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Bola fora

Celina tenta enganar Lula com um bolsonarista na Segurança

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José Seabra - Diretor Editor/Foto de Arquivo

Mesmo que Ibaneis Rocha (MDB) volte ao Palácio do Buriti, o que é pouco provável na avaliação de analistas políticos e até de seus aliados próximos, e que a governadora em exercício permaneça no cargo, outra possibilidade também vista como de baixa probabilidade, o Palácio do Planalto vai manter a área da Segurança Pública do Distrito Federal em rédeas curtas.

Por ser informada disso por meio de interlocutores que circulam com tranquilidade entre a Praça dos Três Poderes e a Praça do Buriti, Celina Leão (PP), para se garantir no cargo, está mexendo os pauzinhos com Ciro Nogueira e Arthur Lira, seus líderes e ídolos máximos na cúpula da mesma legenda, para fazer de Sandro Avelar, ex-secretário de Segurança Pública no governo de Agnelo Queiroz (PT) sucessor de Anderson Torres.

Mas é justamente aí que Celina se engana. Primeiro, por mais memória curta que tenha, o brasiliense ainda se recorda que Sandro Avelar nada ou pouco fez para investigar as inúmeras denúncias de corrupção no governo do qual participou. Um dos casos é o do Estádio Mané Garrincha, que custaria 500 milhões de reais, mas que teve acrescido 1 bilhão engolidos por tijolos feitos de areia.

Esse, entretanto, é um problema menor, uma vez que as pessoas envolvidas no desvio de recursos públicos sentiram o peso da Justiça e pagaram – e continuam pagando – por seus crimes. O nó difícil de desatar é que Sandro Avelar, delegado federal como Anderson Torres, demitido no auge da tentativa do ato golpista do domingo, 8, e preso no sábado, 14, ao desembarcar em Brasília, também apresenta na testa a marca de bolsonarista,

O que Celina pretende, portanto, é promover um agrado ao Palácio do Planalto indicando um secretário de um ex-governo do PT, época em que ela agiu como ferrenha opositora, a ponto de ser conhecida como chefe da alcateia faminta desejando ver petistas em sua cova, como meros Daniéis, em forma flexionada do herói bíblico.

Sobre Sandro Avelar, especificamente, é hora de atiçar a memória. Já se disse, acima, que como Anderson Torres, ele é bolsonarista. Os dois são tão semelhantes, que se um postar-se diante de um espelho, a imagem refletida será a do outro. E tanto quanto Anderson, Avelar carrega Ibaneis no lado esquerdo do peito. No frigir dos ovos, o que Celina pretende com essa indicação é trocar seis por meia dúzia.

O Raio-X da vida pregressa de Sandro Avelar é cristalino como as águas do Rio Sucuri, em Bonito, no Mato Grosso do Sul. Mas por lá também nadam serpentes das mais venenosas. Vejamos:

Arranca toco e quebra canela
Quando atuava como advogado, Sandro Avelar era capitão de um dos times que disputavam torneios de futebol na OAB. As duas principais equipes eram conhecidas como Arranca Toco e Quebra Canela. Avelar era o tipo de figura que passava rasteira não só nos jogadores das equipes adversárias. Seus desafetos que corriam contra ele no campo do Direito. mas que vestiam a mesma camisa nos torneios, ficavam no banco de reservas, como se fosse ele o dono da bola – ou da bolada.

Avesso a direitos humanos, caça menores infratores
Avelar atribuiu, quando secretário de Segurança Pública, o aumento da violência na capital da República à ação de menores infratores. Segundo ele, a legislação brasileira permite que os adolescentes retornem às ruas rapidamente e voltem a cometer crimes. “Muito do que passa pela segurança pública no DF são problemas que passam pela legislação. Sofremos aqui com essa legislação branda que permite que menores cometam crimes bárbaros e continuem inflacionando os números, muitas vezes dificultando a atuação das autoridades policiais”. Ou seja, ele não reza a cartilha dos direitos humanos.

