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Farofa e fofoca feia

História sem moral é o pinto piar na maria-mole com o rabo totalmente de fora

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Desde a primeira visão ilustrativa do coiso na coisa, Amado Amoroso Amável Pinto nunca mais foi o mesmo. Amin Amou para os mais chegados e Tripé para os mais íntimos ou íntimas, o amigo nasceu um cara do bem. Perdeu os rótulos oficiosos de amado e de amável no dia em que, adentrando o sagrado lar, percebeu na masmorra erótica que preservava como algo improfanável um macagafo macagafando sua endeusada macagafinha, a senhora Primorosa Testa dos Prazeres. Como um rato roendo a roupa do rei de Roma, saiu às ruas disposto a fugir para a Rússia e também roer a roupa refinada de renda roxa da rainha raivosa.

Em tempos de Perestroica, não conseguiu passar da cidade onde o doce mais doce é o doce de batata doce. Voltou à casa e, ao olhar debaixo da cama, notou que, além de uma lingerie desbotada, havia uma jarra e dentro da jarra tinha uma aranha. Antes que fosse informado que tanto a aranha arranha a jarra quanto a jarra arranha a aranha, decidiu chupar o caju do Juca, beliscar a jaca da Juju e morder o caqui da Cacá. Do maracujá, jamais tinha visto o mara. O resto já. Daí para frente foi só esculhambação. Desde a descoberta de que dona Testa lustrava o dedo duro do Dudu, Amável Pinto foi informado que a farofa feita com sua farinha fofa estava rendendo uma fofoca feia.

Foi aí que resolveu viver como o sábio sabiá, aquele que sempre soube que sabia assobiar. Com apoio dos vizinhos Rolando Caio da Rocha e Félix Feliz Felizardo, se imaginou no mundo como um papa papando pão, algo como o vovô que confundiu a vulva da viúva com a uva da vovó depois que o avião passou voando. Pouco letrado, mas de criatividade pai d’égua, Amin Amou saiu pelo mundo aplicando a máxima popular de que, quando toca a retreta na praça repleta, se cala o trombone e se toca a trombeta. Como uma pulga na balança, deu um pulo e caiu na França. Em terras napoleônicas, usou e abusou dos conhecimentos originais, aqueles que não se desoriginalizam.

Magro, maneiro, cheio de mistérios e com dedos destemidos dedilhando divinamente teclas definidas, o amigo se tocou de que a vida é muito socó para um socó coçar. Contou, descontou, orou, sapateou, cantou sem desafinar e partiu para esquecer aquela que o havia mostrado que a rua de paralelepípedo é toda paralelepipedada. O problema é que o tempo passou e ele não teve tempo de perguntar ao tempo quanto tempo o tempo tem. Mais uma vez, parou, sentou, novamente orou e, como um gato escondido com o rabo de fora, se deu conta de que, do mesmo modo que o papa que papa tudo é um papa papão, ele passaria a ser como o sujeito da pipa que pinga, aquele que quanto mais o pinto pia mais a pipa pinga.

Com o fole fedido do velho Félix nas costas, voltou ao Brasil e se enfiou São Paulo adentro. Copiando o pobre pintor português, o mesmo que não captou que a grande obra do mestre Picasso nada tem a ver com o grande Picasso do mestre de obras, passou a usar e abusar de seus pendões de menino. Do vizinho Caio da Rocha tinha algumas boas lembranças, como a história de que o amendoim sempre tem alguma serventia. Também não havia esquecido o abestalhado, mas talhado conselho de que, às vezes, nem é tão duro ficar velho. E ele ficou, mas nunca perdeu a esperança de sonhar o sonho sonhado com o bispo de Constantinopla. A ideia idealizada era ser desconstantinoplatanilizado. E foi, sem a necessidade de confundir o ornitorrinco com o otorrinolaringologista.

Naturista e natural por natureza, Amoroso Pinto atinou que a Maria-mole é molenga. E se não é molenga, é coisa malemolente, nem mala, nem mola, nem Maria e nem mole. De volta às origens, pregou um prego na porta preta, socou socó no saco e esqueceu de vez a vaca malhada que foi molhada pelo boi malhado. Como quem cochicha o rabo espicha, quem escuta o rabo encurta e quem reclama o rabo inflama, o camarada de uma jornada inexistente trocou o tacho sujo pelo chuchu roxo, expulsou o gato, matou o rato e fugiu com o pato. Depois disso, soube que o amado e amoroso amigo se encontrou, perdeu o último sobrenome e, enquanto durou, viveu feliz ao se certificar de que o peito do pé e o pinto do Pedro é preto. A moral da história é aquela que todos imaginam: Toco preto, porco crespo, corpo fresco. Se vaivém fosse e viesse, vaivém ia, mas como vaivém vai e não vem, vaivém não vai. Amin Amou decidiu amar diferente até que esqueceu de vez o Amável Pinto.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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