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Certezas mentirosas

Farto de churumelas, eleitor deixa de ser a plebe ignara

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto José Dias

Mesmo jamais tendo imaginado emprestar ou ceder meu voto para ele, achei que, ao se investir na faixa presidencial, sua excelência, o tenente elevado à condição de capitão, tivesse alguma ideia do significado da expressão administrar. Governar todos sabiam, inclusive seus eleitores, que seria algo improvável. No entanto, muitos acreditavam que o discurso de bom moço e a força como expelia os gritos contra as mazelas que disse ter encontrado fossem suficientes para que buscasse, por meio de um aprendizado intensivo, fórmulas rápidas e eficazes de tirar do buraco o país que ele diz amar de paixão.

Paixão é sinônimo de apego, entusiasmo e fascínio, mas tem semelhança com alucinação, excentricidade e martírio. Taí a explicação. Não duvido do ardor, mas trata-se de um louco querer, um estranho amor. Como explicar o fato de um presidente candidato à reeleição não pedir votos? Como explicar um mandatário não governar? Como explicar um presidente da República inimigo da maioria esmagadora dos governadores? E o que é pior, como justificar externamente o líder maior da nação desqualificar bens inalienáveis da população brasileira? Factoides? Com certeza. E um atrás do outro. E sempre um mais inverossímil, inconsequente e criminoso do que o outro.

Aliás, consequências não fazem parte do seu cotidiano. Que sofram os bobos da corte. Quanto às explicações e justificativas sugeridas acima, eleito ou não, ele jamais nos dará. Como não tem as necessárias aptidões para o cargo que ocupa e pleiteia reocupar, a estratégia é enfraquecer as instituições e duvidar do que conquistamos, produzimos e, em alguns casos, exportamos. A conquista da democracia é um dos bens inegociáveis. Duvidar das vacinas e questionar a veracidade das informações relativas à inviolabilidade do sistema eletrônico de votação são os novos velhos comandos do mal.

Para nossa sorte, com exceção dos integrantes da seita que nos governa, a massa, também conhecida por eleitor, não aceita mais a pecha de plebe ignara, assim como não engole mais manipulações baratas e destinadas exclusivamente a garantir o sucesso de investidas contra a ordem e as leis. Plantar a sementinha da dúvida onde sempre houve fé é a palavra de ordem. São os casos das campanhas nacionais de vacinação e de nossas urnas eletrônicas. Apesar das insistentes ameaças e mesmo contra a vontade do capitão, a vacina estancou o números de mortes decorrentes da Covid-19. Mesmo assim, contabilizamos 666,1 mil óbitos, entre eles centenas de milhares de brasileiros que preferiram as tubaínas recomendadas por sua excelência.

Utilizadas desde 1996, inclusive pela divindade questionadora, as urnas eletrônicas são realmente invioláveis. Tanto que até hoje, após numerosas investidas e várias demandas judiciais, nunca houve uma denúncia confirmada. Lamentavelmente, quem ataca o sistema e as instituições do país é quem mais deveria defendê-las. Por isso, faço minhas as certezas daqueles que já firmaram opinião a respeito da estratégia do mito. Só pode ser o medo de não ter votos suficientes para se reeleger. E, confirmadas as recentes pesquisas eleitorais, o temor é justificável.

O que não se justifica é querer manter acesas certezas mentirosas, divulgar falsas informações, interferir onde bem entender e achar que, assim agindo, ficará impune. Parece que o principal temor é a lei de causa e efeito. Já imaginaram um capitão que se acha Deus sem mandato? Ser processado pelos ministros que ele ataca sistematicamente? Se o presidente duvida tanto do sistema eleitoral do Brasil por que, quando devia, não escalou técnicos ou hackers do governo para acompanhar os testes produzidos pela Justiça Eleitoral nas urnas eletrônicas? Na falta de argumentos, sobram dubiedades. Realmente é melhor discursar para audição de beócios. Os brasileiros com um mínimo de inteligência estão fartos de churumelas.

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