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Tá de porre?

General versão 2025 sugere repetir gesto heroico de japonês de ontem

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Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Francisco Filipino

A recente estadia do Bozo em um hospital nordestino me fez lembrar de uma historinha que sempre me encantou.

Brasil, meados dos anos 30. O general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, ministro da Guerra de Getúlio Vargas, visita o Japão, e assiste a uma cena que o marcou profundamente.

Diante da tropa reunida, o chefe do exército nipônico rosna:

– Quem ama o imperador?

Todos professam, aos berros, sua devoção ao deus-imperador.

O general aponta para um soldado na primeira linha e pergunta:

– Você daria sua vida pelo imperador?

– Hai! – brada o soldado. Pega a lâmina da baioneta e a crava no abdome, morrendo com dores terríveis.

Meses depois, Góis Monteiro recepciona o ministro da Guerra japonês. O brasileiro concebe um plano destinado a evidenciar o amor a Getúlio por parte da tigrada. Finge escolher, entre a soldadesca, um recruta conhecido por acreditar piamente nos lugares-comuns difundidos pela propaganda governamental, do tipo “Doutor Getúlio, pai dos pobres, protetor das viúvas e criancinhas” e por aí vai. Coloca-o na primeira linha e pergunta:

– Soldados, quem ama o Dr. Getúlio?

Risinhos ressabiados. Proclamar amor por macho, no Brasil dos anos 30, pega muito mal. Góis Monteiro desce do palanque, aproxima-se do soldado getulista e insiste:

– Soldado, você não venera o Dr. Getúlio?

O soldadinho não sabe ao certo o que significa venerar, mas pelo menos não é amar outro macho. E percebe qual deve ser sua resposta.

– Sim, general, Dr. Getúlio é o pai dos pobres, o protetor das viúvas e criancinhas…

– Você daria sua vida por ele? – e baixinho, no ouvido do reco:

– Vamos, pegue seu revólver e dê um tiro na cabeça por ele!

O soldado o escuta, incrédulo e solta a frase que o imortalizaria, não nos livros de história, mas nos do anedotário popular:

– Porra, general, nove horas da manhã e o senhor já tá de porre?

Vamos agora pro Brasil de 2025. Bozo, inchadinho e internado, recebe a visita de um de “seus” generais, um dos envolvidos na tentativa de golpe pós-derrota eleitoral de 2022.

– Obrigado pela visita, general – diz com voz de dodói o golpista-mor.

– De nada. Só que vim por outro motivo, uma última tentativa de virar a mesa. Seguinte, tu já tá ferrado, bate as botas qualquer dia desses ou vai pegar antes uma cana pesada. Que tal levar contigo a petralhada, derrubar o governo do novededos?

– ???

– Seguinte, mando um kid preto infiltrado no PT, sobraram alguns, pra te matar. Ele usa uma camisa vermelha e grita coisas do tipo “viva a Ursal, a União das Repúblicas Socialistas da América Latina”, pra ninguém ter dúvidas que é petista dos cascudos. Tu morre, ele é preso, diz que a ordem de te matar veio do novededos, o governo cai e tu se torna um mártir da direita brasileira. Que tal?

Bozo o escuta, incrédulo, e parafraseia o soldadinho de Góis Monteiro, evidenciando que, no Brasil, a história não se repete duas vezes, e sim três, a primeira como tragédia, a segunda como farsa e a terceira como pornochanchada cabeluda:

– Porra, general fiodeumaégua!! Nove horas da manhã e tu já tá de porre?! Vá se ferrar!!!

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