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Beija-Flor, patrocinada por um ditador, leva susto com o fogo

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A Beija-Flor foi a terceira escola a entrar na Sapucaí na segunda noite de desfiles do Carnaval carioca. Ovacionada pela plateia aos gritos de “é campeã!”, a agremiação de Nilópolis defendeu um enredo patrocinado pela Guiné Equatorial, país africano comandado há 35 anos por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que, segundo a ONG Anistia Internacional, é acusado de violações de direitos humanos, tortura e prisões arbitrárias.

De acordo com uma reportagem do jornal “O Globo”, a escola teria recebido R$10 milhões de patrocínio daquele país. A Beija-Flor não confirmou nem negou o valor. O presidente do país africano é um dos líderes mais ricos do continente e tem imóveis em diversos países, inclusive no Brasil. Na escola, apenas o embaixador da Guiné Equatorial no Brasil, Benigno-Pedro Tang, desfilou. Ele saiu no último carro alegórico. O vice-presidente do país e outras autoridades assistiram ao desfile de um camarote próprio.

Tang negou que o governo de seu país tenha financiado a Beija-Flor. “Foram financiadores culturais”, afirmou. “O governo não tem nada a ver com isso. Somente pessoas do meio cultural”, disse Tang ao jornal O Estado de S. Paulo. “O que a imprensa divulgou é uma soma muito excessiva. Se quiserem, podemos verificar e fazer a estimativa em detalhes em vez de falar no ar”, acrescentou.

Ao final do desfile, Laíla, presidente da comissão de carnaval da Beija-Flor, criticou a imprensa ao falar sobre a polêmica. “Tem tanta coisa para jornalistas se preocuparem, tantas mazelas, e querem pegar o Carnaval, uma escola de samba honesta, de comunidade carente, que vive na miséria, para tirar proveito. É sujo”, disse ele na dispersão, acrescentando que não fala sobre valores. “O país [Guiné Equatorial] é maravilhoso. Nós sabemos fazer carnaval. Eu não suporto política. Eu não falo de política.”

Puxado mais uma vez por Neguinho da Beija-Flor, que comemora 40 anos à frente da escola, o enredo “Um Griô Conta a História: um Olhar Sobre a África e o Despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos Sobre a Trilha de Nossa Felicidade” levou para a avenida alegorias feitas com búzios, palha e sisal. Griô, na mitologia africana, é um contador de histórias orais. Destaque na agremiação, o ator Milton Gonçalves falou sobre a escolha do enredo “O Carnaval é um espaço bom para exaltar nós, negros. É uma pena que só aparecemos nesses momentos.”

A escola teve mais uma vez Raíssa Oliveira como rainha de bateria e também a atriz Claudia Raia como madrinha, representando uma deusa soberana. “Venho com as máscaras africanas fechadas e, quando abre, eu viro a deusa soberana”, disse Raia. “Sempre venho puxando a escola, são 30 anos de Beija-Flor e 30 anos de carreira. É uma paixão enlouquecedora”, completou a atriz. “Foi por isso que eles me deram esse título, que na verdade nem existe. É um envolvimento que tenho com a comunidade há muito tempo.” Os filhos de Raia, Sophia e Enzo, também desfilaram. A menina saiu no carro abre-alas, e o garoto, com a camisa da diretoria.

O carro abre-alas mostrou uma floresta africana e contou com 50 pessoas, 25 mulheres com os seios à mostra e 25 homens. O carro usou 10 mil litros de água para formar uma cachoeira durante o desfile. Em tempo de crise hídrica, Jamaica, integrante da escola responsável pelo efeito especial, contou que a água utilizada é de chuva e foi recolhida em um reservatório no barracão da escola. “Terminando o desfile, vamos retornar com a água para o barracão e reaproveitar de alguma forma.”

A ex-panicat Carol Narizinho desfilou com uma fantasia de R$ 70 mil. “Vou causar na avenida. É meu terceiro ano na Beija-Flor. A cada desfile é uma emoção diferente”, disse. No final do desfile, um dos carros da Beija-Flor sofreu um princípio de incêndio que foi rapidamente controlado.
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