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Habemos papam

Fumaça branca do Vaticano contrasta com lama preta produzida por nosso Congresso

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Autor/Imagem:
Misael Igreja - Foto Reprodução MSN News

Depois de quatro votações, a fumaça branca inundou os céus de Roma e do mundo, anunciando um novo papa. Formado no Peru, o norte-americano Robert Francis Prevost, Leão 14, é o novo chefe da Igreja Católica. Talvez por vergonha do que ocorre por aqui, a fumaça branca foi dissipada antes que chegasse ao Cerrado, mais precisamente a Brasília. Habemos papam, mas os ratos continuam soltos nas Capital da República, infestando o plenário, os gabinetes, os corredores e boa parte das galerias do Congresso Nacional, particularmente da Câmara dos Deputados. Na chamada Casa do Povo, vergonha, caráter e ética não são palavras da moda. Muito pelo contrário. Nela, é só lama preta e o vermelho da vergonha do povo.

Os três vocábulos não são produtos disponíveis em prateleiras de supermercados, bancas de freiras livres ou em dicionários mequetrefes de “patriotas”. Caráter vem de berço, ética costuma ser uma herança familiar e vergonha, definida como sentimento de insegurança causado por medo do ridículo, se adquire ao longo do tempo. É um bem que todos deveriam ter, mas, no Brasil, nem todos têm. No Parlamento brasileiro, a cara de pau da maioria se transformou em armadura da vergonha.

Como ratos de esgoto que só conseguem atacar em bando, 315 dos 503 deputados federais aprovaram um projeto que suspende o processo penal em que é réu por tentativa de golpe o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). Ramagem é só o pretexto, pois a intenção dos camaradas da sacanagem é beneficiar Jair Bolsonaro e os demais denunciados pela Procuradoria-Geral da República ao STF. A proposta foi aprovada com amplo apoio dos partidos do Centrão e, obviamente, pela totalidade do PL de Valdemar Costa Neto.

Sabidamente inconstitucional, o projeto terá como destino o arquivo morto da Corte Suprema. As excelências sabem disso. Entretanto, preocupados exclusivamente em jogar para a plateia de comedores de bosta, elas decidiram peitar o Supremo Tribunal Federal, cuja última palavra certamente a de não acatar a decisão personalista, corporativa, bolsonarista, vexaminosa, ufanista, desonrosa, desacreditada e fora de propósito. Ou seja, perderam tempo, gastaram dinheiro público para coisa alguma.

Enquanto lutam para virar o Brasil de ponta cabeça, os abutres sem carniça esquecem que foram eleitos para legislar em benefício da nação e do povo e não da família do ex-presidente Bolsonaro. Uma pena que ainda tenhamos milhares de brasileiros que acham engraçada a palhaçada e o escárnio de parte da Câmara dos Deputados. O que fazer contra um grupo que perdeu de vez a vergonha? Nada, pois onde a vergonha nasce também nascem os expedientes desonrosos.

Triste, mas é a realidade do atual Congresso Nacional, local em que a falta de vergonha envergonha os que têm vergonha. Lamentável, mas, quando se perde a vergonha, o que vier cai bem àqueles que se fingem de mortos para comer o fígado do coveiro, aqui representado pelos milhares de milhões de eleitores sérios e hoje envergonhados com o gentílico de brasileiros. A esses resta esperar 2026. Quem sabe até lá o rugido de Leão 14, o 267º. papa, consiga levar aos nossos congressistas uma dose única de vergonha.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos, políticos, econômicos e sociais

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