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Simpatizantes do caos

Bolsonaristas insistem em querer transformar Brasil em terra sem lei

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Mathuzalém Júnior - Foto Antônio Cruz/ABr

Apesar de definitiva, a decisão de manter o deputado Chiquinho Brazão na prisão não será engolida tão cedo pela rapaziada sem noção dos partidos que lambem as botas desbotadas de Jair Bolsonaro, o ex sem mandato e, em breve, sem liberdade. Nada contra o próximo presidiário, tampouco contra os deputados que apoiam foras da lei, mas tudo a favor da sensatez, da Justiça e do Supremo Tribunal Federal. Em síntese, mais uma vez a democracia venceu a indecência. Como contribuinte e como eleitor cumpridor dos deveres, pouco me importa se o resultado consolidou a polarização entre Luiz Inácio e Bolsonaro, enfraqueceu Arthur Lira (PP-AL) e embaralhou ainda mais a disputa pela sucessão do comando da Câmara.

O fato é que, aliado ao corporativismo abusivo e primitivo, a defesa pública de um parlamentar envolvido até o caroço em um crime hediondo quase levou a Casa a promover um dos maiores absurdos de todos os tempos. As abstenções, as ausências e os votos de 129 deputados bolsonaristas comprovam a tese dos simpatizantes do ex-presidente, para os quais o Brasil precisa ser alçado à condição de terra sem lei. De forma objetiva, a ideia de quase metade do plenário da Câmara é transformar o crime na pátria armada em algo compensador e bonito de se ver.

Felizmente, 277 “colegas” dos especuladores do caos salvaram a Câmara e, de alguma maneira, evitaram manchas insanáveis na biografia de determinadas excelências, entre elas Arthur Lira. Mistura de abutres com paquidermes, os parlamentares capachos do mito foram salvos pelo gongo. Por apenas 22 votos eles se livraram de passar para a história política do país como os plantadores da maior picaretagem já vista nos gramados do Congresso Nacional. Como se acham acima de Deus e das leis, isto é, se bastam, nenhum dos bolsonaristas imaginou um autoflagelo. Também passaram longe da ideia de que estavam contribuindo para encher até a borda o penico já entupido pelas cacas de suas excelências adjetivadas.

Uma rápida consulta às recentes decisões da Câmara revela que os defensores da soltura de Chiquinho Brazão se elegeram com o discurso linha dura de defensores da irmandade, da parentela e da fé. Entretanto, na primeira oportunidade mostraram a cara e disseram quem exatamente são. Para eles, um crime bárbaro como o assassinato da vereadora Marielle Franco nada tem a ver com Deus, pátria e família. São os mesmos que estão na coleira do empresário Elon Musk e que recentemente aprovaram o fim das saidinhas dos presídios e a prisão de usuários de drogas. Deputado acusado de assassinato está livre do radicalismo do grupelho.

O STF e o ministro Alexandre de Moraes podem ter exorbitado, mas nada justifica o posicionamento acintoso e desrespeitoso desses parlamentares em defesa de quem mata e contra quem manda prender. Eles esquecem que, em muitas situações da vida, importa menos o que se faz e muito mais com quem se faz. Nesse caso, o que atende pela alcunha de eleitor. Talvez as eleições municipais deste ano já tenham resposta para os que se acham acima do bem e do mal. Se não, aguardemos as eleições de 2026, quando certamente a maioria do eleitorado mostrará a conta aos deputados que votaram a favor do crime, entre eles Elmar Nascimento (União Brasil-BA), candidato à sucessão de Arthur Lira.

É bom lembrar que os simpatizantes de Chiquinho Brazão fizeram pior do que tentar desqualificar somente a posição de Xandão. Desmereceram o voto que receberam nas urnas. Provavelmente não passa pela cabeça oca do grupo que entre seus eleitores há cidadãos que não votam em Lula, mas são sérios, honestos e não concordam com a transformação do Congresso e do Brasil em pocilgas. Como os lambe-esporas não se olham no espelho, são esses eleitores que devem mostrar às excelências que se mantêm enroladas na bandeira brasileira que a nação não é um circo.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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