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Hora do resgate

Homem de mentira teme (até no Judiciário) a mulher de verdade

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Armando Cardoso - Foto Marcello Casal Jr

Metade da população mundial é formada por mulheres. A outra metade são filhos delas. Mesmo assim, segundo Oscar Wilde, a história feminina é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte. E será sempre assim até que os machos consigam entender o texto literal do artigo 5º. da Constituição Federal de 1988. Está lá escrito que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações.

Além de ser um direito humano, a igualdade entre os sexos é considerada um dos pilares para a construção de uma sociedade livre, o que é crucial para acelerarmos o desenvolvimento sustentável. Empoderar mulheres e meninas tem um efeito multiplicador e colabora com o crescimento econômico e com o progresso. É claro que a tese do empoderamento ainda é utópica no Brasil dos contos de final triste.

A verdade nua e crua é que, entre o Brasil da teoria e da praticidade, há uma nação entulhada de discursos e projetos repetitivos, mentirosos e enganosos em favor da paridade de gêneros. São entulhos produzidos por aqueles que, a exemplo da seca do Nordeste, jamais torceram de fato por uma solução equitativa. Não tenho propriedade para falar efetivamente sobre ser mulher há 100 anos, seis meses ou há duas horas.

Todavia, tenho obrigação de, reproduzindo Leon Tolstói, afirmar que a mulher é uma substância tal que, por mais que a estudemos, sempre encontraremos nela alguma coisa nova. É chegada a hora de começarmos a resgatar nossa impagável dívida com as mulheres. Como? Simples. Além de amá-las e respeitá-las dia e noite, não existe razão para esperarmos o dia 8 de março para presenteá-las com flores.

Gargantilhas de ouro e cravejadas de diamantes estão fora de moda desde que a Luluzinha do Cerrado ganhou uma das arábias. Mulheres, nossas rainhas, todos os dias são seus. Se me permitem, queremos ser seus eternos súditos. Sem demagogia ou hipocrisia, ser mulher é ser forte por natureza. Não me pronunciei antes porque estou fugindo do algarismo 8 como as urnas eletrônicas fugiram de um mito fajuto. Tudo para nunca mais lembrar da safadeza com a República naquele dia de janeiro.

Criada a partir de uma costela de Adão, a senhora, a dama, a moça, a menina, a jovem, garota ou a cidadã sempre será uma Linda Mulher. E será porque a condição das mulheres em uma nação é a verdadeira medida de seu progresso. Maioria como cidadã, eleitora e como profissional ativa, a mulher provavelmente está bem próxima de ultrapassar os varões no quesito chefes de família.

Apesar de todo esse poderio e igual conhecimento técnico, o público feminino ainda sofre com o terror do machista fracassado. Por mais que não admitam, o maior medo dos homens em relação às mulheres é que elas riam deles. Elas não sofrem dessa babaquice, mas temem que eles as matem. E isso, infelizmente, virou modismo no mundo moderno.

Pois é justamente essa modernidade que tem assustado os machos inseguros, principalmente os que se acham imbrocháveis e os que se sentem pressionados a colaborar de maneira mais efetiva do que a mulher no item dinheiro. Esquecem que a cumplicidade é sinônimo de casal. Se ela não existe, não há relação. Ampliando a discussão sem a necessidade de impor às mulheres carregar sacos de cimento nas costas ou descarregar caminhões de ferragens para sugerir igualdade, é preciso lembrar que direitos iguais não são direitos especiais.

Depois de um governo misógino, deselegante e preconceituoso, finalmente um presidente brasileiro pensou na igualdade salarial entre homens e mulheres que exerçam a mesma função. Ainda que tardiamente, Luiz Inácio enviou ao Congresso um projeto de lei propondo o fim dessa aberração. Para completar o quadro igualitário, as mulheres têm o direito de ocupar mais espaços na política, na arbitragem de futebol e nos tribunais.

No quadro de desvantagens, a representação feminina é inferior a 20% no Congresso Nacional e não passa de 12% nas 5,568 prefeituras brasileiras. E comprovadamente não lhes falta competência. Em breve, Lula terá nova chance para corrigir uma outra importante anomalia entre gêneros: a do Poder Judiciário. Juntos, os cinco tribunais superiores (STF, STJ, TSE, TST e STM) têm 93 ministros, dos quais somente os dois juristas do TSE não pertencem ao quadro fixo da magistratura.

Desse total, apenas 16 são mulheres. Trágico não fosse cômico. No mês da mulher, uma representante negra, a advogada Vera Lúcia Araújo, está cotadíssima para uma das duas cadeiras que ficarão vagas este ano no STF. Vera Lúcia deverá ocupar a do ministro Ricardo Lewandowski. O STJ também terá duas vagas ainda neste semestre, uma delas destinada à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Dos seis nomes a serem encaminhados ao Tribunal da Cidadania, o da advogada Daniela Teixeira certamente estará entre os três que serão apresentados ao presidente da República.

É aí que Lula terá a oportunidade de corrigir mais uma das ignorâncias de Jair Messias contra a mulher. Primeira da lista em 2019, Daniela foi vetada por um motivo prá lá de mesquinho: a suposta vinculação da brilhante advogada ao petismo. Claro que a razão foi mais profunda. Afinal, historicamente Bolsonaro tem horror e foge das pessoas mais inteligentes. No caso das mulheres, o horror vira terror. A deputada Maria do Rosário que o diga. É aquela velha máxima de que homem de mentira tem medo de mulher de verdade. Esses tipos andam esquecidos de que até para nascer o homem precisa de uma mulher.

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