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Adiar eleições, por quê?

Covid é o foco; agora é cada um no seu quadrado

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Autor/Imagem:
João Moura

O calendário eleitoral já começou e está sendo comprometido, assim pensa o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que externou sua vontade de adiar o pleito de 2020 para o próximo ano. A sugestão foi ventilada em conferência virtual juntamente com o presidente Jair Bolsonaro e dezenas de prefeitos neste domingo (22).

Fato é que a pandemia do novo coronavírus já afetou a pré-campanha para as eleições municipais em todo o país: reuniões com correligionários são suspensas, prévias adiadas e até acerto de contas com a Justiça Eleitoral está prejudicado.

O pano de fundo desse teatro todos já sabemos: isso é jogada para dar tempo ao Aliança – partido de Bolsonaro – sair do papel. Mas não vão assumir clara e publicamente isso, e passam a bola para os prefeitos trabalharem a ideia nas suas bases municipais. Até porque, se a ideia vingar, prefeitos e vereadores terão um mandato tampão.

Mas, se é pra adiar de verdade, vamos unificar já. E jogar eleições gerais para 2022. Essa é, na minha opinião, a melhor alternativa. Inclusive porque, num só pleito, as despesas serão bastante reduzidas.

Assim, jogar tudo para 2022 seria um grande ganho financeiro para o país (em crise) que, com eleições gerais em 2022, economizaria muito mais em tempos de recessão provocada peplo simples fato de o presidente subestimar o poderio do Covid-19.

Há quem se surpreenda e indague: Como assim o presidente do País subestimar o coronavírus?!

A resposta é sim. Pois, mesmo sabendo do risco à população, ele – Bolsonaro – mandou sim o povo ir às ruas para defendê-lo. Vídeo que comprova o incentivo do presidente circula nas redes sociais. E pelo visto, a sugestão do ministro Mandetta em adiar as eleições municipais foi um misto de espontaneidade, indignação e desespero.

Espontaneidade porque ele, como o técnico e gerente geral da campanha de combate à Covid-19 precisa, encontrar saídas para que o povo não se aglomere nas ruas e espaços públicos.

Indignação porque ele, como político, não vai poder atuar em campanha para eleger os seus correligionários em municípios de sua base eleitoral.

Por fim, desespero, porque o Aliança – partido criado para acomodar o grupo bolsolavistão -, não conseguiu registro para concorrer nas eleições municipais de 2020.

Na verdade, Bolsonaro inaugura o desgoverno como governo. Quer ser um vingador, paladino da justiça. Na sua busca em contrariar o corriqueiro da política, ele precisa da adesão irracional – e obteve de uma parcela da população brasileira, superior a 30%. No seu discurso, contrário ao mundo em guerra contra a Covid-19, ele diz que o Brasil precisa salvar a economia. Mas, que economia, se ele não entende de economia? Muito menos de ciência.

Portanto, é preciso que Bolsonaro aprenda a lição de que não se pode ir contra a ciência, contra o conhecimento, a educação… Claro que não existe nenhum mal que dure para sempre, mas a pergunta que fica é quando e se essa quarentena do Coronavírus vai passar?

Mandetta previu um aumento das infecções e contaminação da Covid-19 para abril, maio e junho, seguido de estabilização em julho e agosto com decréscimo da curva em setembro.

As eleições municipais, agendadas para outubro, devem não acontecer, na visão do ministro da Saúde, pois “eleição no meio do ano é uma tragédia, vai todo mundo querer fazer ação política”, disse. Ação política, é que o atestam os desafetos palacianos, que faltou em tempo hábil ao presidente.

Não estou dizendo que a disseminação do coronavírus não é de se preocupar. Muito pelo contrário. Tanto que, quando surgiu na China, todos subestimaram o seu potencial de contágio e os seu impacto global. Agora o momento é de pânico geral e não sabemos muito bem o que fazer com essa situação tão inusitada. Todo mundo em casa, tudo fechado, o País parado e o crescimento do PIB em 2020 tomou o caminho de Marrakesh.

Não sou fã de teorias da conspiração, mas fico desconfiado e investigo, sempre, as informações políticas e econômicas que estão circulando por aí. Na questão da saúde, milhões de brasileiros se prepararam para um período de isolamento para frear a disseminação do coronavírus.

A pandemia é grave, mas tem um prazo de validade. Só que em função disso não faz o menor sentido falar de eleições municipais agora. O melhor é que autoridades públicas – União, Estados e Municípios – foquem suas ações nas providências para se erradicar o mais rápido possível esse vírus que desafia a globalização do planeta.

Depois, sim, pode-se pensar na tese de Mandetta. Mas primeiro é bom tratar com o Congresso Nacional e o Tribunal Superior Eleitoral. Porque, como reza a Constituuição, cada um deve ficar estritamente dentro do seu quadrado.

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