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Dono da frigideira

Dopamina política contagia Planalto no caso Guedes

Publicado

Autor/Imagem:
João Moura

A dopamina, após ser produzida no tecido da sociedade seja lá em que circunstâncias, é transportada para partidos políticos através de líderes de suas respectivas bancadas – de centro, de esquerda, de direita, de lado, de bandos… Sua liberação política envolve um processo de exocitose, ou seja, ao ser liberada por meio dos partidos políticos, se funde à membrana plasmática da célula social, liberando o líder neurotransmissor para fora. Um processo grandioso, mas…

Nada grandioso entra na política brasileira sem uma maldição (que herde ou que deixe). Foi assim com Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro. Evidentemente que os métodos de cada um são diferentes. Mas o princípio é o mesmo.

No mandato de presidente, Jair Bolsonaro está se tornando um “fritador” emérito. Basta ver o que aconteceu com Moro, Mandetta. Procedimentos que levaram os dois a deixar o governo.

Agora, mais um processo de fritura está em pleno andamento com seu famoso Posto Ipiranga Paulo Guedes. Só que o ministro é ex-Pactual, tem dinheiro a dar com o pau, não dá ponto sem nó e para pôr Bolsonaro na frigideira em seu lugar não custa.

Vejamos os fatos, em fogo não muito brando, que Bolsonaro acha que vai impondo à fritura de Guedes:

Quando o capitão Jair pediu recursos para o seu Renda Brasil, Guedes selecionou justamente o dinheiro dos idosos, dos incapazes, dos aposentados do INSS.

Evidentemente, sabia que o presidente, nesta fase povão, não iria aceitar.

Veio então a história do cartão vermelho.

“Isso não foi comigo”, bradou Paulo Guedes, na maior cara de pau, como se as sugestões que saem do Ministério da Economia não passassem pela sua análise antes de ser implantada ou divulgada a título de balão de ensaio.

Paulo Guedes sabe que ser integrante do baixo clero na Câmara dos Deputados, e despachante dos militares na Casa, é função muito mais fácil do que a de dirigente do Pactual. Basta ver as performances de Luiz Cezar Fernandes, André Jakurski e André Esteves, gente que dá nó em fumaça. Por isso mesmo ele deixará o ministério quando quiser, mesmo que, na oportunidade, Jair Bolsonaro ache que foi ele que tomou a decisão.

A maldição do governo Bolsonaro transformou nossa atenção. Ele, que posava de paladino da moralidade sem nunca ter sido, se tornou no político mais cobiçado para eliminar a maldição deixada pelo PT. Mas, a emenda está se saindo pior do que o soneto. Somos, em outras palavras, os trouxas que acreditaram em Collor, os fiscais do Sarney arrependidos por ter acreditado em FHC, Lula, Dilma… E agora no capitão.

A dopamina política bolsonarista está relacionada com o chamado sistema de recompensa – o famoso toma lá, dá cá – que sempre reinou na política brasileira. Trata-se de um circuito de divisões iguais às famosas “rachadinhas”, “mensalões” e “mensalinhos” influenciando diretamente o destino do Brasil.

Esse sistema corrupto e corruptor garante a motivação para realizar certas atividades, como a sensação de felicidade quando, achando que estão fazendo muito, deputados fatiam o orçamento público ao bel prazer de seus delírios. Quando os recursos do orçamento da União são liberados via emenda parlamentar, eles liberam a dopamina em regiões específicas do Brasil, causando o aumento da sensação de prazer dos seus eleitores. Mas, o gozo maior vem de suas relações de promiscuidade com o governo, numa eterna esquizofrenia política.

Ações como as da operação Lava Jato visam a remediar os sintomas. Não são capazes de curar o paciente-Brasil que cambaleia, cai, levanta e herda cada uma das maldições deixadas por seus governantes. E se a operação fracassar, como parece, vão querer jogar a culpa na dopamina.

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