteriorizar algo que acredita que ele queira, um tipo de projeção”, afirma Priscila. Mas o problema, segundo as arquitetas, é que essas ideias prontas solicitadas pelo cliente imediatamente eliminam uma infinidade de outras possibilidades do projeto dele, onde, provavelmente, uma delas o faria muito mais feliz e satisfeito do que a que ele escolheu.

O que o Diagrama faz é tentar tirar o foco da solução pronta e tentar fazer o cliente focar naquilo que ele busca, no caminho de sua realização pessoal, de suas questões existenciais. “Com isso, ele consegue liberar informações valiosas que dizem respeito à sua essência, suas memórias e desejos. Com essa bagagem informativa, nós conseguimos propor um conceito com muito mais significado e com o qual o cliente se identifica muito mais”, conta Leny.

Pela experiência das arquitetas, há uma grande probabilidade de que pessoas que não passam por esse processo, finalizem a obra infelizes e insatisfeitas com o resultado final. “Por mais que o projeto seja maravilhoso, o cliente continua infeliz por não se identificar com a arquitetura final. E isso é uma frustração imensa, uma enorme decepção”, afirma Priscila.

Memórias afetivas
Entre os clientes já atendidos pelas arquitetas, um casal com uma filha pequena se destaca. O pai tem uma memória muito feliz da infância, época em que se reunia com muitos primos para dormirem todos juntos na sala, em uma chácara da família. O encontro rendia boas gargalhadas e o desejo desse pai é que a filha possa ter essas lembranças da infância também. Atualmente eles moram em apartamento, o que limita um pouco essas experiências.

“Durante os encontros que fizemos com esse cliente, percebemos que ele estava muito ligado à infância e conseguimos resgatar a memória afetiva dele e colocamos isso no projeto”, afirma Priscila.

As arquitetas explicam que os clientes que procuram por elas já sabem desse diferencial nos projetos. São clientes que tem, além de uma necessidade física, uma necessidade emocional de identificação e pertencimento com o espaço a ser construído.

“Extraímos a essência do cliente, definimos suas demandas emocionais para o espaço e descobrimos quais as questões existenciais o cliente busca solucionar na arquitetura. Trata- se de garantir que o cliente obterá exatamente aquilo que ele inconscientemente sente, e não aquilo que ele superficialmente deseja”, diz Leny.

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