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Esse Bolsonaro...

Dos vários brasis, o melhor ainda é o Brasil livre e sem fome

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Mathuzalém Junior* - Foto Marcelo Camargo

Costumo lembrar sempre a meus cinco ou seis leitores que não tenho filiação partidária. Dito isto, reitero que não sou simpático a Luiz Inácio e que, na mesma proporção, sinto certa ojeriza por Jair Messias. Como pagador de impostos, profissional de imprensa e assistente privilegiado das mazelas de Brasília e do Brasil, ocupo 100% dos meus 100% de ociosidade para observar atentamente e narrar sem bandeiras ou colorações os fatos políticos que graçam para onde aponta meu nariz. Atônito, nesse 7 de Setembro, antigo Dia da Independência, descobri que os três maiores problemas da Nação e dos 212 milhões de nativos são o voto impresso e os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso, ambos do Supremo Tribunal Federal – Barroso, também presidente do TSE. Os quase 15 milhões de desempregados, os 19 milhões de esfomeados, os 584,1 mil mortos pela Covid, a crise elétrica que se avizinha e a gasolina a R$ 7 são apenas detalhes.

Como diz o ministro da Economia, Paulo Guedes, não adianta chorar. E ele tem razão. Não somos um país de maricas. Portanto, uma simples gripezinha, meia dúzia de comunistas boquirrotos ou três ou quatro magistrados que atrapalham o trabalho não seriam capazes de conter a “massa” bolsonarista na sanha de se manifestar claramente para blindar a grife política denominada Bolsonaro. Somente para isso, porque, convenhamos, trabalho não é o forte do clã. O Brasil está de problemas até o topo, mas a raiz do bolsonarismo é o golpe. Por isso, apesar do isolamento político do presidente e da rejeição internacional ao que é nosso, o protesto da Independência se converteu na oportunidade para o mito mostrar que ainda consegue mobilizar as ruas. Pelo que vi, realmente tinha muita gente, mas muito pouco para levá-lo ao segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Nos bons tempos do Maracanã, qualquer FlaxFlu rendia mais público.

Do Rio de Janeiro, um velho e querido amigo de infância (hoje militar de alta patente) me acordou no Dia da Independência com a seguinte afirmação. “Aproveite bem o dia maravilhoso e o exemplo de cidadania e amor ao Brasil que está acontecendo hoje por aí”. Com educação, perguntei se ele realmente achava isso. Demonstração golpista é cidadania?, insisti. Diante do silêncio, lembrei a meu interlocutor que o país é de todos, mas que, em nossos dias, infelizmente, cada um tem o seu. Lembrei também que eles (os operadores do golpe) perseguem e execram um ladrão, mas defendem e idolatram um cidadão cuja honestidade física, emocional e espiritual é colocada à prova quase que diariamente. Coisas da democracia que vocês querem jogar no lixo, escrevi na resposta ao amigo de antigas lamúrias. Reiterei que a ostensiva e violenta ideia de proteger a grife que se apossou do Planalto pode ter efeito contrário.

O silêncio do outro lado do zap me fez crescer nas tamancas número 42. Contra quem vocês lutam? Contra mim, que defendo um país melhor, sem roubalheira, menos desigual e com democracia plena? Contra comunistas? Que comunistas? Como mais uma vez não houve resposta, estiquei minha tese. Defender a invasão do STF e do Congresso não é democracia. Demonstrar força quando não se tem voto me parece complicado. Pior ainda é esquecer que o Brasil está à beira de uma catástrofe hídrica, consequentemente energética, e, política e ideologicamente, afastado das nações que poderiam nos socorrer eventualmente. Antes nosso principal parceiro econômico, a China de Xi Jiping quer nos ver pelas costas. E os Estados Unidos? Definitivamente mudaram nossa capital para Buenos Aires. Enquanto isso, a ordem é criar falsos problemas e governar exclusivamente para o cercadinho.

Voto auditável, Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso são pautas da eterna ordem do dia bolsonarista. São a bala de prata do presidente da República.

Ao mesmo tempo, a claque do Jair não percebe que a franquia polítical chamada Bolsonaro ainda não disse a que veio. É mentira? Perguntei ao amigo patriota o que ele achava de uma manifestação em defesa da nação e do povo sem uma faixa pedindo governo, mais emprego e menos radicalismo. A resposta chegou no meio da tarde: “Qualquer pessoa de bem não vai concordar com ameaças de invasões/ameaças ao Supremo. Onde nós estávamos antes de 2018?”. Não entendi a amplitude da indagação, mas respondo agora: estávamos infinitamente melhor do que estamos. Tínhamos governo, realmente éramos a maior democracia da América Latina

Ainda mais relevante, éramos a oitava economia do mundo, recordistas mundiais em vacinação, invejados pelo simplório, brilhante e impenetrável sistema eletrônico de votação e, o que é mais importante, muito, mas muito mais longe da temida venezuelização. Nos associar aos infortúnios do país de Nicolás Maduro era apenas uma figura de retórica. Hoje ela é uma realidade. Em tempo, assistir o bom piloto e melhor acertador de carros Nelson Piquet conduzindo titio Jair Bolsonaro no Rolls Royce presidencial me fez confirmar duas consolidadas teses, uma mais antiga e outra bem recente: Ayrton Senna foi muito melhor do que Piquet, tanto que, mesmo após 27 anos de sua morte, continua idolatrado pelos brasileiros. Sobre Bolsonaro, a história certamente o colocará entre o pior do Brasil. Ou será do mundo? Quanto ao amigo querido, somos filhos desses brasis. Ele tem o dele. Eu não abro mão do meu Brasil livre e sem fome.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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