Trio perigoso que silenciou a PM
Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Essa característica de Sandro Avelar veio à tona quando oficiais e praças que trabalhavam no setor de Comunicação da Polícia Militar do Distrito Federal foram afastados sumariamente por ordem expressa do então secretário de Segurança Pública. O comando foi entregue a Iara Vidal. Simples avisos de pauta, remessa de matérias por e-mails e a manutenção do site da Polícia Militar só eram liberados após passar pelo crivo dela. Essa intervenção provocou constrangimentos. Muita gente chegou a admitir, na época, colocar no ar uma rádio pirata e criar páginas nas redes sociais, mesmo que a custa de fake news, para demonstrar seu descontentamento. Se o fizeram, devem existir até hoje, mesmo que no submundo virtual. Iara Vidal continua fiel escudeira de Sandro Avelar, tanto que chegou a dirigir a área de imprensa da Associação dos Delegados da Polícia Federal. Mas nem só de Avelar vive Iara. Antes de aceitar a missão para desalojar os militares, ela estava lotada na Secretaria de Comunicação do Palácio do Buriti, onde ocupava uma mesa em um confortável gabinete. Alessandro Mendes, marido de Iara, também ocupou um cargo de confiança no Palácio do Buriti. Juntos, eles dirigem (ou dirigiam) uma empresa de assessoria e consultoria de imprensa. Em função dessa empresa que vive (ou vivia) supostamente da produção de trabalhos jornalísticos, oficiais do Serviço de Informações da PM prometiam aprofundar investigações. O temor era o de que se difundiria uma imagem inexistente, transmitindo à sociedade um quadro de satisfação no âmbito da Polícia Militar, quando era sabido o clima de animosidade que reinava entre soldados, sargentos, oficiais e Sandro Avelar.

PM quer ver Avelar a sete palmos
Decididamente, Sandro Avelar, que sonhou ser deputado federal, viveu em rota de colisão com seus comandados. Patrício, ex-cabo da PM, representava a corporação no Legislativo brasiliense. Isso apesar de ser, nas palavras do secretário, safado, irresponsável etc etc etc. Talvez haja aí um pouco de briga de alcova.

Candidato frustrado
Na disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados em 2014, correu por fora Sandro Avelar, então apadrinhado por Filippelli; Passou pela secretaria de Segurança Pública sem conseguir reduzir a índices satisfatórios os números da violência e criminalidade. Com sua carteirinha de advogado, já era ligado a Ibaneis na época em que o governador afastado presidia a OAB-DF. Ah!, lógico. Não foi eleito.

Homem dos dossiês
Quando era secretário de Agnelo, Sandro Avelar preparou um dossiê para detonar Robério Negreiros, hoje líder do governador afastado na Câmara Legislativa. Ele decidiu, naquela época, que o deputado Robério pagaria caro a decisão de partir para o confronto com o ex-vice-governador Tadeu Filippelli, de quem queria tomar a cadeira de presidente do MDB na capital da República. A arapuca para pegar o jovem teimoso e intempestivo parlamentar, que se dizia respaldado com o braço forte que alimenta os cofres do pai, começou a ser montada em almoço regado a volumoso dossiê com imagens e áudio. O palco da armadilha foi uma mesa no Restaurante Oliver, do Clube de Golfe. A confraria dos comensais de Filippelli incluía o também emedebista Leonardo Prudente (deputado cassado no escândalo da Caixa de Pandora, escondendo dinheiro da corrupção nas meias) além do próprio Sandro Avelar.

Avelar bolsominion
Sandro Avelar acaba de retornar ao Brasil, após três anos como adido policial da embaixada brasileira em Londres. Coincidência ou não, quase o mesmo período em que o presidente fujão pensava dirigir o país. Foi indicado pela ala bolsonarista dentro da PF. Ou, em outras palavras – nunca é demais bater nessa tecla -, seria a imagem e semelhança da silhueta de Anderson Torres refletida no espelho.

Para a PM, Avelar é um frouxo
Praças e oficiais da PM não engolem Sandro Avelar. É delegado da Polícia Federal Foi secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Mas nem por isso deixa de ser um frouxo, segundo versão espalhada pelo ex-deputado Patrício (PT), ex- corregedor-geral da Câmara Legislativa de Brasília e desde aquela época, até hoje, amigo do peito da governadora em exercício Celina Leão. Resta saber se, com a defesa de Sandro Avelar para suceder Anderson Torres, o Cabo e a Leoa continuarão a degustar, juntos, taças de champanhe. Algo tão prazeroso como o caviar do Zeca: Nunca vi, nem comi. Eu só ouço falar.

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