Brasil aliviado
Bolsonaro já não leva às ruas número de pessoas que mandou a cemitério
Publicado
em
Independentemente do preciosismo como são contadas, as mentiras podem ser definidas por comuns ou cabeludas. Entre as primeiras, duas das mais duras de engolir é ouvir que Jair Bolsonaro é o Messias reencarnado para salvar o Brasil e que o bolsonarismo é a religião a ser seguida por todos aqueles que acreditam em Deus, na família e na pátria. Eu acredito, mas bobagens piores do que essa é difundir que, a exemplo das Paradas Gays e das domingueiras do PT, as manifestações bolsonaristas normalmente reúnem mais de um milhão de pessoas na orla de Copacabana ou na Avenida Paulista. Não devemos esquecer que, quando lhe convém, o Diabo não se envergonha de recorrer às Escrituras.
Perdão ao que resta dos “patriotas”, mas Bolsonaro jamais colocará nas ruas a quantidade de brasileiros que ele colocou no cemitério. É o bolsonarismo cada vez mais distante da verdade e cada vez odiando aqueles que a revelam. Estatisticamente, essa é uma daquelas mentiras cabeludas, cuja origem certamente advém dos almanaques do Recruta Zero, do Homem Invisível ou do Super Homem. O pior não é divulgá-las, mas acreditar nelas, na medida em que fisicamente é quase impossível reunir toda essa gente em trechos pequenos. Mais complicado é a logística de transporte e estacionamento para centenas de milhares de veículos a uma distância minimamente razoável do trajeto.
Tudo isso em domingos e feriados, justamente quando os moradores dessas regiões estão em casa e com seus carros previamente estacionados. Nada de anormal para cidadãos e cidadãs que adoram exageros. São os seguidores do Barão de Montesquieu, para quem quanto menos o homem pensa, mas ele fala. Alguns são tão covardemente exagerados que acabam virando piada de salões paroquiais, funerários e de bordéis. Entre esses estão os que um dia avistaram discos voadores lotados de Ets pousando em Brasília para salvar a Capital da República de um extraterreno que havia vencido uma eleição que eles imaginavam ganha. Com pernas tão curtas como as do Ets, as mentiras do tipo fake news tiveram efeito contrário.
A prova de que elas pouco adiantaram é que, na briga entre Belzebu e o Capetão, o grande vencedor foi o povo. O tempo passou, o eleitor se descobriu menos servil e as verdades passaram a ser produto de primeira necessidade no país do faz de conta, no qual os mentirosos morrem acreditando em suas mentiras. É baseado nessa arte que os propedeutas da desinformação se manifestam como dominadores. Nas ruas, no Congresso, nas redes sociais e até em visitas ao plenário do STF, a maioria se acha no direito de permanecer negando a trama golpista pós-vitória do progressismo em 2022. É claro que eles têm o direito de acreditar em bobagens, principalmente aquelas regurgitadas pela defesa dos maiores implicados na proposta de impedir a posse de um presidente legitimamente eleito.
No estágio em que os fatos são divulgados maciça e verdadeiramente, inadmissível é aceitar que alguém possa imaginar que os sensatos morrerão acreditando em tudo. Por exemplo, como admitir que a barbárie de 8 de janeiro de 2023 foi planejada, administrada e executada em nome da democracia? Democratas se calam diante das derrotas eleitorais, não quebram prédios públicos, vandalizam símbolos da República, muito menos tentam matar os que, mesmo feios, ladrões e corruptos, não abdicam do regime democrático pelo qual tanto lutaram. Ao contrário dos democratas, os “patriotas” são liberais somente quando os costumes lhe são favoráveis. É a tal história de que tudo no toba da gente e nada no deles.
Felizmente o tempo desmascara aparências, revela mentiras e expõe o caráter dos mentirosos. Aliás, além de maquiagem imperfeita, a mentira é uma máscara produzida pelo próprio autor. Que vantagem têm os mentirosos? Como disse Aristóteles, a de não serem acreditados quando dizem a verdade. É o caso do ex-presidente que já protegeu e idolatrou publicamente um torturador emérito falando em nome de Deus, da pátria e da família. Por fim, como acatar como honesta a afirmação parlamentar de que os terroristas que vandalizaram a República agiram em defesa da liberdade? O mundo inteiro sabe que a direita do tipo sabonete escorrega pela religião evangélica, passeia pelo catolicismo, bate tambor nas horas vagas, mas não admite a democracia. O cristão conservador adora fechar estrada, pedir intervenção militar e enriquecer à custa do suor alheio. Mentira por mentira, a última verdade é a que vale: nessa sexta-feira (11), Bolsonaro foi socorrido no Rio Grande Norte pela governadora Fátima Bezerra, do PT, partido do qual sempre quis distância.
…………………..
Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras