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Os fantasmas

Direita quer tirar Lula e Fernández por aproximação com China

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César Fonseca/Via Pátria Latina - Foto Ricardo Stuckert

Os peronistas-kirchnetistas de 2003-2007 e de 2007-2015, na Argentina, Nestor e Cristina, levaram a Argentina para a esquerda social-democrata, na fase progressistas latino-americana. O intervalo neoliberal de Mauricio Macri foi um desastre, sendo substituído por Fernandez que não conseguiu administrar a herança maldita.

Sem segurança para tocar novo mandato, cercado pelo neoliberalismo radical do FMI, Fernandez renuncia à reeleição em face do racha dentro das forças peronistas propensas ao radicalismo com o qual não comunga. Mas, ao mesmo tempo, Macri, por ter sido fracasso completo, tão pouco topa o desafio, agora, temeroso de novo fracasso.

Acossado pelos fascistas, que a tentaram assassina-la e ainda submetida ao lawfare e fake news de toda natureza, Cristina, cotada para novo mandato, também tem pela frente a divisão do justicialismo cercado pelo FMI com sua radicalidade monetária pronta para ser sabotada peronismo mais uma vez.

Resultado: nem a direita ultraneoliberal inspira confiança na população socialmente excluída, nem a esquerda peronista dividida dispõe de unidade para ser eventual vencedora depois do estrada da inflação de 70% que destroçou, particulmente, as forças de Fernandez.

Quem preencherá o vácuo?

Lula sob ataque
Vitorioso por pequena margem que estimula os nazifascistas a se atentarem contra o governo nas suas primeiras horas de governabilidade instável, Lula está sendo sabotado por todos os lados do radicalismo ultraliberal que se armam para derruba-lo, como se a democracia brasileira fosse brincadeira de crianças malvadas.

As promessas de governança social-democrata ou socialista, com melhor distribuição de renda e avanços sociais têm sido o atrativo capaz de arregimentar o eleitorado de esquerda.

Mas, a direita apoiada pelos rentistas especuladores se mostra com fôlego de sete gatos.

Carente de quaisquer condições de oferecer nada mais do que arrocho fiscal e monetário, incapaz de assegurar governabilidade e desenvolvimento sustentável, dada sua dependência crônica de poupança externa, imposta pelos ditames do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, a direita não tem futuro eleitoral seguro.

Esses dois instrumentos institucionais de governabilidade imperialista americana implantados no pós segunda guerra mundial trazem os países da periferia capitalista, especialmente na América Latina, debaixo de duros cabrestos comandados por políticas fiscais e monetárias articuladas por bancos centrais, obedientes à banca privada, que inviabilizam crescimento econômico com justiça social.

Resistem como podem ao terceiro mandato lulista, pois se der certo, consertado com interesses populares, emplacaria o quarto ou quinto mandato deixando a direita à deriva por muito tempo.

Lição da história
Depois da crise da dívida do final dos anos 1970, quando o excesso de liquidez mundial em dólar levou o Banco Central do Estados Unidos (FED) a puxar as taxas de juros de 5% para mais de 20%, em nome da salvação do dólar, os países devedores entraram em bancarrota e as ditaduras militares latino-americanas desapareceram.

O futuro para a esquerda se abriu para futuro teoricamente promissor.

O jogo do FED de puxar brutalmente os juros, como Paul Volker fez em 1979, substituiu os ditadores e colocou no lugar deles o receituário do Consenso de Washington, para impor governabilidade neoliberal: metas inflacionarias, superávits primários e câmbio flutuante.

Com essa estratégia, os bancos centrais na periferia, que não respondem aos governos nacionais eleitos, mas ao Banco de Compensações Internacionais (BIS), denominado banco central dos bancos centrais, com sede na Basiléia, comandados, em última instância pelo imperialista FED, substituíram ditadura militar por ditadura financeira, depois da guerra fria nos anos 1990.

Sai militar, entra neoliberalismo
É o caso, por exemplo, do Banco Central Independente (BCI) do Brasil. Em vez de colocar militares para conter os preços, batendo nos sindicatos, o BIS e o FED passaram a orientar os bancos centrais a trabalharem o tripé neoliberal: superavit primário, meta inflacionária e câmbio flutuante.

Quem não consegue se manter nesse ajuste é submetido às reformas neoliberais: redução dos salários, arrocho nas aposentadorias, cortes de gastos com saúde, educação, infraestrutura em nome dos ajustes sociais.

O diagnóstico da ditadura financeira era a de que inflação decorre do excesso de demanda, sendo necessário, portanto, corte geral de gastos desconsiderando-os como investimento, demanda disponível para consumo.

Tal tática virou o santo graal do noticiário econômico, para ajustar economias capitalistas periféricas de modo a garantir pagamento de juros e amortizações da dívida, enquanto são aceleradas as privatizações do petróleo, dos minerais, liberados do pagamento de ICMS sobre produto primário e semielaborado, para garantir eficiência ao setor privado, visto que o setor público, aos olhos do BIS-FED-BCI, é incompetente.

Incompatibilidade com democracia
A contradição insolúvel que emerge é que o ajuste neoliberal é impopular, por não garantir voto na urna. A democracia vira empecilho e exige derrubada de governos democráticos que prometem distribuir renda e melhorar a vida da população.

No Brasil, por exemplo, depois da queda do regime militar, derrubado pelo ajuste necessário para impor medidas capazes de pagar dívida externa contraída pelos militares nacionalistas, os governos neorrepublicanos não suportaram os arrochos fiscais e monetários. Tiveram que partir para mágicas para combater a inflação, especialmente, a partir do governo FHC.

O presidente tucano sobrevalorizou o câmbio para conseguir segundo mandado, mas nunca mais obteve vitória nas urnas. Derrubou inflação, mas fez explodir a dívida interna que depois, com Lula, virou dívida externa internalizada.

FHC deixou dívida impagável, inflação, desestatização criminosa, desajuste cambial, desindustrialização e desemprego, tornando-se incapaz de gerar políticas sociais., na medida em que se obrigou a manter juros bem acima do crescimento do PIB, gerando desigualdades sociais e instabilidades cambiais.

Direita de um mandato
Para conseguir dois mandatos, FHC teve que ajoelhar duas vezes aos pés do FMI. Resultado: os tucanos não ganharam mais eleição do PT e somente conseguiram chegar lá unindo-se à ultradireita para dar o golpe em Dilma Rousseff, em 2016, impedir candidatura de Lula, em 2018, e impor governo entreguista de Temer e neofascista de Bolsonaro.

O bolsonarismo, sem apelo popular, não se reelegeu, tentou dar golpe nazifascista e diante de expectativas de novas derrotas vindouras, arma novos golpes, como o que aconteceu em 8 de janeiro de 2023, prenunciando que não deixará Lula governar com uma pauta social e econômica sustentável.

Para inviabilizá-lo, depois de prendê-lo sem provas, por meio da farsa da Operação Lavajato, armam contra ele o golpe financeiro do Banco Central Independente(BCI)e tentam impedi-lo de aproximar da China e da Rússia.

Fernandez e Cristina golpeados
O mesmo processo histórico colonialista tentam impor à Argentina. O presidente Fernandez, sob a sangria do FMI, que lhe corta crédito e impõe terapia ortodoxa ultraneoliberal, sofre derrubada com antecedência na Casa Rosada, antes da realização das eleições preliminares (PASO), para escolha das candidaturas que disputarão em outubro, para melar o jogo eleitoral, já que o candidato da direita, Mauricio Macri teve que desistir por se mostrar inviável aos propósitos da direita de ter candidato competitivo.

Vão aos direitistas buscar candidato que não existe para ganhar dos peronistas, enquanto leva os aliados de Peron à impossibilidade de uma candidatura de unidade forte.

Ao mesmo tempo, lança guerra contra aquela candidata que tem condições de continuar com a proposta peronista-kirchenerista, submetendo-a a um processo de lawfaire e fake news, construído no laboratório da direita em composição com Washington e FMI, intransigentes contra a possibilidade de a esquerda, novamente, vencer nas urnas.

Há, portanto, um claro processo de provocação nazifascista na Argentina para evitar políticas distributivistas de renda por meio de ajuste fiscal que impeça sobrevivência da democracia.

Efeito China
Toda a movimentação da direita nazifascista pro-Washington promovida na Argentina – e no Brasil – visa inviabilizar a união das forças democráticas portenhas-brasileiras para se aproximar da China para que chineses possam promover o comércio entre os dois países em moedas locais. Seria duro golpe na Doutrina Monroe.

Kristina Wazilieva, diretora geral do FMI desancou o governo Fernandez, colocando todo tipo de dificuldade para liberar recursos para Buenos Aires que se encontra garroteada em sua política cambial.

A carrasca do FMI disse, na reunião da entidade em Washington, que compreende dificuldades da Argentina diante da seca que castiga o país, responsável pela inflação, que superou a casa dos 70%, mas que espera esforço adicional de Fernandez para fazer o ajuste fiscal necessário. Vale dizer, quer puxar as cordas para enforcar os argentinos.

FMI = BCI
o FMI se comporta com a Argentina do mesmo modo que BCI brasileiro trata o governo Lula. Finge entender que o arcabouço fiscal e monetário de Fernando Haddad está no rumo certo, mas não o leva em conta como fator capaz de reduzir as taxas de juros de modo a promover retomada do crescimento econômico sustentável.

Utiliza as regras do BCI atentas não ao interesse do Brasil, mas aos do Banco de Compensações Internacionais (BIS), sintonizado com os objetivos do sistema financeiro internacional especulativo cuja visão é a de sustentar juros altos para continuar garantindo expansão sem limite do capital especulativo rentista sem correspondência com a economia real.

Essa estratégia ultraneoliberal somente prospera com ditadura dado que é incompatível com a democracia.

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