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'Tamos falidos, taokay?'

Bolsonaro decide deixar o Brasil ao Deus dará

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior*

Como qualquer empregado indolente e despreocupado com a saúde financeira e com o futuro da empresa que paga seus salários e garante seu sustento e o da família, o presidente Jair Messias Bolsonaro retornou das férias de fim de ano disposto a, pela primeira vez em dois anos de governo, dizer a verdade. Ao afirmar que o Brasil está quebrado e não consegue fazer nada, deixou claro que, muito mais que uma péssima notícia aos brasileiros no início de um ano que se anunciava melhor que o anterior, jamais soube o que faria ao receber a faixa presidencial.

Imaginou que governar uma Nação com 520 anos de história e 220 milhões de habitantes fosse apenas uma brincadeira de polícia e bandido. Pior. Pensou estar participando de um desfile militar, onde ele, mesmo tenente, comandaria os generais como quisesse. Quem sabe de uma corrida de pseudos atletas ou de uma partida de futebol, na qual seus dez companheiros fossem obrigados a lhe passar todas as bolas possíveis de gol. O único objetivo era alcançar os livros de história em 20 ou 30 anos.

Acho que ele conseguiu. Só que às avessas. Com sua frase patética, chegará bem antes a uma publicação de botequim ou de padaria de subúrbio – com todo respeito a ambos -, com a seguinte manchete: A primeira verdade de Bolsonaro prova que ele é um presidente de brincadeira. Só pode ser. Por mais que tivesse certeza de que enfrentava uma situação econômica caótica, nenhum governante sério e capaz soltaria um torpedo alarmista desse sem antes ter certeza de que não era competente para solucionar a crise.

Além de brincar com coisa séria – o que ele faz desde a época da Câmara dos Deputados -, o presidente da República usou pouco mais de 40 caracteres (sem os espaços) para confirmar todo o discurso enganador de campanha, ocasião em que prometeu a um grupo de fundamentalistas incapazes de perceber quando o interlocutor falta ou não sabe como colocar a verdade verdadeira. O problema é que contaminou outras dezenas de milhões de eleitores acostumados somente com mentirinhas ou apiedados em decorrência de ferimentos de última hora e até hoje mal explicados.

Na prática, a retumbante frase descreve alguém que se surpreendeu até mesmo com os tantos mandatos de deputado federal. Ele os entendia suficientes para encher o saco de quem estava no Congresso profissionalmente – nesse momento pouco importa se para ajudar ou roubar do povo –, para mostrar ao Brasil seus medonhos modos antidemocráticos, homofóbicos e com rompantes nada generosos com o feminicídio. Realmente um exemplo de homem público, um primor de cidadão.

Difícil não acreditar que o que disse não tenha comprometido, inclusive, seu futuro político. Mesmo os leigos entenderão que, nas entrelinhas, o presidente quis dizer apenas que nunca soube, não sabe, não quer e não tem como governar. Está como entrou: cambaleando. Nesses dois anos ficaram pelo caminho o combate à corrupção, a economia nos trilhos, um Brasil para os brasileiros, o aceno aos homens de bens, a prisão para os ladrões, o cerco aos milicianos e a forca para os vendilhões

Sobrou para seus eleitores – muito mais para aqueles que nunca o imaginaram sério – a vergonha de viver em um país que não consegue produzir ou importar seringas para vacinar, em um futuro incerto, o povo que ainda teme sofrer com a Covid-19. Os que fazem chacota do vírus – como o presidente -, que não o temem e que insistem em negá-lo com festinhas clandestinas, que morram digna e alegremente, ou seja, longe dos hospitais com doentes e dinheiro público saindo pela janela e leitos insuficientes para os que, contra a vontade do bolsonarismo, permaneceram em casa e, mesmo assim, foram alcançados pela macabra gripezinha.

Meu temor – e pode ser o de muitos brasileiros – é que a famigerada frase tenha conotação muito mais perniciosa. Em outras palavras, pode ser um péssimo presságio da incompetência generalizada do governo. E se a locução “eu não consigo fazer nada” for mais uma mentira? E se tiver mais de um significado? Torçamos para que não. Torçamos para que seja apenas mais uma das tantas crises que se avizinha.

Torçamos para que não seja somente a primeira linha de um texto mais extenso e que, no último parágrafo, leiamos: povo brasileiro eu não sei o que estou fazendo aqui, não sei mais o que fazer com esse maldito resfriado e não vou comprar vacinas da China, do Reino Unido, da Rússia ou de qualquer outro canto da terra. Não vou comprar porque não quero que ninguém as tome. Salve-se quem puder. Vou cuidar do 01, 02, 03, 04. Minha família é o que interessa. Os 00 que se virem.

*Mathuzalém Junior, novo colaborador de Notibrasé jornalista profissional desde 1978

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