Bozo ensinará Milei como acabar com a Argentina em 4 anos

Estou igual uma televisão velha: sem controle. Acho que até pior do que uma cascavel no cio e cuspindo marimbondo. Não é nervosismo, andropausa, ardência na fimose, hemorroida ativada, tampouco a mufa queimada pelo excesso de calor dos últimos dias. O descontrole apenas sintetiza o limite de minha vergonha cidadã com a lembrança dos bolsonaristas lambões culpando o general Gustavo Henrique Dutra, chefe do Comando Militar do Planalto no dia 8 de janeiro, pela morte do “patriota” Cleriston Pereira da Cunha, ocorrida semana passada na Papuda, penitenciária de segurança máxima do Distrito Federal.

Chamado de “general de merda” pelo deputado motosserra Ricardo Salles, Dutra apenas fez o que tinha de fazer: colaborou com os policiais sérios do DF e prendeu mais de mil meliantes travestidos de defensores da lei, da ordem e dos bons costumes golpistas. Tudo sob os auspícios do líder da seita imaginária, cuja grande obra foi tentar aniquilar o carteiro que trazia a carta com a notícia ruim. O carteiro sobreviveu e hoje, depois de quatro anos de parceria fúnebre entre o Satanás palaciano e os cães rabudos do Congresso, os cães raivosos ainda ladram, mas a caravana segue solene, serena e dignamente no rumo da paz democrática.

A matilha que não se cansa de rosnar contra o que funciona está de malas prontas para Buenos Aires, onde participará da solenidade de posse do camarada argentino Javier Milei, o presidente eleito que, a exemplo do parça brasileiro, não sabe o que diz, muito menos o que fazer a partir de 10 de dezembro. Lá como aqui de 2018 a 2022, certamente eles estão se preparando para o ditado popular transformado em plataforma eleitoral pelo palhaço Tiririca: “Pior do que está não fica”. Sem emitir juízo de valor, acho apenas que a Argentina, que já foi um país de Primeiro Mundo, está certa de que o anarcocapitalista vai pintar o sete exatamente como fez no Brasil o 17.

Não sei se ele pinta como eu pinto. No entanto, sabemos todos que suas ideias são idênticas às do hermano brasileño, inclusive com relação às teorias da conspiração comuns à extrema-direita, ao ceticismo sobre as vacinas contra a Covid-19 e ao aquecimento global, que ele nega com veemência. Que os gases poluentes penetrem também raivosamente no buraco de ozônio que carrega nas costas. Em tempo, nada tenho a questionar quanto as loucuras de El Loco e de El Mito. Todavia, o povo que vota corretamente não tem culpa dos desvarios daqueles que adoram o papel de bobos da corte.

Não à toa, Javier Milei, desde sua vitória, é o político mais buscado no Google dentro do Brasil. Não posso afirmar, mas duvido que pelo menos 90% dos acessos sejam de viúvas de Jair Messias. Os 10% restantes talvez sejam os brasileiros que querem saber quem bancará as despesas da panfletária e oportunista comitiva que acompanhará Bolsonaro na posse do camarada El Loco. A ideia é ensinar a Milei como acabar com a Argentina em 4 anos. Entre os que já confirmaram presença na festa-vitória da extrema-direita, além de lideranças políticas inexpressivas, os governadores Tarcísio Freitas (SP) e Jorginho Mello (SC), senadores Ciro Nogueira e Jorge Seif, deputados Eduardo Bolsonaro e Gustavo Gayer, o ex-ministro Gilson Machado e Valdemar Costa Neto.

O jornalista e advogado Fabio Wajngarte também deverá participar da babação dupla de ovos. É um direito deles. São os mesmos que chamam os fundamentalistas da Faixa de Gaza de terroristas e denominam os terroristas do Brasil de “patriotas”. Os argentinos que em breve estarão nas ruas cobrando as promessas de Milei certamente lembrarão da frase do inelegível Bolsonaro sobre o retorno do brilho da esperança na América do Sul. Descritos como líderes de “direita antipolítica”, Jair e Javier devem se juntar a Donald Trump em 2024 para, unidos pela peruca, formar um novo grupo de forró: Trio Fuck the World. Com apoio do companheiro Francisco, Dios nos librará de este mal.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978