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Síntese do debate

Bolsonaro misógino, fim do sigilo de 100 anos e fôlego de Simone

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Autor/Imagem:
Pretta Abreu , Edição, com Agências - Foto Divulgação/Band

O primeiro debate entre presidenciáveis realizado neste domingo, 28, teve três destaques: Jair Bolsonaro (PL) mostrou mais uma vez seu lado misógino, ao atacar as mulheres na pessoa da jornalista Vera Magalhães; o fim do sigilo de 100 anos, prometido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), imposto pelo atual governo a casos de corrupção praticada pelos bolsonaristas;  a terceira via pode crescer com Simone Tebet (MDB), que demonstrou tranquilidade e capacidade para governar.

Promovido por um pool de veículos (Folha de S.Paulo, TV Cultura, UOL e Band) também estiveram presentes os candidatos Ciro Gomes (PDT), Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D’Ávila (Novo). Houve farpas, com acusações mútuas, xingamento e direito de resposta. E muita discussão, na plateia e nos bastidores, entre bolsonaristas e petistas.

Lula e Bolsonaro, que lideram as principais pesquisas de intenção de voto, travaram o maior duelo de acusações. Já no primeiro bloco, no momento dedicado às perguntas diretas entre candidatos, Bolsonaro escolheu Lula e questionou o petista sobre a corrupção na Petrobras.

O tema é considerado sensível porque Lula foi condenado duas vezes por crimes supostamente cometidos no âmbito da Operação Lava Jato. Ele ficou 580 dias preso. Em 2021, porém, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações.

“Delatores devolveram 6 bilhões de reais. Ou seja, corrupção houve. Presidente Lula, o senhor quer voltar ao poder para quê? Para continuar fazendo a mesma coisa na Petrobras?”, perguntou Bolsonaro.

Lula respondeu mencionando medidas de fortalecimento de órgãos de controle tomadas durante os governos do PT como a criação do Portal da Transparência.

“Não teve nenhum presidente da República que fez mais investigação para que a gente apurasse a corrupção do que nós fizemos”, disse o ex-presidente.

Em um dos momentos mais tensos, Bolsonaro chamou Lula de “ex-presidiário” após Lula criticar o sigilo de 100 anos a documentos imposto pelo candidato à reeleição. “Hoje, qualquer coisinha é sigilo de 100 anos”, disse Lula. “Que moral tu tem pra falar de mim, ex-presidiário? Nenhuma moral”, rebateu Bolsonaro.

Após ter sido chamado de ex-presidiário, Lula ganhou direito de resposta concedido pela produção do debate e respondeu a Bolsonaro. Segundo o petista, sua prisão só aconteceu para que Bolsonaro pudesse ser eleito.

“Apenas para dizer da irresponsabilidade de quem exerce o cargo de presidente e que me chamou duas vezes de presidiário. Ele sabe porquê eu fui preso. Que é para ele ser presidente da República. Fui julgado, considerado inocente pelo STF, pela ONU e estou aqui candidato para ganhar as eleições, e num decreto só vou apagar todos os seus sigilos”, afirmou Lula.

O segundo bloco foi marcado por um dos momentos mais tensos. A jornalista Vera Magalhães, escalada para fazer perguntas aos candidatos, foi atacada por Bolsonaro ao mencionar que o presidente teria difundido desinformação sobre vacinas contra a covid-19.

“Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido em um debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, disse o presidente.

O ataque de Bolsonaro à jornalista foi seguido de uma série de manifestações de solidariedade a ela e a críticas à postura do presidente em relação a mulheres. Simone Tebet criticou o presidente após a fala contra Vera Magalhães.

“Nós temos que dar exemplo. Exemplo que, lamentavelmente, o presidente não dá quando desrespeita as mulheres, quando fala das jornalistas, quando agride, ataca e conta mentiras como acabou de fazer”, disse a candidata. Outra que saiu em defesa da jornalista foi a candidata Soraya Thronicke. “Eu realmente fico extremamente chateada. Quando homens são ‘tchutchuca’ com outros homens, mas vão pra cima da gente sendo ‘tigrão’. Eu fico extremamente incomodada”, pontuou.

A questão feminina não ficou restrita ao episódio envolvendo Bolsonaro e Vera Magalhães. Políticas voltadas ao público feminino foram alvo de perguntas feitas aos candidatos. Uma das primeiras a levantar o assunto foi Simone Tebet, mencionando posições supostamente contrárias aos diretos da mulher tomadas por Bolsonaro.

“Candidato Bolsonaro, por que tanta raiva das mulheres?”, perguntou a senadora.

