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Papa-dinheiro

Celina amava Sandro, que ama Sílvio, que suja história do SLU

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José Seabra - Diretor Editor/Fotos Reproduções

O jornalismo tem uma vasta área de atuação. Grandes portais de notícias costumam  ter em seus quadros repórteres com especialização em política (interna e externa), economia, justiça,  polícia, habitação, saúde, educação, cultura, esportes… Mais recentemente vem ganhando espaço nas redações a editoria de Jornalismo Investigativo. São repórteres que entendem de tudo um pouco, capazes mesmo de revirar latas de lixo em busca de mínimos detalhes que possam ser encontrados em um papel picado, um selo de vinho ou mesmo uma taça quebrada manchada de batom.

São os famosos farejadores da verdade. As matérias podem até demandar algum tempo para serem apuradas, mas esses parentes distantes de Sherlock Holmes nunca deixam de cumprir a pauta. Notibras tem uma dupla de primos longínquos do personagem de Arthur Conan Doyle. E desde que Celina Leão, governadora em exercício do Distrito Federal, decidiu nos perseguir num gesto arbitrário e insano, a ponto de pedir minha prisão preventiva, nossos ‘Holmes’ – na realidade, um cavalheiro e uma dama – entraram em cena para tentarem descobrir por que Celina tem medo de Notibras? O que motiva tanto ódio?

Os dois foram diretos ao papa-entulho. Afinal, nessas geringonças de pouca utilidade inventadas pelo Governo do Distrito Federal, cabem muito mais porcarias do que numa simples lata de lixo.  Meticulosos, nossos repórteres identificaram, ao abrirem o primeiro depósito de sujeira, as digitais de três personagens: Celina Leão, Sandro de Morais Vieira, e de Sílvio de Morais Vieira. A então presidente da Câmara Legislativa amava seu braço-direito, seu verdadeiro carregador de mala, até Sandro ser demitido por suposto envolvimento (como a própria deputada) na Operação Drácon.

Mas, como uma mão lava a outra e são enxugadas nos próprios bolsos, o tempo passou e Sandro declarou amor eterno a Sílvio, irmão de sangue por parte de pai e mãe, a ponto de fazê-lo presidente do Serviço de Limpeza Urbana da capital da República, o poderoso SLU.  Ocorre, porém, que, como suspeita o Tribunal de Contas do Distrito Federal, nem todo o lixo recolhido pelos garis vai para aterros sanitários. Parte dele, reciclável de mão em mão, teria, em tese, como destino final, o próprio SLU.

Essa sujeira envolvendo o SLU começou a ser passada a limpo no Tribunal de Contas, mas parou no meio do caminho. Tudo porque o relator de uma ação que mandou suspender uma licitação no valor de 170 milhões de reais, conselheiro Márcio Michel, foi eleito presidente da Corte. Agora cabe esperar a escolha, por sorteio, do novo conselheiro-relator.

No TCDF as informações sugerem que enquanto o SLU não se manifestar sobre os questionamentos feitos ao edital de licitação (com sobrepreço, segundo analistas da Corte, de 46 milhões de reais) o processo de ampliação do Aterro Sanitário de Samambaia vai virar foco de mosquito da dengue.

Enquanto isso, os ‘farejadores’ de Notibras continuarão seguindo os passos que levariam ao destino dos 46 milhões de reais extras identificados na análise de Márcio Michel. De imediato, já se sabe que seriam 5 milhões para espalhar e compactar lixo; 8 milhões para aplicação de brita; 3 milhões para uma manta termoplástica; 1 milhão 800 mil para compactar a terra; 3 milhões 800 mil para colocar pedra de arrimo na fundação; e 24 milhões de adicional para caminhões basculantes circularem trechos excedentes a 30 quilômetros.

Na ponta do lápis, cerca de 46 milhões de reais. Ou, segundo qualquer calculadora Made in Paraguay, 25% dos 170 milhões de reais previstos no edital suspenso por ordem do Tribunal de Contas. Por fim, um lembrete: Márcio Michel, para quem não se recorda, é delegado aposentado. Quando tinha um gabinete na Câmara Legislativa, era conhecido entre seus colegas deputados distritais como o ‘Xerifão’. Guardadas as devidas proporções, um Alexandre de Moraes com cabelo.

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