Lavagem cerebral
Bolsonaristas provam que Niemeyer acertou ao dizer que Brasília não é penico
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Amanhã, depois de amanhã ou, no máximo, no ano que vem, o ex-presidente Jair Bolsonaro subirá aos céus sem engolir a acachapante derrota para Luiz Inácio. Não engoliu, mas, aparentemente, já evacuou. Depois da inelegibilidade e da quase definida prisão, sua ira, ódio e todo seu potencial diabólico passou a ser direcionado ao Supremo Tribunal Federal, notadamente ao ministro Alexandre de Moraes. Para quem ainda não o conhece, Moraes é o xerife Xandão dos brasileiros justos, corretos e compromissados com a verdade, a democracia e, sobretudo, com o fim da bandalheira política.
A manifestação “patriótica” do último domingo na Avenida Paulista parece ter sido o definitivo translado da suposta força política do mito para os cafundós. Isso quer dizer que a pressão que Bolsonaro sonhava impor a Alexandre de Moraes com os seguidos convescotes públicos não surtiu o efeito desejado. Nem mesmo o apoio explícito e religioso-financeiro do pastor Silas Malafaia e de uma ruma de igrejas evangélicas alterou o quadro pra lá de negativo do ex-mandatário, hoje apenas um enrolado réu do STF por conta da trama golpista de 8 de janeiro de 2023.
Interessante e triste são os parlamentares que, se imaginando ao lado do povo, apostam na pregação de Bolsonaro contra Lula, contra o país e contra a sofrida população pagadora de impostos. Como hienas descontraídas e saciadas, os que não sofrem aplaudem, gargalham, gastam o dinheiro dos impostos e atingem orgasmos com as baboseiras que ouvem, entre elas a de que os “patriotas” voltarão a ser os “donos” do Brasil a partir das eleições de 2026. Diria aos governadores, deputados e senadores que fazem coro às propostas ditatoriais de Jair Messias que, desde que sem máscaras e sem desprezo ao povo, aparecer é necessário.
A sugestão é que os políticos que se elegem somente para se mostrarem descontraídos perante os eleitores também consigam encarar com seriedade as medidas urgentes e necessárias para tirar o Brasil do buraco e os brasileiros do atoleiro. É uma questão de compromisso eleitoral. Nada além disso. Sobre a pantanosa participação de grupos evangélicos mais radicais e notoriamente alheios aos ensinamentos de Deus na histeria bolsonarista, o que se depreende é mais uma inversão total dos valores cristãos.
As igrejas que se prestam a esse papel assumem o risco de serem incluídas na lista daquelas que servem exclusivamente como meios escusos para os pastores lucrarem com a fé alheia. Por conta dessa anomalia religiosa, assim como os pastores e um suposto líder de massas, aos quais chamam de “mestre” e de “mito”, os jovens se mostram apáticos em relação ao futuro. Em decorrência da lavagem cerebral do tipo chicote no lombo, eles trocaram a busca pelo sentido da vida pela busca de uma fama passageira e suja.
Para nossa sorte, há sempre um dia atrás do outro e, entre eles, uma noite no meio para a gente pensar, por exemplo, no recado de Oscar Niemeyer ao povo brasileiro quando ele completou 102 anos. Segundo o papa brasileiro da arquitetura moderna, “projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá, foi como criar um lindo vaso de flores para vocês usarem como penico. Hoje eu vejo, tristemente, que Brasília nunca deveria ter sido projetada em forma de avião, mas sim de camburão”. Guardadas as poucas exceções, a frase precisa ser colocada em um quadro antes que acabem com a cidade ou, na melhor das hipóteses, que haja camburões suficientes para engaiolar a quadrilha que trabalha para dela se apossar.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
