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Falta de postura

Banalizado pelo bolsonarismo, nome de Deus ainda tem poder

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução

Difícil, muito difícil não comparar o atual governo com algo que ultrapassa todos os limites da normalidade e da sensatez. Na verdade, nada mais surreal do que assistir em rede nacional um presidente da República tentando “tomar” na mão grande o celular de um youtuber que, no meio do covil bolsonarista, teve coragem de peitar a turba. Youtuber ou seja lá o que for, pelo menos o cidadão mostrou a cara. Não se escondeu no anonimato das redes sociais, como fazem os covardes defensores do mito. Por mais que tenha se excedido no tchutchuca, trata-se de um contribuinte inconformado com a situação do país e que estava ali apenas para se manifestar contra o que ele e a maioria dos brasileiros acham pra lá de errado. O conselho para quem não está preparado para ouvir o que incomoda é simples: faça a coisa certa.

É verdadeiramente triste, ilógico e incompatível com a liturgia do cargo um mandatário descer a esse nível. Esse líder que perde a compostura como a ferocidade de um leão faminto é o mesmo que opera e estimula seus seguidores a atacar a honra e a família de seus adversários, particularmente de seu principal oponente. O problema é que, fanática e satanicamente, eles atendem. O desafio de tirar o Brasil da miséria e do abandono foi definitivamente esquecido. Talvez nunca tenha sido lembrado. São essas coisas que, de vez em quando, me fazem viajar na maionese com babosa. Por exemplo, se tivesse alguma mediunidade ou o dom de conversar com Deus, certamente eu perguntaria a Ele a razão pela qual há um povo falando e fazendo um monte de besteira em nome do poder.

Escorrego nessa mistura louca e ouço a razão para informar que melhor eu me recolher e sequer me imaginar fazendo a pergunta, pois a resposta não me surpreenderia. Companheira de longa data, a consciência normalmente fala mais alto e me traz de volta à realidade. Qual a realidade? A da certeza de que a choldra que banalizou o nome de Deus não tem solução. Claro que me refiro à turma que odeia liberdades, abomina a democracia e aposta no caos. Obviamente que não é coincidência alguma, mas é o mesmo ajuntamento que “trabalha” dia e noite para reeleger Jair Messias. Trabalhar não é bem o termo. Melhor dizer que a congregação passa dia e noite tentando novas mentiras para converter o povão e, de quebra, jogar o Brasil do penhasco mais alto no abismo mais profundo.

Incluindo negociar a própria alma com o diabão, a turma do cercadinho fará qualquer tipo de negócio escuso para se manter na ribalta. O país está no osso, mas, enquanto houver um fiapo de carne no orçamento público, lá estarão os apoiadores de ocasião e os fanáticos que vivem para reverter fatos e inventar factoides contra adversários. Só eles são bons. Só eles se acham protegidos. Como não perguntei, nada saberei sobre o futuro dos embusteiros. O que temos de concreto é que a administração do mito fez água. De tão barrenta, não há cloro que consiga melhorar a qualidade dessa água. Para os enlameadores, pouco importa. Quanto mais escura, melhor. Será o medo de perder uma reeleição que eles juraram que estava ganha desde 1º. de janeiro de 2019?

Provavelmente, sim. É aquela velha história de que o medo de perder tira a vontade de ganhar. Nada mais verdadeiro, considerando que os defensores da campanha varejista de Bolsonaro, incluindo os marqueteiros (?), fazem de tudo para desmerecer uma eventual vitória. O que tocam se transforma em sacanagem. Por onde passam destilam ódio. Pior é o que dizem. O que ainda sobra vira pó e se perde no ar. A nova sacanagem criminosa atribuída ao grupelho que atua para a campanha presidencial que atende pelo número 22 também utiliza as redes sociais. Refiro-me ao deepfake, uma técnica que permite mostrar o rosto de uma pessoa em fotos e vídeos alterados com ajuda artificial. Na prática, o mecanismo é utilizado para distorcer de forma grosseira a realidade.

Um desses deepfakes mostra pesquisa falsa na voz da jornalista global Renata Vasconcellos. A montagem revela uma diferença positiva de 12 pontos para Bolsonaro contra Lula. Manipulados pela milícia digital do bolsonarismo, os dados são referentes a uma pesquisa indicando 44% das intenções de votos para Luiz Inácio e 32% para Jair Messias. Ou seja, exatamente o contrário da nova modalidade de fake. Como o Deus de todos não dorme, o mesmo Datafolha divulgou nessa quinta-feira que Lula chegou a 47%. Já Bolsonaro permaneceu nos 32%. Conforme a consulta, o petista tem 51% dos votos válidos e mantém a chance de vencer no primeiro turno. Em síntese, banalizaram o nome de Deus, mas a justiça Dele não falha. O nome de Deus ainda tem poder.

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