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Direito de todos

Governo banca prazer da caserna com chapéu alheio

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior* - Foto de Arquivo

Assim como os ministros de tribunais superiores jamais conseguiram explicar de forma convincente a necessidade do queijo brie no chá servido nos intervalos das duas sessões semanais, o governo extremamente honesto nunca convencerá o povo que passa fome da obrigação de tratar seus representantes com filé mignon e leite condensado. Pior é tentar dar ares de normalidade à compra eleitoreira de 60 próteses penianas e 35 mil comprimidos de Viagra para os senhores das Forças Armadas. Ativos ou inativos, o tipo de compra indica o público usuário.

Supostamente são militares da reserva, naturalmente os de alta patente, alguns ainda atuando em órgãos representativos ou mesmo na administração federal, mas todos com vantagens e salários muito acima da média do trabalhador brasileiro. Como os receptores desses mimos têm poder aquisitivo superior ao da massa, a pergunta a ser feita é simples: por que eles mesmos não compram seus brinquedinhos e remedinhos milagrosos? A exemplo de todos da minha geração, serei obrigado a arcar com os custos da sobrevivência molecular quando atingir à fase da paumolescência.

Isso se quiser permanecer na ativa. Felizmente, minha performance revela que ainda estou bem distante dessa maledeta etapa da vida. Antecipando-me às críticas ou a eventuais comentários maldosos a respeito de minhas intimidades, informo que não sou o mote da narrativa. Na verdade, reitero que ainda levarei tempo para estar nessa berlinda azul. A intenção é me incluir na extensa relação de pessoas que se opõem à doação (com chapéu alheio) de produtos ou componentes artificiais para suprir necessidades e funções de indivíduos que, pelo tempo, pela falta ou excesso de uso, perderam a capacidade para determinadas lascividades.

Entendo que todos – eu disse todos – têm direito à carnalidade, à concupiscência. São desejos que deveriam ser imorríveis. O problema é que, chegado o dia, não há cerol capaz de manter a pipa no ar. E o que fazer? Além da criatividade, cada um deve se virar como pode. Afinal, um dos maiores prazeres da vida é fazer aquilo que um dia disseram que você não seria capaz. De volta à realidade, como faltam recursos à maioria do brasileiro, o normal é que se busque satisfação parcial ou plena em órgãos ainda vivos do corpo.

O que não se concebe é promover doações de próteses penianas e comprimidos de Viagra como se fossem cestas básicas. O mais grave é o governo de todos escolher, por decreto, a meia dúzia de patriotas que, mesmo sem vigor, permanecerá gozando a vida com prazer quase real. Triste, mas verdadeiro. Tudo isso nos leva à seguinte reflexão: Qual a graça de ser normal, de ser do bem? Afinal, os loucos é que são destaques. As benesses são sempre para os que só cuidam de si. Apesar da dúvida, insisto na tese de que não são as decisões que mudam a vida. São as atitudes. As minhas não mudam conforme o senhor. Independente da medida eleitoral acabando com a emergência para a Covid, manterei a máscara e a vontade de viver livremente.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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