Pavão da Paulista
Falsos pintinhos “carijós” do galo mestre têm medo da onça pintada lá do Alvorada
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Referência a todos os seres vivos, incluindo os homens, que se apoiam somente em dois pés para caminhar, os bípedes são um marco da evolução humana, considerando que esse é um dos fatores que nos diferencia de outros animais. O bipedismo ou pidelamismo é mais comum entre as aves. Entre os mamíferos, além do homem, o canguru marsupial também dispõe dessa habilidade. O besteirol sobre a animália é apenas um detalhe. O objetivo é chegar nas semelhanças de gestos e conduta entre alguns de nós e muitos dos bípedes.
Por exemplo, um galo que se imagina com duas cristas e três esporas não admite ouvir que ele não é mais o dono do galinheiro. Cortaram suas asas, mas ele promete recorrer até ao papa Leão |XIV e ao bispo Donald Trump para recuperá-las. Qualquer analogia com aquele ex-presidente que perdeu, mas não larga o poder, não é mera coincidência. E o pavão? Da família dos Fasianídeos e dono de uma plumagem exuberante e de cores intensas, o bichinho lembra da cabeça aos pés um pastor falastrão, amigo que insiste em manter vivo o cercadinho do galo mestre.
Craque no uso de artifícios e até de mentiras para se exibir, contar vantagem e, obviamente, recolher cada vez mais dízimos, o referido pastor é o maestro dos incautos da Avenida Paulista e da orla de Copacabana. Sua “sabedoria” simboliza a beleza, a realeza, o esplendor, a perfeição, a imortalidade, a ressurreição e a elevação espiritual. As dele, é claro. Temos um presidente de partido que não comanda sequer a ex-mulher. Como um papagaio pertencente à ordem dos Psitaciformes, ele é do tipo que só fala, mas nada resolve, porque ninguém quer mais ouvi-lo.
Espécie de ave de rapina da família Falconiformes, o carcará, aquele que mata e come, voa baixo quando necessário e alto para espantar os carrapatos, as cobras e os ratos, principalmente os que querem tomar posse do Norte, do Nordeste e do Cerrado. Embora não viva no Brasil, os cangurus são membros da família Macropodidae, que significa pé grande. Selvagens e mestres da emboscada, eles normalmente se defendem com o rabo e só agem em grupos. Quando questionados sobre suas ações antidemocráticas, se limitam à expressão “kangooroo”, que significa algo como não estou entendendo ou não sei. São inocentes até fugirem.
Nada a ver com o animal, mas, entre os humanos defensores da selvageria, a mentira é tão forte como seu ponto mais fraco, a verdade. O pior dos chamados bípedes são os quatro pintinhos da ninhada do tal galo mestre. Com o mesmo estilo de donos do pedaço, cada um assumiu um poleiro diferente, mas igualmente palaciano e pegajoso. Como na fábula do vendedor de pintos mau caráter, todos foram pintados com lápis de delinear sobrancelhas, de modo a parecerem aves de raça, aquelas do tipo carijó. Rústicas, artesanais e mal feitas, as pintas dos pintos sumiram pouco depois de terem grudado na memória afetiva dos adoradores de mito.
Em tempos de festas juninas, os falsos pintos de raça encontram pelo caminho predadores nem sempre só de penas. Logo nos primeiros dias do início do primeiro terço do voo triplo do carcará de Garanhuns, os “carijós” deram de cara com uma onça pintada sem sanja ou franja, mas que rosna e esturra em busca de uma boa canja. Ligada ao carcará no avião ou fora dele, ela assustou de tal maneira o terreiro que a ninhada passou a piar como as corujas, isto é, somente na calada da noite da poeira vermelha da política de Brasília. Provavelmente com medo da onça pintada em que se transformou a dama que faz dois anos e meio é a primeira, pelo menos um dos “carijós” fugiu antes de se transformar em galinha d’angola. Ou seja, voltou para o ovo que, na prática, é o frango reduzido.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
