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Ah, Paris...

Ciro, respeite os cabelos brancos dos brizolistas

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Fernando Tolentino - Foto de Arquivo

E se Ciro tivesse se revelado suficientemente forte a ponto de deixar Lula pra trás e o segundo turno fosse entre ele e o tresloucado presidente que tenta se manter no poder?

Seria evidentemente uma enorme frustração para mim, com meus 33 anos de eleitor de Lula, 25 deles como militante petista.

Mas seria um movimento inverso ao que fiz em 1989. É verdade que o PDT era outro, ao menos buscando assumir o ideário socialista de seu programa.

E o candidato? Nem dá pra comparar. Tínhamos o inesquecível Leonel Brizola, determinado a pôr em prática os compromissos adiados pelo golpe de 1964, que ainda lhe havia imposto um exílio de 15 anos.

Mas, naquele ano, eu era militante do PDT e integrava a coordenação da sua campanha em Brasília. Enfrentávamos a candidatura de extrema direita de Collor, ao mesmo tempo fazendo uma disputa renhida, mas leal e fraterna, com o PT de Lula para ver quem chegaria ao segundo turno.

Além dos três, havia outras 18 candidaturas, cinco delas buscando espaço no campo progressista. Estaríamos todos unidos no segundo turno. O primeiro candidato a convocar os seguidores para se incorporarem na campanha de Lula foi Brizola.

Não lembro de um só brizolista que fugisse àquela orientação.

Eu estava na primeira fila. E com tal entusiasmo que não deixei de votar no PT em todas as eleições seguintes.

Em 1998, Brizola reafirmaria o seu compromisso histórico, a fraternidade socialista e até seu senso de humildade, que tanto se questionava nele. Foi candidato a vice-presidente de Lula. Tinha justamente 74 anos. E uma disposição de fazer inveja.

Hoje, sou eu que tenho 74 anos. Faço campanha todos os dias para Lula, nossos candidatos a governador do Distrito Federal, a senadora, a deputados federal e a distrital. Nas horas vagas, aproveito os recursos virtuais e peço votos para candidatos de outros estados, especialmente Bahia e Goiás.

Eu me senti pessoalmente atingido pelas críticas preconceituosas de Ciro aos 76 anos de Lula. E tenho certeza que, além de profundamente injusto, ele feriu inúmeros companheiros até com mais idade e participação tão intensa quanto a minha.

Não só. Ao desdenhar a idade de Lula, une-se aos que achavam impróprio Brizola ainda apresentar-se como candidato a presidente em 1994 e a vice-presidente de Lula em 1998.

Felizmente, não serei obrigado a votar nele para derrotar o delinquente no que poderia ser o segundo turno desta eleição. E não somente por seu manifesto preconceito contra pessoas mais idosas. É tamanha a sua agressividade contra Lula que parece ser quem menos acredita nessa improbabilíssima hipótese. Se não fosse assim, não contaria com o nosso apoio.

Tanto, que não abre mão de se assemelhar ao famigerado presidente.

Ninguém poderia ser tão diferente do Brizola de 1989, 1994 e 1998, aquele que deu vida ao PDT. E é até difícil avaliar se iria de novo pra Paris ou se, desta vez, estaria no palanque do adversário.

*Fernando Tolentino, setenta e uns, e milhões de neurônios em plena capacidade de ação, é jornalista.

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