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Liana

Casal com paralisia se entrega ao amor fazendo nuvens fofas tremerem

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Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Francisco Filipino

Aos 25 anos, Liana só pensava naquilo. E sonhava noites seguidas com aquilo.

Um sonho habitual era o de estar no céu e encontrar anjos rechonchudos, nus em pelo. Ela catava um garotão alado – qualquer um servia –, o jogava numa nuvem fofinha próxima e mandava ver. A nuvem chegava a tremer e a quase se desfazer com o vapt-vupt.

Por vezes Liana sonhava acordada. Quando isso acontecia, ia pro banheiro e se tocava até o clímax.

Vocês notaram que não escrevi “corria pro banheiro”? É que a moça não corria. Sofria de paralisia cerebral, felizmente em grau mínimo, e correr estava fora de cogitação. A deficiência prejudicava sua fala e se manifestava também em movimentos involuntários dos braços e pernas, que por vezes provocavam zombarias ou olhares de pena – ela detestava as duas reações.

Nada disso, porém, a impedia de ter uma mente aguçada, um ótimo senso de humor e hormônios à flor da pele, que a faziam ansiar por uma boa vara.

Certo dia, Liana conheceu André, 27 anos, também deficiente, num grau um pouco superior ao dela. Olharam-se fundo, já com segundas intenções: ambos sabiam que pessoas em sua condição sentem o mesmo desejo que todo o mundo. Os dois flertaram, beijaram-se e marcaram de se encontrar na tarde seguinte, na casa da moça.

Os pais de Liana receberam André amavelmente e não estranharam quando os dois se trancaram no quarto. “Tadinhos, têm muito o que conversar” pensou a mãe dela. “A amizade vai enriquecer suas vidinhas…” Só que eles tinham vidas, não vidinhas, e estavam dispostos a enriquecê-las – mas não como os progenitores imaginavam.

Pais em geral são cegos, custam a reconhecer que suas princesas já gostam de receber carinhos que não os deles. Resumo da ópera: Liana e André transaram adoidado. Em silêncio ou quase, para não dar bandeira.

“Que delícia”, pensou Liana, quando finalmente acabou. “Em muitas mulheres, um orgasmo provoca espasmos involuntários dos braços e pernas; imagina no meu caso, que já não controlo os músculos…” – e deu um risinho malicioso.

A partir daquela tarde, André foi catalogado como “amigo” de Liana, ou seja, inofensivo, como se a paralisia cerebral o tivesse castrado, e teve entrada franca na casa. E então os dois puderam fazer muito sexo, como se estivessem numa nuvem fofa no céu e o cara fosse um anjinho rechonchudo e devasso.

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