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Muita fumaça e pouco fogo

Com as queimadas, mundo mostra a cara ao Brasil

Publicado

Autor/Imagem:
João Moura

Amazônia pegando fogo, porradão verbal quente nas redes sociais, manifestações na Esplanada… O Brasil está em chamas, mesmo pós-eleições 2018. Ou será que a campanha eleitoral ainda não acabou?

A verdade é que, quando até o “cocô” vira assunto presidencial, os temas relevantes, de fato, ficam ausentes das manifestações diárias de um governante. Poucas vezes se vê Bolsonaro falar sobre saúde e educação, muito menos sobre economia.

No outro lado do mundo, quem diria, o Brasil foi um dos focos da reunião do G-7 no fim de semana. E o G-7 nem convidou o Brasil para discutir sobre o problema da “nova ordem mundial”. “Save the rainforest: kill Brazilians”.

Por aqui, nas terras brasilis, pesquisa divulgada, também sob o fogo que assola o país, mostra que a população apoia o presidente Bolsonaro e confia nele, mas não gosta do excesso de propostas polêmicas e de caneladas verbais.

Tem-se menos de oito meses de governo, que parecem muito mais pela intensidade e quantidade de polêmicas. O presidente inspira sentimentos ambíguos na população mas segue firme na sela, a ponto de alimentar no eleitor uma expectativa de desfecho positivo para sua administração, a despeito de problemas graves que persistem no país, como o desemprego e a excessiva carga tributária que mata a produção industrial, de bens e serviços, fechando empresas e perspectivas.

Mesmo assim e, deixando isso de lado, e também as manifestações da Esplanada em defesa de Moro e pelo impeachment da cúpula do STF, isso é só uma cortina de fumaça.

O alvo tem outro objetivo: frear o desenvolvimento do Brasil e atingir o mercado interno que foi incendiado pelos discursos de líderes estrangeiros sobre a Amazônia, provocando uma fuga de investidores da bolsa e queda na maioria das ações de empresas do mercado brasileiro.

Disputas ideológicas, travestidas de fatos científicos, construídas sobre a base de um imaginário catastrófico trazem, de volta, “Save the rainforest: kill Brazilians”.

Apesar de ser velha, essa história, não se trata de se basear em algum cenário catastrófico futuro que mobilize políticas públicas, apelo midiático ou emoções em torno da agenda ambiental contemporânea, mas sim de analisar factualmente que, independentemente de quem está certo, uma “crise internacional” entre Brasil e “países mais fortes que o Brasil” foi criada.

O contexto fica mais confuso quando as notícias em torno da pauta política brasileira (e internacional) misturam, ainda, queimadas com desmatamento. Queimadas são fenômenos que acontecem em períodos de seca, enquanto desmatamento é um processo de impacto ambiental que não está restrito a nenhum Governo de plantão.

Não é de bom alvitre um efetivo fechar de olhos e ouvidos para as demandas políticas e morais do mercado e da política global.

Os brasileiros (eleitores e não eleitores de Bolsonaro) não estão satisfeitas com o estilo de governar do capitão, com sua insistência em impor algumas pautas controversas como a flexibilização da posse e do porte de armas e, principalmente, com as declarações bizarras em série que se habituou a disparar no Palácio do Planalto.

Nesta semana, ele divulgou um vídeo de caça às baleias para desdenhar da preocupação ambiental da Noruega, que suspendeu o repasse de dinheiro para um fundo de preservação da Floresta Amazônica — as filmagens, porém, ocorreram na Dinamarca.

E o dia a dia presidencial (e mundial) segue repleto de ofensas, fake news e temas já superados na cena política brasileira, mas que são revividos e jogados como mini-bombas na sociedade.

A mobilização da base eleitoral bolsonarista — um núcleo de apoio barulhento nas redes sociais e fora delas -, segue também com a pauta desfocada, mas canelando também pais afora. Nem Bolsonaro, nem sua base eleitoral conseguem descentralizar a si mesmo e fazer a máquina Brasil girar com a “nova política” que saiu das urnas (se é que saiu mesmo?!). Por dois embates no Congresso, a pauta do governo só avançou depois de voltar às velhas práticas políticas do toma lá da cá na aprovação de propostas reformistas e domar a classe política de “cara nova”.

Se o ataque e a defesa compartilham da mesma premissa, não vamos sair dessa crise ética, moral e política.

Vivemos em uma sociedade aberta, que é uma espécie de orientação das nossas ações políticas, onde há pessoas que estão se fechando no seu pensamento egoísta, e há pessoas que combatem um pensamento egoísta que também é reflexo do nacional. Parece que estamos em uma arena onde tribos estão brigando, o que é regredir ao animalismo.

E a política, um princípio regulador, um princípio que orienta nossa ação e nosso pensamento, parece estar fadada ao fracasso, isolada na sua arena – ringue de ataques que fere a ferro e fogo o Estado do Bem Estar Social, previsto na Constituição brasileira.

Para responder a problemas gerais e a crises que enfrentamos, será de bom alvitre isolarmos a plateia do “Save the rainforest: kill Brazilians”. – “Salve a floresta tropical: mate brasileiros”, para que não haja interferências na peça desse teatro “dantesco” protagonizado por aqueles que deveriam universalizar a humanidade, mas que parecem excluir-se mutuamente.

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