Bolsonaro rebateu a pergunta afirmando que seu governo foi o que teria sancionado mais leis em favor das mulheres no país. “Por que essa forma barata de me acusar como se eu não gostasse de mulheres? Eu fui o governo que mais sancionou leis defendendo mulheres”, disse Bolsonaro.

Em outro momento, o alvo foi o ex-presidente Lula. O petista foi indagado pela jornalista Ana Estela de Sousa Pinto sobre se ele iria formar um ministério com metade dos cargos ocupados por mulheres. Lula evitou se comprometer com essa meta.

“Não sou de assumir compromisso, de me comprometer a fazer metade, indicar religioso, indicar mulher, indicar negra, indicar homem […]. ou seja… você vai indicar as pessoas que têm capacidade para assumir determinados cargos”, disse.

“Tenho orgulho de ter indicado o primeiro negro para a Suprema Corte. De indicar a Carmen Lúcia para a Suprema Corte. E poderia indicar muito mais. Pode-se indicar muito mais. Pode até ter maioria mulher […] mas eu não vou assumir um compromisso de que eu tenho que ter determinada pessoa obrigatoriamente porque se não for possível eu passarei por mentiroso”, afirmou o presidente.

Outro momento que chamou atenção no debate foi quando Lula e Ciro tiveram um confronto direto. Ciro foi, por diversos anos, um dos principais aliados de Lula. Ele chegou a ser ministro da Integração Nacional durante o governo do petista, mas há pelo menos oito anos Ciro vem se mantendo distante do petista. Nesta campanha, ele tem sido um dos principais críticos à gestão do ex-presidente. Segundo o candidato, as gestões petistas teriam sido responsáveis pela crise econômica e política que levou à eleição de Bolsonaro em 2018.

Lula foi questionado pela jornalista Patrícia Campos Mello sobre como faria para atrair o apoio de Ciro Gomes em um eventual segundo turno. E Ciro foi questionado sobre se ele daria apoio a Lula caso o petista fosse ao segundo turno das eleições. Lula disse ter respeito por Ciro e que esperava que os dois ainda pudessem conversar ao longo da corrida eleitoral.

“Eu sempre digo o seguinte: tem três pessoas no Brasil que eu trato com deferência: Mário Covas, [Roberto] Requião e Ciro Gomes. De vez em quando eles podem até falar mal de mim que não levo em conta, porque eu sei que eles têm o coração mais mole do que a língua. Eles têm o coração muito mais mole, são muito mais compreensivos aos problemas sociais”, disse Lula.

“Eu espero que o Ciro, nessas eleições, não vá para Paris, eu espero que o Ciro fique aqui no Brasil, que a gente sente para conversar e possa construir a verdadeira aliança política que ele sabe que vai ser construída”, disse Lula em alusão à viagem que Ciro fez a Paris após o primeiro turno das eleições de 2018. Ele foi criticado por setores da esquerda por supostamente não ter se empenhado no segundo turno contra a eleição de Bolsonaro.

Ciro, por sua vez, chamou Lula de “encantador de serpente” e voltou a criticar o petista.

“O Lula é esse encantador de serpente, vai na emoção das pessoas, cativa […] Eu atribuo ao Lula a contradição econômica do Lula, a contradição moral do Lula e do PT o Bolsonaro. Eu não acho que o Bolsonaro desceu de Marte com essas contradições todas. O Bolsonaro foi um protesto absolutamente reconhecido respeitosamente por mim contra a devastadora crise econômica que o Lula e o PT produziram e que ele apaga”, afirmou Ciro.

O candidato Felipe D`Ávila e a candidata Soraya Thronicke protagonizaram um breve embate sobre a legitimidade do fundo eleitoral. O fundo é garantido por recursos públicos e é destinado ao financiamento de campanhas eleitorais. Neste ano, a estimativa é que o fundo seja de R$ 5,7 bilhões. Para D’Ávila, o fundo é uma “excrescência”.

“Que dignidade é essa de se aprovar o fundão eleitoral de R$ 5 bilhões? Tirar dinheiro da educação , da pobreza, atendimento médico, pra financiar campanha política? Pra todo mundo vir no debate de jatinho enquanto tem gente passando fome. Qual a dignidade de aprovar uma excrescência desse fundo eleitoral?”, indagou o candidato.

Soraya Thronicke rebateu afirmando que nem todos os candidatos teriam as mesmas condições financeiras que D’Ávila para financiar suas campanhas. O candidato declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um patrimônio de R$ 24 milhões.

“Candidato, nem todos têm o patrimônio que o senhor tem e muitos doadores que a campanha de vocês tem pra tocar uma campanha, que é cara. Se nós não tivéssemos o fundo eleitoral pra financiar a democracia, nós nunca, e principalmente nós mulheres, jamais teríamos acesso à política”, disse.

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