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Pipoca no Congresso

Esculhambação política se aproxima do caos total

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior*- Foto Antônio Cruz/ABr

Lamentável, mas verdadeiro, poucas ou nenhuma das excelências que povoam câmaras municipais, as assembleias legislativas, a Câmara e o Senado Federal têm algum conhecimento. Por isso, a maioria não sabe o que aprova ou rejeita durante uma votação simbólica ou física em plenário. Muito bem pagos, de forma displicente, debochada e revoltante com o eleitorado, suas altezas votam como se estivessem comendo pipoca enquanto assistem a Sessão da Tarde, o Corujão ou o Programa do Ratinho. Por essa razão, estamos à beira de um colapso político.

O que poderia ser a alegria do povo está bem próximo da esculhambação interna e externa. Como somos incapazes de reações marcantes, temos os políticos que merecemos. E os teremos até que haja um cataclisma no Brasil e 100% do eleitorado seja alterado. Não pode ficar um vagando, pois esse viciará os demais e acabaremos todos de volta ao entediante e macabro cenário que enfrentamos hoje. Assunto das últimas semanas, a devastadora enchente do Rio Grande gerou desgraça física, vitimou mais de uma centena de pessoas, desabrigou ou desalojou milhares delas e mostrou o retrato negro dos parlamentares brasileiros, particularmente os que vagam pela Câmara dos Deputados.

Atual reduto de bolsonaristas de talento duvidoso, mal-amados, mal resolvidos e de mal com a vida pós-mito, a Câmara está apinhada de homens públicos que insistem em avaliar a ignorância como virtude na política e na vida. Por acúmulo de antipatia, me abstive de votar em 2018 e 2022. Foi um erro, pois nunca escondi de mim mesmo em quem jamais votaria. Águas passadas. O preço pago pela minha omissão em 2018 foi altíssimo porque, lembrando a tese de Platão, acabei sendo governado pelos inferiores.

O palco mudou de dono em 2022, mas, mesmo em escala menor, os seres das catacumbas inferiores se mantiveram na ribalta. E, de caso pensado ou exclusivamente para expor o adversário, não estão nem aí para o sofrimento alheio. Preocupado com a gravidade da situação no Rio Grande do Sul, o presidente da República propôs a suspensão por três anos da dívida do Estado com a União. Excetuando os numerosos faltantes que integram a falange bolsonarista, a maioria esqueceu ou preferiu engolir ideologia e aprovou a proposta.

Duas excelências – Stélio Dener (Republicanos-RR) e Eros Biondini (PL-MG) – votaram contra. No dia seguinte, por meio das redes sociais (sempre elas) pediram desculpas, sob o argumento de que erraram ao votar. Coisa nenhuma. Ou não sabiam o que faziam em plenário ou votaram achando que estavam sacaneando o governo federal. Seja lá o que for, mostraram que não são capazes de estar onde estão. Novamente recorro a Platão para reafirmar que “O castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus”.

Adolescente, ouvia dos mais velhos que ainda veria coisas que até Deus duvidaria. Chegou esse dia. Coitados dos sérios, dos alfabetizados e dos preocupados com o Brasil de todos, mas é demais dividir o país com aqueles que teimam em defender Israel por serem cristãos como os israelenses. Embora esse povo tenha cultura limitada e não saiba que o povo de Israel é judeu e não cristão, eles têm título de eleitor e votam. Votaram nos dois deputados, que são a prova de que, quando os temas são religião, ideologia, socialismo e comunismo, a estupidez sobe à cabeça e imaginam tudo isso como uma salada de legumes temperada com vermífugo e laxante. Isso é o bolsonarismo. Os “patriotas” e os políticos que pensam como eles são o efeito dessa mistura.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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