Curta nossa página


Mundo no cadeado

Esporte não combina com autoritarismo e muito menos com intolerância

Publicado

Autor/Imagem:
@donairene13 - Foto de Arquivo

Sempre que vejo notícias sobre grandes eventos esportivos, meu coração bate mais rápido. Gosto da emoção das competições, das histórias dos atletas, da possibilidade de ver o mundo se unindo, mesmo que por alguns dias, em torno de algo que nos encanta: o esporte. Mas nem tudo é torcida e medalha. Tenho pensado cada vez mais sobre um ponto que me incomoda: países não democráticos ou com pouca tolerância à diversidade não deveriam sediar competições esportivas de escala mundial.

Na minha opinião, quando isso acontece, o esporte corre o risco de ser usado como maquiagem. Uma espécie de filtro aplicado sobre realidades que são, na verdade, cheias de violações de direitos. Já vimos isso antes: regimes autoritários que, por algumas semanas, colocam uma fantasia de nação moderna e acolhedora para o mundo assistir. Enquanto isso, do lado de fora das arenas e estádios, seguem o silenciamento, o racismo, a perseguição às mulheres, o desrespeito a estrangeiros e a ausência de liberdades básicas.

Eventos esportivos internacionais, por definição, envolvem a presença de estrangeiros: atletas, torcedores, jornalistas, equipes técnicas. Eles vêm de todos os cantos do planeta e trazem consigo não só suas bandeiras, mas seus hábitos, suas línguas, suas religiões, seus jeitos de ser. Um país que não respeita isso, que seleciona quem entra com base em critérios políticos ou discriminatórios, não pode ser um bom anfitrião.

Estou escrevendo isso porque fiquei especialmente incomodada com duas notícias recentes. A primeira: o boxeador mexicano e ex-campeão mundial Julio César Chávez Jr. foi preso nos Estados Unidos pela imigração e será deportado. Detalhe: ele lutou no país há pouquíssimos dias. A segunda: por ter ido à Cuba em 2023, o mesatenista brasileiro Hugo Calderano teve seu visto negado quando tentou entrar nos EUA para participar de uma competição. Dois atletas, dois episódios lamentáveis.

E ano que vem tem Copa do Mundo nos Estados Unidos, Canadá e México. Diante desses acontecimentos, fica a pergunta: o que vai acontecer quando jogadores, técnicos e torcedores de diversos países forem tentar entrar nos EUA? E se, por algum motivo qualquer, jogadores brasileiros forem impedidos de entrar no país? Como garantir que será uma competição justa se nem todos conseguem chegar até o campo?

Nos tempos atuais, tudo pode acontecer. Sabemos bem que a retórica do presidente estadunidense não prima pelo respeito à diversidade ou pela diplomacia. Não me parece sensato ou responsável confiar que um evento global e inclusivo como a Copa do Mundo possa se desenrolar com tranquilidade num ambiente politicamente instável, autoritário ou xenofóbico.

Esporte é potência, é união, é representação. Mas ele não pode ser usado como ferramenta de propaganda de regimes ou governos que não respeitam os princípios básicos de convivência democrática. Se queremos que os Jogos e Copas continuem sendo momentos de celebração global, precisamos garantir que aconteçam em países que abracem o mundo.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.