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Lado B da Literatura

Fon-Fon… Lima Barreto abre passagem para apresentar sua obra em antiga revista

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Autor/Imagem:
Cassiano Condé - Foto Editoria de Artes/IA

O retratado de hoje em O Lado B da Literatura é um dos mais geniais escritores que o Brasil produziu. Afonso Henriques de Lima Barreto ousou nascer preto e, pasmem, se tornar autor de vasta obra literária. E, pior, fez uso de sua pena afiada para expor a sociedade hipócrita e elitista de sua época. O preço pago foi altíssimo e, consequentemente, Lima Barreto não teve vida fácil.

Nascido no dia 13 de maio de 1881 no Rio de Janeiro, teve a maior parte de seus escritos publicada somente após o seu óbito, em 1º de novembro de 1922. Era neto de mulheres escravizadas. O pai era tipógrafo; a mãe, professora primária. Esta faleceu quando Lima Barreto contava apenas com seis anos de idade.

A partir dos 25 anos, começou a atuar na antiga revista Fon-Fon, até que resolveu sair e fundar a revista Floreal, sem contar que também escreveu para outras: A.B.C. e a Careta. Levaria alguns anos para que, em 1915, do próprio bolso, bancasse a publicação do seu mais famoso livro, o romance ‘Triste fim de Policarpo Quaresma’, que já havia sido publicado, em 1911, pelo jornal do Commercio.

Nessa época, tornaram-se mais agudas as crises de alcoolismo e depressão do escritor, o que provocou sua primeira internação no Hospital dos Alienados (hospício) em 1914. Como seu quadro se agravou, foi aposentado no finalzinho de 1918, o que não o impediu de publicar o romance ‘Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá´, em 1919, pela editora Revista do Brasil, de Monteiro Lobato.

Lima Barreto tentou, por algumas vezes, entrar para a Academia Brasileira de Letras, sendo preterido nas duas primeiras. Na terceira, talvez desiludido com a associação, desistiu da candidatura antes das eleições. Fico imaginando como é que a ABL pode deixar de fora esse baluarte da escrita, enquanto abraça tantos e tantos nomes pífios. No entanto, ele não foi o primeiro nem o último caso nessa escolha muito mais política do que por mérito.

Crítico contundente, Lima Barreto foi excluído pela elite cultural do país. Uma das frases mais notórias desse gênio ainda ecoa nos ouvidos de quem quer e sabe escutar: “O Brasil não tem povo, tem público.”

Lima Barreto, com a saúde debilitada, faleceu de colapso cardíaco, provavelmente desgostoso e descrente com a falta de visão dos que ditavam as regras do que era ou não aceitável para ser publicado e lido. Tinha apenas 41 anos. Seu legado, apesar de pouco valorizado em sua época, permanece vivo. Um homem atormentado, alguns podem afirmar, mas que balançou a estrutura da literatura nacional.

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Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.

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