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Que tal um tango?

Bolsonaro tropeça nos passos de Xandão e perde Czardas na Hungria

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Reprodução/ABr

Por mais que se ache um mito ou acima de qualquer suspeita, ninguém é tão esperto que não consiga se embaraçar em sua própria teia. Pior é quando o sujeito se imagina num palco iluminado e, ao virar abóbora novamente, percebe que nunca saiu do picadeiro. É o caso do ex-presidente mulambento do Brasil. Mal e porcamente um ex-deputado de meia pataca, apesar de seus sete mandatos. Dito isso, lembro que, da mesma forma que os de olhos grandes não entram na China de Xi Jinping, os que não sabem dançar a Czardas não adentram a Hungria do camarada Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro de ultradireita e companheiro de berçário de Jair Bolsonaro.

Virou segredo de Estado o que os dois conversaram antes de Jair buscar a Embaixada da Hungria para saber como Orbán multiplica seis por meia dúzia. Parece que a conta não fechou, pois o que deveria ser ad aeternum transformou-se em apenas dois dias de refúgio. Provavelmente a ausência deliberada do premiê tenha obrigado o amiguinho brasileiro a se desfazer dos sonhos imediatos de terceiro grau no Leste Europeu. Congelado no Brasil, também acabou de chegar ao freezer a ilusão de brilhar como dançarino em Budapeste. O que quer que tenha havido é para reflexão de bolsonaristas e antagonistas.

A pergunta que não quer calar é simples: Por que Bolsonaro não levou de casa o pijama, o travesseiro e as pantufas? Óbvio que, para um ex-militar, esse tipo de esquecimento não é normal. Estaria ele sem clima em casa? Seria o ciúme acumulado por assistir diariamente a patroa sendo mais paparicada do que ele nos eventos partidários? Ciúme verde, amarelo e muito justo do suposto aliado, mas cramulhão das costas oca Valdemar Costa Neto, que não larga as saias da madame?

Medo de ser preso e encontrar no quartinho escuro os “patriotas” que abandonou no 8 de janeiro? Teria ido buscar novos estoques de repelente contra a zica de Alexandre de Moraes? Quem sabe não se antecipou ao “bromance” entre Luiz Inácio e Emmanuel Macron e procurou na representação húngara um filme de guerra para equilibrar a mente desequilibrada? Pode ter sido um pouquinho de cada coisa. Difícil é encontrar uma resposta lógica para um nauseabundo sujeito, mesmo sem passaporte, buscar uma embaixada que não era uma qualquer para fugir de Xandão. Estaria pensando em se transformar em um apátrida? Só se for.

Registre-se que, fora Orbán e Donald Trump, que ainda é uma promessa, restaria o consolo das barbatanas cabeludas de Javier Milei, o cara argentino de perfume bom, mas com cheiro duvidoso. Além do que nada sei, o que sei é que, para um imbrochável, ficou feio a hospedagem. Pior ainda foi a desospedagem, algo como um despejo setorial. Deu a entender que o camarada da Hungria não aceitou a tutela antecipada. O fato concreto é que, mais cômico do que o palhaço do Circo Vostok, a ideia de pedir arrego a um cara que só viu uma vez na vida deixa dúvidas acerca do verdadeiro objetivo.

Longe de mim imaginar alguma besteira, mas me deem uma – apenas uma – razão para que essa besteira não suba pelas costelas, chegue ao peitoril e alcance rapidamente o cerebelo. Ai meu Deus. Afaste de mim esse cálice dos horrores. Não me faça pegar nojo. Por fim, caso a opção seja recorrer a um tango de rosto colado com Milei, é grande o risco de ser excomungado por Mário Bergoglio, o meu, o seu, o nosso papa Francisco. Se me fosse dado o direito de optar, jamais pensaria na Hungria, país onde, depois da Czardas, o mais interessante e tradicional são a cerâmica e os bordados. Melhor enfrentar a borduna de Xandão.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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