Ética suja
Corrupção voa solta enquanto crescem ataques às profissionais do sexo
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É uma incoerência brutal se dizer contrário à prostituição com base em argumentos éticos e morais e, ao mesmo tempo, agir com violência ou agressividade contra quem vive ou escolhe viver desse trabalho. Que moral é essa que se manifesta no ódio? Que ética é essa que se expressa no desprezo?
Muitas pessoas afirmam se opor à prostituição em nome da “dignidade”, como se a dignidade estivesse no tipo de ofício e não na forma como a sociedade trata cada pessoa. Alegam defender valores, mas esquecem que o primeiro valor ético deveria ser o respeito. Se o que move essa oposição fosse de fato a preocupação com o bem-estar das pessoas, não haveria espaço para hostilidade, para humilhação, para a negação de direitos básicos.
É fácil posar de moralista enquanto se fecha os olhos para a desigualdade, para a vulnerabilidade social, para a falta de oportunidades que empurram muitos ao trabalho sexual. Mais fácil ainda é apontar o dedo, quando não se é alvo de preconceito, violência e exclusão. Difícil é escutar, compreender e defender a autonomia de quem, por diferentes razões, escolhe ou precisa trilhar esse caminho.
A verdadeira contradição não está na prostituição em si, mas na sociedade que julga quem vende o corpo, enquanto fecha acordos espúrios no conforto de suas gravatas. O problema nunca foi o sexo pago. O problema é o preconceito mal disfarçado de ética.
