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Apressado come cru

Cappelli descobre que golpistas convivem ao lado dele

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Autor/Imagem:
Alex Rodrigues/Via ABr, com Edição de Pretta Abreu - Foto José Cruz

A divulgação de novas imagens de terroristas golpistas destruindo o patrimônio público na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e depredando o interior da sede do Supremo Tribunal Federal (STF) obrigou o interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, a adiar a apresentação de seu relatório sobre os ataques na praça Três Poderes, ocorridos em 8 de janeiro.

Cappelli inicialmente entregaria o documento ao ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino, na quarta, 25, à noite, ou “no mais tardar” na quinta, pela manhã. A dúvida é se o interventor cansou, cedeu a pressões e decidiu encerrar, açodadamente e com lacunas, a sua missão. A sorte de outras autoridades, mais atentas, é que vazaram vídeos mostrando que houve conivência nos ataques.

Foi então que Ricardo Capelli descobriu que está rodeado de golpistas que espalham seu tentáculos no seio das forças auxiliares e no próprio Palácio do Buriti. Esse foi o principal motivo do recuo em entregar o relatório. O texto final pode ficar pronto ainda nesta sexta-feira, mas o interventor sabe que, se alguma vírgula fora do lugar não seja notada por Flávio Dino, certamente não passará despercebida por Alexandre de Moras, o ministro do Supremo que costuma agir com cautela e exige tudo preto no branco.

Nas imagens divulgadas na quarta, 25, é possível ver os policiais militares recuando ao serem atacados por extremistas que lançavam pedras, paus e outros objetos contra os agentes. Com o recuo dos poucos policiais mobilizados, o terroristas avançaram em direção ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao prédio do STF, provocando destruição como se a região fosse atingida por um terremoto no grau máximo da escala Richter.

“Posturas terroristas”
Em mais de uma ocasião, Cappeli apontou que “faltou comando” aos policiais militares que estavam de serviço no último dia 8, o que os impediu de conter as ações de vandalismo e as “posturas terroristas”. O que ele não revelou – e aí está o xis da questão – foram os nomes dos comandantes que fizeram vista grossa. Afinal, na hierarquia militar, soldado recebe ordem d cabo, que veio do argento, que ouviu do tenente, que repassou do major, após ouvir o coronel… que ouviu de quem? Como a nível federal, se o presidente é o comandante-em-chefe das Forças Armadas, a nível de Estado, a última palavra cabe ao governador – ou governadora.

“O que houve [naquele] domingo (8) foi falta de comando e de liderança”, disse o interventor no último dia 11, citando nominalmente o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres. O interventor agora voltou a usar sua conta pessoal no Twitter para mais uma vez criticar os ex-responsáveis pela segurança pública do Distrito Federal. “As imagens das câmeras do STF divulgadas pelo Jornal Nacional são graves. Confirmam a ausência de planejamento e uma execução, no mínimo, absolutamente fora dos padrões. Tudo será apurado. A lei será cumprida.”

Delegado federal de carreira e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Torres está preso desde o último dia 14. Com o fim do governo Bolsonaro, ele assumiu a secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal no último dia 2. Quatro dias depois, tendo substituído ocupantes de cargos chaves na segurança, viajou de férias para os Estados Unidos.

Um dia após desembarcar em território norte-americano, milhares de pessoas deixaram o acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, e, escoltadas por viaturas policiais, chegaram sem qualquer objeção até a Esplanada dos Ministérios, onde logo começou o tumulto que resultou no ataque aos Três Poderes.

A pergunta que não quer calar é se coronéis foram golpistas, ou se receberam ordens para fazer corpo mole. E essa resposta deve vir no relatório do interventor. Afinal, Ricardo Cappelli é jornalista. E jornalista bom costuma ser bem informado. Apresentar uma versão errada é ‘dar barriga’, velho jargão das redações. E como apressado come cru, o interventor, se assinar um documento incompleto, pode ter uma indigestão.

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