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Arruda conversa sobre desistência. Se sair da disputa, apoiará Eliana

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Uma nova engenharia política está se desenhando na sucessão brasiliense. Começou a ganhar contornos após o ex-governador governador José Roberto Arruda (PR) perder de goleada o recurso encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral.

Arruda não digeriu alguns episódios que antecederam a votação. Está desgostoso com alguns caciques que o cercam. São velhos aliados que lhe deram as costas ao longo dos últimos quatro anos, e que agora fazem as vezes de neoarrudistas para pegar carona na escalada eleitoral dele.

Ninguém no comitê do candidato do PR se atreve a nominar os traidores. Mas suspeitam diretamente de Gim Argello (PTB) e de Alberto Fraga (DEM). O nome de Luiz Pitiman (PSDB), o candidato que não conseguiu alçar voo, também está sob suspeição.

A esse trio, no todo ou individualmente, está sendo atribuída a campanha, que o ex-governador considera acintosa, para que Arruda desista imediatamente dos recursos na Justiça e abandone a ideia de se manter na disputa.

O argumento é o de que a aliança com Gim e Fraga está se enfraquecendo aos olhos da opinião pública. Arruda, dizem, é alvo de ataques que prenunciam sua derrocada política. E uma eventual queda dele levaria de rodo o corretor que ficou rico e o coronel que defende ferro e fogo para os criminosos.

A campanha contra o candidato do PR tomou vulto nas últimas 72 horas. Figuras do seu círculo político que agem no anonimato por temerem represálias no caso de o golpe ‘sai Arruda’ soçobrar, propagam uma iminente jogada de toalha. Mas se isso, por mais improvável que seja, vier a acontecer, o nome que ele tirará do colete será outro.

Identificadas as pedras no sapato e na ressaca do resultado do TSE, Arruda admite que as chances de ter a candidatura liberada pelo Supremo diminuem a cada dia. Ele corre contra o relógio, mas sabe que o tempo, no caso dele, não é eterno. E deu-se um auto-prazo, que vence no dia 10 de setembro. Até lá, se os ventos não mudarem, ele anuncia que sai definitivamente da disputa.

Porém, como é visto hoje como o maior colecionador de votos no Distrito Federal, Arruda vai escolher meticulosamente a quem apoiar. Não será ninguém da aliança formalizada pelo PR. Muito menos Luiz Pitiman. O ex-governador vai apostar as fichas em uma fiel companheira e escudeira. Trata-se da deputada Eliana Pedrosa (PPS), a quem desejava como vice na chapa dele.

É aí que entra a engenharia política. Para Eliana ser alçada à condição de cabeça de chapa, é preciso que Pitiman abandone a candidatura. Pode ser o vice da companheira de coligação ou substituir a candidata ao Senado Sandra Quezado (PSDB). Com uma eventual desistência, só lhe restaria um lugar na chapa majoritária.

A negociação no âmbito da aliança que congrega o PPS de Eliana e o PSDB de Pitiman, passa por conversas que andam adiantadas. A questão é remover Pitiman. E demover o tucano de permanecer insistindo na candidatura é uma missão que envolve negociações em Brasília, Rio, São Paulo e Minas.

No ninho tucano, além do próprio Pitiman, são citados como fortes para fechar a chapa majoritária os nomes do deputado Izalci Lucas e Eduardo Jorge, presidente regional do PSDB. Arruda quer conversar com todos. Como também quer uma longa troca de ideias ao pé do ouvido com o senador Aécio Neves, que concorre ao Planalto pelo mesmo PSDB.

Fazer com que Luiz Pitiman desista de se manter na disputa é fácil. Afinal, ele não consegue sair de um dígito nas pesquisas eleitorais. E à medida em que Aécio perde pontos no Ibope, Datafolha e outros institutos, a derrocada do candidato tucano ao Palácio do Buriti se torna mais evidente.

O quadro na aliança PPS-PSDB-PSD-SDD é esse. Nomes para ocuparem o lugar de vice de Eliana Pedrosa não faltam. Porém, a aposta maior é em Eduardo Jorge. Ex-chefe da Casa Civil de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República, ele transita livremente na alta plumagem tucana. E tem na agenda os telefones de muita gente de peso capaz de contribuir financeiramente com a campanha.

Arrruda não confia em Pitiman, que bateu na porta da viúva antes de o defunto ser oficializado pela Justiça Eleitoral. E está muito irritado com Gim Argello e Alberto Fraga. Entretanto, como não é de guardar mágoas, tem acenado, nessa engenharia que ele mesmo tomou a frente, com uma ampla composição em caso de vitória da nova chapa.

Fraga, eleito deputado federal, voltaria à Secretaria de Transportes, área que ele conhece como a palma da mão. Gim, que tem uma candidatura natimorta na briga pela reeleição ao Senado, ficaria com a Secretaria de Desenvolvimento. E Pitiman, comandaria a Secretaria de Obras, para passar na cara do seu desafeto Agnelo Queiroz (PT), o que sabe fazer.

Resta o outro lado. Ou melhor, o lado da coalizão encabeçada pelo próprio Arruda. O vice Jofran Frejat (PR), numa suposta desistência do titular da chapa, ficaria em primeiro plano, mas não teria o apoio do ex-governador na campanha. Para ele, estaria garantida a Secretaria de Saúde.

Não se sabe ainda o que Joaquim Roriz e Luiz Estevão, os caciques do PRTB que costuraram e apostaram numa vitória de José Roberto Arruda, andam pensando sobre o assunto. Há quem sustente, contudo, que se for para manter a hegemonia do grupo político que representam, abraçarão a ideia com toda a sua energia.

Eduardo Jorge já admite que errou ao insistir no nome de Pitiman. E vê com bons olhos a possibilidade de ser vice de Eliana Pedrosa. Aécio Neves, sondado, abriu um sorriso. Sabe que, tendo um palanque patrocinado por Arruda e Eliana, subirá nas pesquisas em Brasília. E como a capital da República faz as vezes de termômetro do cenário sucessório nacional, tal mudança terá um efeito dominó, revertendo o quadro de queda nas pesquisas.

Os próximos 10 dias serão cruciais para uma guinada na sucessão ao Palácio do Buriti. Arruda pode até ganhar na Justiça. E tudo o que foi escrito aqui, fica sem efeito. Mas se acontecer, como muito se tem especulado, de ele abdicar da candidatura, o nome a ser apoiado será o de Eliana. O Dia D está agendado. A engenharia tem alicerces fortes. E Arruda, como engenheiro, sabe o que faz.

José Seabra*

*Texto corrigido às 9h38, com participação de Felipe Meirelles

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