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Folclore

Halloween passou, mas nosso Saci é eterno

Publicado

Autor/Imagem:
André Carlos Zorzi

Junto ao Halloween, em 31 de outubro, data celebra personagem marcante do folclore brasileiro. O dia 31 de outubro, além do conhecido Dia das Bruxas – ou Halloween – também tem espaço no Brasil para o Dia do Saci Pererê.

No Estado de São Paulo, o dia existe oficialmente desde 2004. Em âmbito nacional, um projeto de lei chegou a ser proposto na câmara dos deputados em 2003, mas não foi adiante.

A origem
De acordo com o livro Saci, o Guardião da Floresta, de Mouzar Benedito, são destacadas mais de uma versão sobre a origem da lenda.

Em uma delas, fala-se de uma festa no inferno em que as figuras demoníacas teriam ficado bêbadas e, com isso, diversos “capetinhas” aproveitaram para fugir. O diabo, então, ficou bravo e fez com que todos retornassem. Apenas um teria permanecido em nosso mundo, justamente o Saci, fazendo suas traquinagens.

Em outra, o personagem surgiria de dentro de gomos de taquaruçu, uma espécie de bambu, em noites de tempestade. Seriam sete em cada um deles, e cada um viveria 77 anos.

Uma terceira versão indica que o Saci seria um jovem índio, que tinha as duas pernas, não usava gorro e nem fumava, como boa parte das lendas. Protetor da floresta, ajudava os bons indígenas que se perdiam por ela.

Na tese de doutorado pela USP O Saci da Tradição Local no Contexto da Mundialização e da Diversidade Cultural, de Maressa de Freitas Vieira, analisa-se a possível origem do nome da lenda:

“De acordo com Mouzar (2007), o nome Saci-Pererê deriva do tupi: çaa-cy (‘olho ruim’) + perereg (‘saltitante’). Entretanto, isso parece apenas uma suposição.

Conforme Rodrigues (1890), Çacy significa ‘mãe das almas’. Seria uma derivação de hang-h-açã (‘almas’) + cy (‘mãe’). O nome Pererê seria uma variação de Tapeperê: tape pe (‘no caminho’, ‘estrada’) + he (‘sair’), que por eufonia originou Tapeperê.

Dessa maneira, temos o nome Saci Pererê derivando de Çacy Tapeperê e que, para Rodrigues, significa ‘a mãe das almas que sai nos caminhos ou nas estradas'”.

O estudo ainda destaca que muitos, à época, não entendiam a pronúncia feita pelos índios, o que gerou diversas outras formas de dizer o seu nome.

O Inquérito
Em 1917, Monteiro Lobato lançou o “Inquérito do Saci” nas páginas do Estadão.

Na época, o jornal abriu espaço para “investigação” sobre a lenda, pedindo aos leitores “um depoimento honesto” sobre como a pessoa conheceu o mito do personagem, quais histórias tivessem ouvido sobre ele e qual sua “forma atual” no local onde vivem.

A publicação destacava a mistura de elementos para compor a lenda, conforme consta no Estadão de 28 de janeiro de 1917:

“Das nossas criações populares, a mais original é o Saci-Pererê. Vem do autóctone que lhe deu o nome atual, corruptela de “Ças Cy Perereg”. Sofreu o influxo do africano passando de caboclinho a molecote. Modificou-se por injução da física portuguesa. O mestiço meteu nele muitas coisas de seu. Acabará ainda sofrendo a influência do italiano, talvez…”

“O Saci está na moda. Deve-o, sem dúvida, ao nosso distinto colaborador, Monteiro Lobato, que lhe dedicou dois artigos, abrindo, nas nossas colunas, um inquérito que está despertando, como era de prever, muita curiosidade”, constava na publicação de dias depois, em 30 de janeiro de 1917.

O resultado foi reunido no livro O Saci-Pererê: Resultado de um Inquérito. Também houve uma exposição em 18 de outubro daquele ano, na rua Libero Badaró, nº 111, com pinturas e esculturas referentes ao personagem escolhidas em concurso.

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