Vergonha nacional
Improvável anistia não deve livrar Bolsonaro de uma nova derrota em 2026
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A repetição da vitimização política não cabe mais no Brasil. Não deveria caber, mas até a página dois da cartilha do ex-presidente Jair Bolsonaro é somente o que está posto. As demais páginas estão em branco ou tratam exclusivamente de buscar mecanismos para aliviar ou acabar com as penas dos golpistas de 8 de janeiro de 2023. De triste lembrança para o país e para o mundo, quase dois anos e meio após o fracasso de seus idealizadores, o vandalismo terrorista contra a República e contra seus principais símbolos permanece na ordem do dia.
A tristeza é maior quando notoriamente a maioria do Parlamento e das chefias de executivos estaduais continua tratando a barbárie como uma brincadeira de brasileiros robotizados e infelizes com a derrota do ídolo Mais do que idoso, um mito de folha de jornal, aquela que, no dia seguinte, não serve sequer para embrulhar peixe podre. São os mesmos que, entre perdidos e maliciosos, não se demoram na contemplação do bem, pois só se imaginam fazendo o mal.
A pretexto de lutar contra um anjo demonizado pelos desprovidos de eficiência e do senso de coletividade, os enviados do umbral agonizam, mas não recuam do insano apoio a um falso líder, cuja sede de poder é hoje proporcional à vontade de se vingar de todos os que o investigaram e o julgaram. Associados aos deputados e senadores que, como autores de folhetins de quinta categoria, se apegam às vulgaridades da Terra, os chamados “patriotas” cerram fileiras com o servo do ódio e não se escandalizam com a desmoralização de suas antigas propostas políticas.
No Brasil e no mundo, a oposição faz parte do jogo político. Nessa altura do século 21, o que não se concebe mais é o fato de parlamentares votarem contra o governo em projetos sabidamente benéficos para a população somente para agradar e tentar salvar a pele do chefe, que, caso beneficiado pela anistia, dificilmente se lembrará de que eles existem. Foi assim, é assim e assim será. Que o digam seus antigos colaboradores. Os que não se elegeram, estão fugidos, “asilados”, presos ou no mais absoluto ostracismo.
Além de uma aberração política, anistiar terroristas golpistas seria a maior contradição daqueles que foram eleitos pelo povo na mesma eleição limpa e segura que o presidente que querem derrubar. Como li recentemente, salvar um grupo que luta pelo retorno da ditadura é tão absurdo como negar que a Terra é redonda. Não tenho poderes futuristas, mas apostaria na afirmação de que, mesmo eventualmente anistiado, Jair Bolsonaro não terá mais os votos da maioria dos brasileiros, notadamente os nordestinos que sempre destratou.
Ou seja, a improvável anistia dificilmente livrará o ex-presidente de mais uma derrota eleitoral. Com todas as vênias aos “patriotas”, eu me incluo nessa extensa lista de eleitores cansados de constrangimentos políticos internos e externos. Paralelamente à vitimização, o Brasil de hoje não aceita mais mandatários doentes pelo poder. Basta a obrigação de ler e ouvir os destemperos e as loucas elucubrações de Donald Trump, o idolatrado Tio Sam dos que defendem a vergonha nacional.
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Misael Igreja é analista político de Notibras
