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Amor dissipado

Entre as Brasas do Adeus

Publicado

Autor/Imagem:
Luzia Couto - Foto Francisco Filipino

Já não sentes mais a ausência dele,
nem o desejo de tê-lo ao alcance do toque.
O perfume que antes te envolvia
se dissipou como névoa sem memória,
e os beijos, outrora doces,
tornaram-se amargos como vinho esquecido.

É tarde para resgatar o brilho dos passeios sob a lua,
ou a ternura de um abrigo compartilhado na chuva.
Tarde demais para os risos que iluminavam a penumbra,
para os segredos sussurrados entre lençóis,
para os olhares que fingiam inocência
mas sabiam demais.

O amor se dissolveu na rotina sem poesia,
em datas ignoradas,
em silêncios que gritavam mais alto que qualquer palavra.
Agora ele clama por um espaço que abandonou,
como quem exige abrigo onde nunca construiu morada.

Mas ele já não é teu peso.
Aprendeste a reconhecer o que não te serve:
toques sem calor, olhares sem alma.

Chegou o instante da verdade
de soltar o que te prende,
de romper os laços que sufocam.
Não há mais disfarces.
Teus olhos agora enxergam com clareza,
mesmo que ardam,
mesmo que se despedacem.

Pois há vezes em que a sabedoria
não está em salvar o que se perdeu,
mas em ter a coragem de partir
com dignidade e luz.

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