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Reunião do Brics

Cúpula no Rio será marcada por ausências de peso

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Autor/Imagem:
Dora Andrade - Foto de Arquivo

O Rio de Janeiro volta aos holofotes da diplomacia global ao sediar, neste domingo (6) e segunda-feira (7), a reunião de cúpula do Brics, agora sob presidência brasileira. Mas, apesar do simbolismo do encontro em solo nacional, o evento deverá ser esvaziado: os líderes de duas das maiores potências do grupo, Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China), não virão ao Brasil.

A ausência dos chefes de Estado de Moscou e Pequim não é um detalhe qualquer. Ambos representam os pilares geopolíticos e econômicos do bloco, e sua falta enfraquece simbolicamente a reunião — ainda que enviados especiais devam participar das discussões.

O que é o Brics?
Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e, posteriormente, África do Sul, o Brics surgiu como uma articulação entre as grandes economias emergentes, fora da esfera de influência direta do G7 — grupo dominado pelos aliados ocidentais, liderados pelos Estados Unidos. O Brics se apresenta como a voz do chamado Sul Global, defendendo uma ordem internacional mais equilibrada.

Mais do que um clube de afinidades políticas, o Brics é um fórum diplomático para coordenação multilateral em temas como comércio, desenvolvimento sustentável, segurança internacional e reformas em instituições globais como a ONU, o FMI e o Banco Mundial.

Ao contrário de organizações formais, o Brics não tem orçamento próprio, nem sede ou secretaria permanente. Suas decisões são baseadas no consenso e dependem da implementação voluntária pelos países-membros.

Quem faz parte do Brics hoje?
Desde 2024, o Brics passou por uma expansão significativa e hoje conta com 11 países-membros:

Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul

Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Irã, Etiópia e Indonésia

Além desses, o grupo acolhe dez países-parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã — este último, o mais recente, anunciado em junho de 2025.

A distinção é clara: apenas os membros têm poder de voto e podem influenciar diretamente as decisões finais do grupo. Já os parceiros participam das discussões, mas sem direito a deliberação.

O termo BRIC surgiu em 2001, cunhado pelo economista Jim O’Neill, da Goldman Sachs, que previa o crescimento exponencial de Brasil, Rússia, Índia e China. O grupo começou a se reunir formalmente em 2006, e, em 2011, com a entrada da África do Sul, ganhou o “S”.

Em 2024, o bloco abriu as portas para mais cinco membros, e em 2025, a Indonésia se juntou ao time. Mais de 30 países já demonstraram interesse em fazer parte, mas o Brasil afirma que, no momento, não há previsão de nova ampliação.

O que é o Sul Global?
O conceito de Sul Global reúne países em desenvolvimento da América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, muitos deles com histórias de colonização, economias ainda em transformação e desafios sociais profundos. A ideia central é buscar uma voz própria no cenário internacional e romper com a hegemonia do Norte Global — ou seja, das nações desenvolvidas.

Curiosamente, alguns integrantes do Brics, como Rússia e Arábia Saudita, estão geograficamente no Hemisfério Norte — reforçando que o Sul Global é mais uma noção política do que uma coordenada geográfica.

O que se discute no Brics?
A presidência brasileira definiu como prioridades para este ano:

Cooperação em saúde global

Governança da inteligência artificial

Finanças e comércio sustentável

Ações climáticas conjuntas

Reforma do sistema multilateral de segurança

Fortalecimento institucional do Brics

Mesmo sem caráter deliberativo internacional, os consensos firmados no Brics influenciam posicionamentos diplomáticos, comércio entre os países-membros e projetos de desenvolvimento conjunto.

E o Banco do Brics?
O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco do Brics, foi fundado em 2015 para financiar infraestrutura e projetos sustentáveis. Com sede em Xangai e atualmente presidido por Dilma Rousseff (reeleita em 2025), o NDB já destinou mais de US$ 39 bilhões a 120 projetos.

Países não-membros, como Uruguai e Bangladesh, podem aderir ao banco, embora isso não implique entrada automática no Brics.

E o Arranjo Contingente de Reservas?
Outro mecanismo importante é o Arranjo Contingente de Reservas (ACR), uma espécie de “seguro financeiro” entre os membros. A plataforma disponibiliza até US$ 100 bilhões para socorrer países em crise cambial. A China lidera as contribuições com US$ 41 bilhões, seguida por Brasil, Índia e Rússia (US$ 18 bi cada), e África do Sul (US$ 5 bi).

Qual o peso do Brics?
Juntos, os 11 países do Brics concentram:

48,5% da população mundial

39% do PIB global

23% do comércio internacional

43,6% da produção mundial de petróleo

36% da produção de gás natural

72% das reservas de terras raras, insumos fundamentais para a tecnologia moderna.

Em 2024, os países do Brics responderam por 36% das exportações brasileiras e por 34% das importações.

Encontro aqui
A presidência rotativa é um princípio do grupo. Em 2025, o Brasil assumiu o posto, e o Rio foi escolhido como sede da cúpula. É a quarta vez que o país sedia o encontro — as anteriores ocorreram em Brasília (2010 e 2019) e Fortaleza (2014). No ano passado, a cidade de Kazan, na Rússia, recebeu o evento. Em 2026, será a vez da Índia.

Ausências notáveis
Embora o Brasil esteja promovendo um grande esforço diplomático — com mais de 200 reuniões realizadas ao longo do ano — a ausência de Xi Jinping e Vladimir Putin pesa no simbolismo da cúpula. Em um mundo em que alianças estão em constante rearranjo, a falta das duas maiores potências do bloco levanta dúvidas sobre o vigor e a coesão do Brics em um momento de transição geopolítica global.

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Dora Andrade é Editora de Economia de Notibras

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