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Madame malcriada

Depois do iogurte e da camisinha, hoje o velho sexy não é mais do que um gemido

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Prdução Editoria de Artes/IA

Só aos 40 anos, depois de ter sido apresentado ao iogurte com polpa de frutas, é que fui descobrir que zumba zumba na cueca, termo do folclore português, é a referência do nosso genérico tchaca tchaca na butchaca, algo como vuco vuco na chibata. Foi nessa época que também fui apresentado à Merguez, um tipo de salsicha francesa. Antes disso, Merguez sempre foi para mim a impenetrável dona de uma das casas de facilidades da Vila Mimosa, aprazível local do centro do Rio de Janeiro, onde normalmente os jovens de minha época se tornavam habitués do perfume das famosas rosas mosquetas.

Nunca é tarde para assimilar o que a gente sabe pouco e conhece menos ainda. Por exemplo, custei a entender por que todos os dias, ao voltar da escola pública, minha mãe perguntava se eu havia aprendido tudo. Como aprendi tudo se no dia seguinte eu tinha de voltar! Levei décadas para desenvolver os experimentos da mente. O tempo – sempre ele – foi meu grande mestre. Tanto que hoje digo às filhas, netos e afins o quanto o envelhecimento me tornou mais sexy. Como qualquer sexagenário, tento sempre, mas qualquer esforço é um gemido. É o que sobra para os mais velhos.

Nada que me que incomode, pois mantenho a tese filosófica de Aristofódeles, irmão caçula de Aristóteles, para quem o tempo tira a arma do guerreiro, mas não tira a vontade de lutar. Tchaca tchaca na butchaca não tem um milímetro de metáfora. São todos os centímetros da chibata chibatando. Será essa a nova filosofia da alcova, conhecida popularmente como masmorra erótica? Não sei. Também desconheço a razão pela qual os bem-dotados precisam jocosa e comumente rebatizar o trem miúdo e de plástico dos mais velhos de bigulim. Parece sacanagem premeditada.

Lembro aos gozadores que também já fui jovem, robusto, animado, enérgico, vigoroso, taludo e mentiroso. Só para ilustrar e perder pontos com a patroa, nada mais marcante e vergonhoso do que a primeira vez em que fui obrigado a usar a abominável cobertura de bilaus, o tal preservativo. Imaginava o saquinho como touca de dormir. Por isso, jamais a usei. Fui experimentá-lo com a rica balzaquiana da rua detrás. Desavisadamente, antes do zumba zumba na cueca, estava eu testando a touquinha na cabeça superior, quando fui surpreendido.

Foi aí que, já pronta para a peleja, a madame adentrou o compartimento da saliência e, aos berros, me disse que aquilo era usado naquilo e não na cabeça de usar chapéu. Envergonhado e sem ter onde enfiar as duas cabeças, respondi secamente à ilustre senhora que estava somente alargando a tal camisinha. Ela acreditou, imaginando tratar-se de uma anaconda amazônica. Vergonha dobrada foi quando ela, me olhando de alto a baixo, denominou a coisa de minhoquinha de pescar lambari. Nunca a perdoei pela malcriação. Obviamente que sumi do mapa.

É mentira que minto. A verdade é que os perrengues foram importantes aprendizados em minha vida pregressa, presente e futura. Tudo em nome da inteligência, hoje mais manual do que digital ou artificial. Vale registrar que sou neto, filho, sobrinho, genro, afilhado e agregado daquelas inesquecíveis fofoqueiras das ruas Direita, Esquerda e Central dos subúrbios do Rio de Janeiro. Honrosamente, essas senhoras são o que podemos chamar de primórdios das redes sociais. Sem os atuais aparatos tecnológicos, elas, brilhante e briosamente, se comunicavam por meio do então sistema Windows, abrasileirado para janelas. Por causa delas (as senhoras), hoje quase ninguém pula mais a cerca. Entram pelas janelas. E aí…é tchaca tchaca na butchaca.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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