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Hibernando como urso

Bares enchem cofre no verão esperando as vacas magras

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Autor/Imagem:
José Seabra - Foto Gisele Souza

Na pitoresca Barra de São Miguel, cidadezinha litorânea de Alagoas aninhada próxima a arrecifes dourados e o oceano azul-turquesa, há um paradisíaco ponto que parece extrair sua essência do próprio mar.

Batizado de Barra Beach, esse refúgio rústico é conhecido por seus frutos do mar frescos, cervejas a zero grau, cachaças de cor cristalina e uma variação de caldinhos, onde se destaca o de camarão. A atmosfera descontraída faz os clientes se sentirem em casa.

Durante os meses de verão, quando o sol brilha alto no céu e a praia fica repleta de turistas, o Barra Beach pulsa com vida e energia. As mesas ao ar livre, à sombra de frondosas árvores, se espalham pela praia quando a maré está baixa. Ao todo são 51 (uma boa ideia, por sinal) que têm à sua volta, cada uma, quatro cadeiras. Em números redondos, 204 assentos para receber a clientela simultaneamente.

Os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, conta o proprietário Anderson Fernandes, são de colheita. Nesse período do ano as mesas são disputadas, e os risos e conversas preenchem o ar salgado. Os pescadores locais entregam suas capturas diárias, e Pietro Souza, chef habilidoso, transforma o que sai do mar em pratos como um manjar dos deuses do Olimpo, que rapidamente encontram seus lugares nas mesas de confrades famintos.

O Barra Beach, que fecha as portas antes de o Sol se recolher para dar passagem à Lua, se transforma a cada manhã, de sexta a domingo – além de feriados -, em um ponto de encontro animado, com sua música que ecoa pelas ruas estreitas. Os nativos se juntam aos turistas, compartilhando histórias sobre o mar e celebrando a vida sob um céu de brilho eterno.

No entanto, revela Anderson, assim como as marés, a fortuna do Barra Beach, como de resto outros bares e restaurantes da orla, também tem seus altos e baixos. Quando o outono chega e os turistas partem, levando consigo o burburinho e a agitação, o local entra em um período de calmaria. As mesas vazias parecem se ressentir com a ausência daqueles que as ocupavam tão alegremente dias antes.

Mas o proprietário, nascido em Caruaru, no vizinho Pernambuco, que decidiu há seis anos dar uma nova destinação à velha casa de veraneio, é como calejados pescadores que conhecem os segredos do mar: eles sabem como se adaptar.

Assim como o urso que hiberna para sobreviver no inverno, Anderson usa os meses de alta temporada para armazenar não apenas recursos financeiros, mas também lealdade e reconhecimento. É quando ele Investe em melhorias no estabelecimento, treina sua equipe e cria novos pratos que aguardam ansiosamente para serem apresentados quando a multidão retornar.

Durante a baixa estação, o ritmo do Barra Beach desacelera, mas não para. Os moradores locais aparecem, agora com mais frequência, para desfrutar da tranquilidade que só o litoral pode oferecer no outono. O bar se torna um refúgio sereno, onde se pode ouvir o som suave das ondas quebrando contra a costa e degustar os sabores sazonais que o chef Pietro prepara com carinho.

Na baixa temporada o ponto de Anderson Fernandes continua a flutuar, navegando pelas marés adversas que chegam com as chuvas, numa mistura de graciosidade e resiliência. É que, como o próprio mar, ele sabe que as mudanças são inevitáveis, mas também entende que, com paciência e perseverança, poderá sempre emergir mais forte do que nunca.

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