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Tá feia a coisa

Economia do bate-rebate da recessão e depressão

Publicado

Autor/Imagem:
João Moura

Normalmente considera-se que um país está passando por uma recessão quando ele apresenta dois trimestres consecutivos de PIB retraído. Quando o período de recessão se prolonga e atinge várias esferas da sociedade, temos o período de depressão econômica.

Estamos vivendo numa crise e um longo período caracterizado por numerosas falências de empresas, crescimento anormal do desemprego elevado, escassez de crédito, baixos níveis de produção e investimento; tudo isso é colocado na conta do vírus covid-19 que avançou mundo afora.

No Brasil, os números não são nada animadores para a equipe econômica e muito menos para a população, que sofre com os efeitos da crise sanitária no país, avançando pelos lares e afetando o bolso das famílias.

O IPCA-15 – indicador considerado a prévia da inflação, acaba de dar um salto de 0,72% em julho, bem acima dos 0,64% projetados pela média do mercado. Esse resultado é o mais elevado para o mês desde 2004.

No ano, só esse indicador já acumula alta de 4,88% e, em 12 meses, 8,59%. O maior impacto veio do setor da habitação, que subiu 2,14%, sendo que os maiores responsáveis seguem sendo os custos com energia elétrica.

O índice de preços segue bem acima da meta de inflação do governo para o final do ano, que é de 3,75%, e do teto, de 5,25%.

Tudo isso gera impactos profundos no setor industrial, de serviços, no emprego e na renda. Um levantamento da Abinee, realizado em junho, apontou que, em função da escassez mundial de chips, mais de 40% das fábricas de produtos eletrônicos, como TVs, notebooks e celulares, registraram atrasos ou interrupções na produção.

A porcentagem da indústria desse setor, que interrompeu parte da produção por falta dos componentes, chegou a 12%. É o maior patamar desde fevereiro, quando a pesquisa, da Abinee começou a acompanhar essa situação. Com esse momento de crise na produção mundial dos chips, a demanda pelo produto está grande e oferta pequena, beneficiando as empresas do setor, mas afetando outras vertentes da economia.

Entre as montadoras de carros pelo País, segmento mais afetado pela crise da pandemia do novo ronavírus, mas que está fora desse estudo da Abinee, há diversos relatos de interrupção total da produção.

Numa outra ponta, após recorde de R$ 142,1 bilhões em maio, a arrecadação tributária federal ficou em R$ 137,1 bilhões em junho. No consolidado do primeiro semestre, a arrecadação somou R$ 881,9 bilhões, uma alta de 24,4% em relação aos primeiros seis meses de 2020. É o maior volume para o período em toda a série histórica iniciada em 2007.

E, por último, uma nova regra, criada pela Receita Federal – a Instrução Normativa RFB 2.033, de 24 de junho, dispondo que sobre a obrigatoriedade do envio de informações sobre operações realizadas no mercado financeiro e de capitais, que obriga a bolsa de valores e as corretoras a informar todos os investimentos feitos por pessoas físicas em ações, BDRs, ouro e fundos de diversas modalidades.

A Instrução Normativa teria que ser colocada em prática a partir de 1º de julho. Porém, por ora, a medida está suspensa porque o próprio Instrução determina que os dados só podem ser compartilhados com a autorização prévia do contribuinte.

Ainda não se sabe como será o processo para validar o envio. Para a B3 – a Bolsa de Valores Brasileira -, a solução será fazer autorização por meio da área logada do investidor no site, que passou por reformulação recente. Caso os clientes dessas entidades – bolsa de valores e corretoras – não enviem a autorização, está prevista multa entre R$ 500 e R$ 1.500 por CPF.

Buscando reverter a crise, e conter a depressão que beira a economia brasileira, o governo estuda recriar o Ministério do Trabalho, repaginado com outro nome, possivelmente buscando o emprego e a ocupação para um batalhão de desempregados que está próximo dos 15 milhões de cidadãos que buscam emprego no mercado de produção, indústria e serviços.

É a cartada final de um governo desesperado – não com a crise sanitária em si – mas com o rearranjo de suas posições políticas na ânsia de se reeleger e manter-se no poder por mais quatro anos. Mas, tá feia a coisa! É preciso inovar – e renovar – o Brasil para o enfrentamento dos desafios que ainda estão por vir.

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