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Poder e manipulação

Dilemas morais ficam manchados com ações de Jair Bolsonaro

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Autor/Imagem:
João Moura* - Foto de Arquivo/Marcelo Camargo/ABr

Após o atropelamento sofrido nas urnas, uma questão inevitável passou a macetar o modelo bolsonarista de fazer política: não ficar parado e permanecer a favor do vento que soprava e alienava multidões. Virou tempestade, a ponto de terroristas invadirem e depredarem a Praça dos 3 Poderes em Brasília. Foi ali que os líderes daquele esquadrão de loucos viram a oportunidade de transformar um problema em uma oportunidade.

Ao fazer convocações para atos com seus apoiadores, o ex-presidente Bolsonaro não deixa seu falecido desgoverno descansar em paz. Mesmo já estando inelegível até 2030, ele busca exercer seu poder de manipulação. Seu aliado de sempre – de comícios pró-ataque ao Estado Democrático – é o pastor Silas Malafaia – que diz ser o ministro Moraes seu alvo, e não o STF.

Acontece que um é pastor imbricado e o outro um ex-presidente desnorteado. Ambos formam uma dupla que vem querendo aparvalhar o Brasil. E junto com Michelle, dizem que vieram ‘para implantar o reino de Deus na Terra’. A tiracolo, o reforço de Elon Musk.

Se o reino de Deus na Terra é isso – retratado nas falas dos atores do ato no palanque das narrativas fakes – imagino o que será o inferno. Aliás, não precisa imaginar, já o vivemos de 2019 a 2022. O certo é que a maioria de nós não vê o abismo até cair nele.

Está na hora de se adotar uma nova maneira de olhar para o que nos rodeia e o que temos em mãos, a começar pela Constituição de 1988. As democracias funcionam quando o Direito e a Constituição não são controlados por quem detém o poder político. Constituições são esperanças de futuro, e a nossa, sem dúvida, ‘é a melhor do mundo’.

Fora da Constituição não há salvação para a democracia brasileira. Só dilemas morais, poder e manipulação. Em muitos casos, os dilemas morais envolvem um conflito entre o que é certo e o que é conveniente, colocando os indivíduos em uma encruzilhada moral onde não há uma resposta claramente correta. Essas situações desafiam não apenas a capacidade de raciocínio ético, mas também a integridade e o caráter das pessoas envolvidas.

Os dilemas morais são uma parte inevitável da vida humana; estão presentes em todas as esferas da sociedade, desde questões pessoais até decisões de políticas públicas. Lidar com essas situações requer reflexão cuidadosa, consideração das consequências de longo prazo e, às vezes, coragem para fazer o que é moralmente certo, mesmo que seja difícil ou impopular.

É através do enfrentamento e da resolução desses dilemas que os indivíduos podem desenvolver e fortalecer seu caráter moral e contribuir para uma sociedade mais justa e ética.

Mas, como se defender de pessoas manipuladoras? A manipulação pode ocorrer em diversas formas de relacionamento, desde o ambiente de trabalho até os relacionamentos pessoais e políticos. Pode mesmo ser difícil de detectar, especialmente quando é feita de forma habilidosa e dissimulada.

Quando o poder é exercido de maneira abusiva ou manipulativa, pode resultar em danos emocionais, psicológicos e sociais para o alvo dessa manipulação. Ou seja, não há possibilidade de reino de Deus na Terra com mentiras e manipulações.

A manipulação envolve o uso intencional e muitas vezes sutil de táticas persuasivas para influenciar o comportamento, as emoções ou as decisões de outras pessoas em benefício próprio, muitas vezes às custas do bem-estar dos outros. Isso pode incluir o uso de mentiras, distorções da verdade, chantagem emocional, flerte com sentimento de culpa ou medo, entre outras estratégias.

Indivíduos podem desenvolver e fortalecer seu caráter moral e contribuir para uma sociedade mais justa e ética. Isso, porém, claramente não é o caso dessa dupla e seus asseclas. Bolsonaro trabalha na subversão; ele trabalha na deterioração dos poderes da República. Ele trabalha na ideia de fazer com que as pessoas não acreditem nos poderes constitucionais. Com essa prática não há nenhum reino celestial que se estabeleça.

No vácuo existencial de Bolsonaro, Malafaia e Michele, muitos se deixam manipular pelas suas invencionices acerca de quem está a serviço (e em defesa) da Constituição e se posicionando como guardiões do Estado Democrático de Direito. Não acredita? É só observar os comícios promovidos por esse trio, especificamente os mais recentes – repletos de histórias aleatórias, improváveis e inconsequentes.

Os problemas do Brasil não são causados pela Constituição, pelo STF, mas sim por falsos líderes, falsos profetas. Por irresponsáveis e mentirosos. Precisamos encontrar maneiras de superar nossa resistência natural àquilo que não queremos ouvir ou crer. Não devemos falhar na vigilância e resposta à doença chamada ditadura, seja ela qual for.

*João Moura é Designer Thinker e observador da anatomia de governos e sociedade.

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