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Justiça da democracia

Confiança na urna eletrônica cresce como bolo fermentado

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso - Especial para Notibras/Foto Fernando Frazão

Muitas das expressões que usamos hoje nasceram séculos atrás, com formas e sentidos diferentes. A tradição oral se apropria das palavras e seus significados e, naturalmente, promove adaptações conforme o contexto histórico. Cheio de nove horas é uma dessas expressões que poderia tranquilamente ilustrar o modus operandis transformado em mania e que permanece sendo utilizado por brasileiros que teimam em não acreditar no que o Brasil produz. E não se trata de descrédito sobre a produção nacional, tampouco prazer excessivo pelo que vem de fora. É só a necessidade íntima de ser do contra, embora não se tenha muito conhecimento a respeito do que não aceita.

No português do disse Onário, esse povo está mais para reacionário, que são aqueles que se opõem aos avanços e transformações sociais ou a tendências revolucionárias. Quer queiram ou não, faz 25 anos a urna eletrônica brasileira é um progresso tecnológico que inspira nações infinitamente mais adiantadas. Os conceitos de segurança e de desenvolvimento do sistema eletrônico de votação acompanham a evolução da tecnologia mundial. As duas coisas sempre andaram juntas. Desde sua criação, a confiança na urna eletrônica parece massa de bolo bem fermentada, pois cresce à medida que seus detratores tentam, em vão, violá-la.

Ou seja, o tempo só fez bem à maquininha “inventada” no quintal da Justiça Eleitoral e que há um quarto de século tem sua honra vilipendiada, mas que até hoje ninguém conseguiu provar a veracidade de questionamentos eventualmente apresentados. As razões são as mais diversas. No caso recente de supostas fraudes na eleição de quem nunca havia perdido um pleito, ficou bastante clara a intenção: justificar antecipadamente uma derrota que se desenha com cores vivas. Não há outra hipótese. Embora não seja demérito algum ser derrotado em uma disputa democrática, é mais fácil dizer que foi roubado.

Essa verdade passou a ser considerada a pior das mentiras quando ministros e técnicos mostraram ao Brasil e ao mundo que o Tribunal Superior Eleitoral dispõe de dispositivos muito mais eficazes do que uma fileira de VAR. E isso ficou ainda mais claro quando o TSE decidiu abrir para quem tivesse interesse o código-fonte da urna eletrônica. Convidadas para a amostragem pública, as Forças Armadas preferiram não participar. Seus representantes perceberam que o formato adotado para a verificação dará a necessária segurança para atestar a inviolabilidade do equipamento. Infelizmente, na avaliação das viúvas bozolíticas, uma eventual participação dos militares no processo daria credibilidade ao teste, consequentemente afiançaria a maquininha de votar.

A ladainha de meia dúzia do Ministério da Defesa contra a máquina não encontra eco na maioria das Forças Armadas, que não têm preocupação alguma com o sistema. Os que se manifestam no sentido oposto são sempre os mesmos. Eles são conhecidos como defensores da banalização da crítica, apostadores do caos e investidores do modo tanto faz. Negaram a pandemia por meses a fio. Com argumentos falsos e falhos, abominaram as máscaras, o isolamento social e a vacina. Eram favoráveis à liberação geral, mesmo que isso gerasse – como gerou – centenas de milhares de mortes. Agora, depois do sucesso da imunização em massa, mudaram raivosamente o discurso.

Bastou o presidente Jair Messias se manifestar contra o Carnaval para que os apoiadores mais radicais revissem conceitos e passassem a criticar a festa mais tradicional do país. Carnavalizaram Momo como haviam feito recentemente com a urna eletrônica. Fanatizados pelo mito que se notabilizou pela criação diária de micos, esses patriotas das histórias em quadrinhos não admitem o Brasil no século XXI. Querem o país de volta à época das diligências, da interminável seca do Nordeste, das bicas d’água nas periferias das grandes cidades, das longas filas nos supermercados em busca de gêneros de primeira necessidade e da roubalheira eleitoral gerada pelas cédulas de papel.

Enfim, torcem pela involução alheia como única forma de perpetuar no poder o suposto homem de ferro que eles idolatram. Na verdade, está mais para um boneco de neve derretendo rapidamente sob o sol escaldante. De longe, mesmo distantes do processo, espiritualmente os criadores do sistema não permitirão qualquer retrocesso na urna que já serviu, sem nenhuma queixa, aos eleitores da Argentina, México, Equador, Paraguai, Costa Rica e Panamá. O físico nuclear Paulo Bhering Camarão e os ninjas Paulo Nakaya, Osvaldo Catsumi Imamura e Mauro Hashioca estão bem vivos para impedir a sanha de aventureiros. Em apoio aos ninjas (é quase um deles), meu amigo Zé, apenas Zé, é outro que dorme sempre com um olho aberto em defesa da Justiça Eleitoral, segundo ele a verdadeira justiça da democracia.

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