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O crime compensa

Bandido rico no Brasil é pé na areia, caipirinha, água de coco e ‘loirinha’

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Autor/Imagem:
Misael Igreja - Foto de Arquivo

Normalmente feitas para proteger os poderosos, as leis brasileiras permitem tantos penduricalhos e outras tantas interpretações que, no fim e ao cabo, conforme o jargão jurídico, acaba prevalecendo a máxima de que, no Brasil de ontem, de hoje e de sempre, o crime realmente compensa. No mínimo, vale a pena ser desonesto. A proposta de anistia aos bárbaros de 8 de janeiro de 2023 mostrou que, quando o rabo está preso, parlamentares da esquerda se unem aos da esquerda sem qualquer preocupação com os eleitores com os quais são ideologicamente afinados.

Quase discutido e votado a toque de caixa, o projeto apresentado pela ultradireita supostamente livraria da cadeia todos os envolvidos no planejamento, organização e execução da trama golpista. Supostamente, porque o objetivo final era liberar Jair Bolsonaro de todo tipo de acusação, inclusive o de líder do fracassado golpe. Como se fosse um golpe no golpe, não à toa a urgência da proposição recebeu adesão de numerosos deputados da esquerda (leia-se PT e agregados), muitos deles antigos devedores da Justiça. Brincadeira de mau gosto? Claro que não! É apenas a comprovação de que o corporativismo está muito acima das prioridades coletivas.

E assim caminha o Congresso Nacional rumo à vergonha nacional. Só os asnos, os tarados pelos foras da lei ou os fanáticos pela tirania não percebem que o engavetado projeto de lei absolveria desde os simpatizantes e mandantes do levante que não houve até maus policiais, falsos profetas e batedores de carteira travestidos de homens públicos. Na melhor das hipóteses, a insana tese de anistia a terroristas e seus fantasiados defensores é a prova definitiva de que, atualmente, as duas casas do Congresso não têm nenhum compromisso com a democracia. Já tiveram em épocas remotas.

O leque de leis contrárias ao regime democrático e em favor dos malfeitores é o sinal mais evidente do que o Brasil inteiro testemunha há décadas. Com aliados de peso nos legislativos federal, estaduais e municipais, os criminosos comuns e, sobretudo, os de colarinho branco têm certeza da desproporcionalidade entre ser honesto, ser desonesto e apenas parecer honesto. Tomara que as futuras gerações pensem melhor sobre o que querem para o país. Quem sabe um dia elas elegem presidentes, deputados, senadores, governadores, prefeitos e vereadores verdadeiramente nacionalistas e menos preocupados com o poder e com a própria conta bancária.

Eu ainda vivi bons momentos na política. Infelizmente, algumas das gerações mais recentes optaram pelo paternalismo ou pela defesa de seus benfeitores como forma de vida mais operosa e tranquila. São aqueles que odeiam todos os que preferem a meritocracia às heranças políticas ou, o que é pior, à caquistocracia, que, conforme o Aurélio, significa a prevalência de pessoas com péssimas qualidades, características, ideias e pontos de vista. Didaticamente, é o mesmo que a ascensão de cidadãos menos qualificados a postos qualificados. É o governo dos piores. Quem não se lembra de Fernando Collor e de Jair Bolsonaro?

Falando em Collor, independentemente das filigranas da lei, ninguém melhor do que ele para explicar a tese de que o crime compensa. Comprovadamente corrupto, o ex-presidente foi premiado com prisão domiciliar em uma cobertura de R$ 10 milhões. Como na canção de Diogo Nogueira, “é pé na areia, caipirinha, água de coco e cervejinha”. Por exclusiva culpa dos legisladores, é mais uma afronta ao povo brasileiro honesto, ordeiro e justo. Na visão tacanha, elitista, individualista e bandida de nossos parlamentares, os ricos estão acima de tudo e de todos. Os pobres que se explodam. Também na forma flexionada, no presente do subjuntivo e na terceira pessoa do plural, o verbo seria outro.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais

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